quinta-feira, abril 29, 2004

A PAIXÃO DO FUTEBOL

Lembro-me bem do primeiro desafio de futebol que segui do início ao fim na televisão. O Benfica jogava contra o PSV Eindhoven. Já não me lembro do que estava em causa (nem sequer acho que alguma vez soube), mas era um jogo importante, já que, nesse dia, estava toda a gente em polvorosa na minha escola primária, ansiosa por ver o jogo dessa noite.

Rapazelho imberbe na altura, não quis ficar indiferente à euforia geral – iludido e imaturo, procurava desesperadamente a aceitação social como meio para atingir a felicidade e pensava que tudo dependia da minha predisposição em correr lado a lado com a carneirada. Portanto, abracei a causa com sinceridade e juntei-me ao entusiasmo colectivo. Em casa, nessa noite, segui o desafio com genuína devoção.

O Benfica perdeu. E eu sofri horrivelmente durante todo o jogo e, no fim, chorei amargamente a derrota. E foi essa a última vez que me entreguei com paixão ao futebol. Fiquei tão chocado com a minha reacção, que decidi nunca mais me entregar de modo tão doloroso a algo tão inútil. Caramba, se era para chorar, mais valia fazê-lo por algo que realmente valesse a pena!

Sempre fui incapaz de compreender o fanatismo gerado à volta do futebol. Apesar da tenra idade, bastou-me um único jogo para me aperceber das consequências funestas e auto-destrutivas da causa e imediatamente a banir da minha vida. Durante longos anos tentei perceber o que levava uma pessoa a dedicar-se tão persistentemente a uma paixão tão irracional e de benefícios tão falhos de realização e/ou engrandecimento pessoal. É de louvar nos tempos que correm, de Amor Descartável, a pertinácia com que estes apaixonados passam uma vida inteira agarrados ao amor por um único clube, contra toda a Lógica e Razão e não obstante incontáveis aflições, mentiras, desilusões e humilhações. É que nem sequer as vitórias, a meu ver, justificam tamanho amor. Em que é que elas contribuem para a vida do adepto? Em nada! Nada de nada! Nem para melhor, nem para pior. A sua vida fica exactamente na mesma! O mesmo emprego, o mesmo salário, o mesmo cônjuge, os mesmos filhos, a mesma rotina de sempre... Porquê, então, tamanha paixão?...

A resposta, no fundo, é clara e basta olhar com olhos de ver para um desses novos estádios do Euro 2004 para se começar a desvendar. Antigamente, as obras arquitectónicas de maior envergadura eram dedicadas ao ofício religioso, que estava colocado acima de todos os outros poderes, incluindo o administrativo e o militar. Em qualquer aglomerado urbano, a maior e mais magnificente construção arquitectónica era o templo. E hoje em dia? É o estádio! Qual é a característica arquitectónica mais marcante de um estádio de futebol? A sua dimensão, ou melhor, a sua escalagrandiosa, comparativamente aos edifícios circundantes. A subtil diferença é que, enquanto a escala monumental do templo se assume como consequência imediata do carácter divino do exercício do Poder Superior – o mais Alto entre todos! – que o edifício alberga, o estádio procura uma divinização do poder que representa pela monumentalidade da sua escala. Por outras palavras, o templo é grande porque é divino, enquanto o estádio é divino porque é grande.

Seja como for, a diferença é tão subtil que, para o comum mortal, acaba tudo por se resumir ao mesmo. Assim sendo, não é por acaso que qualquer aficcionado do futebol apelida o estádio do seu clube de “catedral.” “A catedral,” para ser mais exacto, numa demonstração inequívoca do hiato que separa a sua religião – a genuína, a verdadeira – das outras – inferiores e meras impostoras.

O fanatismo pelo futebol não é mera questão de paixão. É questão de . Mais que uma paixão, o futebol é uma religião. Por esse motivo, a paixão pelo futebol não obedece nem à Lógica, nem à Razão. Porque, tal como todas as religiões, é sustentada pela . E a fé, ou se tem... ou não.

sábado, abril 24, 2004

“BELLEVILLE RENDEZ-VOUS”

Vou ao cinema com alguns bons amigos. O filme escolhido é “Belleville Rendez-Vous,” ou “Les Triplettes de Belleville” (no original), de Sylvain Chomet. Animação francesa, datada de Junho do ano passado, vencedora de alguns prémios e nomeada para os Óscares (saibam mais em www.lestriplettesdebelleville.com), o filme conta a história de uma família, curiosamente de origem portuguesa, emigrada em França, formada por três elementos: o neto, Champion, que ama o ciclismo, a avó, madame Souza, que ama o neto e tudo faz para o ver feliz, e o cão, Bruno, que ama ladrar aos comboios e comer os restos deixados pelo Champion.

O argumento do filme é simples e algo linear. Durante uma etapa do Tour de France, Champion, juntamente com dois ciclistas desistentes, é raptado por membros da Mafia Francesa e levado clandestinamente para Belleville, na América, para ser usado em jogos ilícitos (e inumanos) de apostas. Madame Souza, constantemente acompanhada pelo fiel (e gordo) Bruno, segue os malfeitores até à América mas, aí, devido ao bulício da grande metrópole, perde-lhes o rasto. Felizmente, devido à paixão comum pela música, contrai amizade com as Triplettes, antigas estrelas do mundo do espectáculo, que lhe oferecem assistência na sua operação de resgate.

Ao argumento simples e linear é contraposta uma profusão ao nível dos pormenores e é que reside a riqueza do filme. A acção está toda centrada na acção – os gestos, os movimentos, os rituais diários e, enfim, a interacção de cada uma das personagens com as outras são-nos apresentados com uma eloquência que revela muito acerca dos detalhes da personalidade de cada uma e ultrapassa em muito as meras palavras. Talvez por isso, as personagens quase não falem umas com as outras. O olhar e o gesto falam mais alto.

No entanto, mesmo desprovido de diálogos, o filme não é uma seca. Há sempre muito para seguir em cena e não há nada deixado ao acaso. De resto, o filme é lindo, com uns décors fabulosos, umas cores vibrantes e uns gags geniais, tudo embrulhado numa estética de caricatura. De resto, tudo ali é caricaturado – desde os edifícios, as ruas e, em suma, a cidade, passando pelos automóveis e barcos e terminando nos animais e, claro, nas próprias pessoas. Todos os americanos, por exemplo, são imensamente gordos (incluindo a própria Estátua da Liberdade!), os guarda-costas da Mafia Francesa são, literalmente, uns armários e o maître d’, de tão emproado, tem a cabeça toda atirada para trás e quase toca no chão. Genial!

Classificação geral: a não perder! E a ver rápido, que deve estar quase a sair de cena. Preferencialmente, com companhia – afinal, as coisas boas tornam-se melhores quando são partilhadas.

quinta-feira, abril 22, 2004

OS GAJOS QUE ELAS ESCOLHEM

É normal ouvir as mulheres reclamar dos homens. Somos sempre tudo o que de pior existe à face da terra: egoístas, insensíveis, convencidos, brutos, estúpidos, porcos e fracos. E infiéis, claro. Pela minha parte, contudo, nunca me senti minimamente identificado por esta definição. Por esse motivo, irritava-me profundamente este tipo de generalização. Mas, hoje em dia, já não. Elas têm razão.

Não me interpretem mal. Continuo a não me sentir minimamente identificado pela definição. Simplesmente compreendo melhor o que elas querem dizer (e, se calhar, até melhor que elas próprias): elas limitam-se a falar daquilo que conhecem. E, de uma maneira geral, os gajos que já lhes passaram pelas mãos são exactamente aquilo que elas os acusam de ser.

O gajo que tem mais sucesso com as raparigas é normalmente aquele que as tem em menor consideração. Arquétipo do macho dominador, ele é egoísta, selvagem e cruel. Para ele, todo o Universo gira à volta do seu umbigo. Não tem consideração pelos sentimentos de ninguém, salvo pelos dele próprio, e divide as mulheres em duas categorias: a daquelas que ele comeu e a daquelas que ele vai comer. Elas, iludidas, admiram a sua imensa “auto-confiança,” que o faz dominar tudo e todos. Porque a elas atrai o gajo que é seguro de si e não há ninguém que lhes pareça mais seguro de si próprio que esta besta.

Como é que elas se deixam iludir por este animal? Simplesmente porque ele possui... o Factor Piu-Piu! Eu explico: o Piu-Piu, como toda a gente sabe, é aquele passaroco cabeçudo amarelo que passa a vida a infernar a vida ao pobre gato Sylvester. É irritante, sarcástico, cruel e um sacana nojento desprovido do mínimo escrúpulo, mas as meninas adoram-no porque ele é queridinho e encantador e fala à bebé (característica altamente detestável). Cegas para os seus defeitos, elas chegam a justificar o seu comportamento diabólico e vingativo com a acusação de que o gato é que é o mau, por tentar constantemente comê-lo! Ora, que raio de culpa tem o pobre Sylvester da Natureza o ter criado gato e predador? O cabrão do pássaro é que é contranatura, já que não se deixa comer, como lhe dita o papel que lhe compete na hierarquia da cadeia alimentar!

Seja como for, o que interessa realçar é que, exteriormente, e apesar de todos os seus defeitos, o gajo que come todas as gajas é altamente encantador. Pode ser lindo e vestir bem, ou ter um bom carro ou uma boa mota, ou falar bem e mostrar muito à-vontade com as pessoas e o mundo em redor. Pouco importa. Há é necessariamente algo que o destaca da multidão. E o torna cativante.

No extremo oposto a este, está o gajo Sensível. Como o próprio nome indica, ele é sensível, romântico, leal, idóneo e tem em enorme consideração os sentimentos dos outros. Ou, neste caso, das outras. É o Homem Perfeito. Mas, não se deixem enganar: ele é um triste e não come gaja nenhuma. Porquê? Porque, com todos os seus bons sentimentos, raros são os Sensíveis que não se deixam pisar pelas gajas. Podem ser maravilhosos e nutrir sentimentos verdadeiramente nobres para com as raparigas, mas, para elas, são apenas fracos. E elas gostam é daquele que lhes dá luta, que as mete na ordem quando elas se excedem, que manda um berro quando lhe pisam os calos. No fundo, aquele que tem amor-próprio e que elas podem respeitar. Não um capacho. Capacho é que serve para pisar.

Infelizmente, como elas não conseguem distinguir amor-próprio de egoísmo, estão condenadas a deixar-se iludir (e comer) pelos Piu-Pius deste mundo, que as usam e deitam fora e ainda se ficam a rir da cara delas. Porque sabem que elas estão desesperadas para encontrar quem as ame e que tudo farão em prol desse amor. Até mesmo dar-lhes outra oportunidade... de as enganar.

quarta-feira, abril 21, 2004

AS VOLTAS DA SALSA

Aprendo Salsa desde o mês passado. Hoje, antes sequer de iniciar a aula, o professor de Salsa pergunta: “Quem acha que melhorou bastante a coordenação motora desde que começou a ter aulas de Salsa?” Os alunos entreolham-se, indecisos e, aqui e ali, levantam-se algumas mãozitas tímidas da massa de gente. Na ala esquerda, onde eu estou, contudo, ninguém se move. O professor decide refazer a pergunta: “Quer dizer, quem acha que melhorou um bocado a coordenação motora desde que começou a ter aulas de Salsa?” Mais algumas mãos no ar; ala esquerda, zero. O professor olha de soslaio na nossa direcção e começa a mostrar-se desconfortável: “Então, quem acha que aprendeu a mexer-se melhor?” Quase todas as mãos no ar, excepto na ala esquerda, que continua a zeros. O professor, em desespero de causa: “OK, quem acha que aprendeu alguma coisa?...” “Ah!” responde a Lena, “Aprendi Salsa,” e levanta a mão. E, com ela, toda a ala esquerda, concordante e sorridente, levanta a mão. O professor, é desnecessário dizê-lo, é a imagem perfeita da frustração.

A inflexível ala esquerda, convém referi-lo, é formada pelos alunos da aula de Danças de Salão, a maior parte já com largos anos de experiência. Eu, por exemplo, conto mais de seis anos de dança e a Lena já contava três quando eu me iniciei na arte! Portanto, não é, seguramente, com apenas mês e meio de aulas de Salsa de uma hora por semana que este rapazola, por muito bem intencionado que seja, pretende melhorar minimamente a nossa coordenação motora, ou o que quer que seja. As suas perguntas são boas para os pés-de-chumbo que nunca dançaram nada de jeito na vida, não para esta malta calejada de muitos anos de dança.

Sinto uma ponta de animosidade da parte do professor de Salsa durante o resto da aula. E não é para menos. O gajo levou-as todas juntas, coitadito, mas a verdade é que estava mesmo a pedi-las. Colocou as perguntas erradas às pessoas erradas...

Eu compreendo a sua intenção: ele queria averiguar até que ponto é que o pessoal estava a gostar das suas aulas. Mas não quis perguntar directamente (até porque é impossível quantificar o gostar em termos exactos), portanto, considerou ser mais legítimo basear-se no desenvolvimento pessoal dos alunos para avaliar a utilidade das aulas, e daí depreender o nível de apreciação geral das aulas por parte dos alunos. Foi tosco da parte dele e um tremendo erro de cálculo. Se ele não fosse tão inseguro, nem precisava de ter perguntado. Bastava olhar à sua volta. Se a aula tem afluência e os alunos se mostram bem-dispostos e divertidos, é óbvio que estão a gostar! Look no further, man! There’s your answer!

Quanto à utilidade, isso é assunto que diz respeito a cada um dos alunos isoladamente. Quem lhe disse a ele que me inscrevi nas aulas de Salsa para melhorar a coordenação motora? Eu quero é aprender a dançar Salsa e a fazer aquelas voltinhas maradas que não me ensinam nas Danças de Salão! Para mim, a utilidade vem depois, na pista de dança, quando eu já souber dançar Salsa a potes e usar as voltas que aprendi nas aulas para dar a volta a qualquer miúda gira...

domingo, abril 18, 2004

AS NÁDEGAS DA PITA

Hoje estou um rebarbado imparável! Depois de admirar as mamocas cheias e redondinhas da cota, admiro as nádegas fartas de uma jovem colega dançarina. Rapariga bonita, por sinal, embora de carácter falso. É uma pena, mas, e daí, não há bela, sem senão. Fisicamente, ela faz o tipo de rapariga cuja fartura de rabo procura compensar a quase total falta de peito. Realmente, é uma desilusão, a parca oferta daquele busto... A sorte dela é ter um bom palminho de cara e uns olhinhos claros que, acredito, devem dar a volta à cabeça de muito bom rapaz.

Perdido na apreciação das voluptuosas curvas daquele cu cheio, reparo subitamente num pormenor de grande interesse: a menina usa tanguinha. Sim, eu sei que esse facto por si só não é razão de grande estupefacção – afinal, todas elas usam tanguinha nos dias que correm! Contudo, esta rapariga em particular, e mau grado a sua juventude, era um dos últimos bastiões conhecidos que ainda defendia o uso da cuequinha tradicional em detrimento da tanguinha!

Ainda não há um ano, no decorrer de uma conversa de raparigas a que tenho oportunidade de assistir, enquanto a minha ex mais antiga afirma a sua completa devoção à tanguinha e a minha ex mais recente mantém uma posição de meio termo, ela proclama alto e bom som que não gosta de tanguinha e usa cueca. E, efectivamente, posso assegurar que, tanto quanto eu sei, ela sempre e usou cueca. Até hoje.

Obviamente, tão drástica mudança de posição só pode significar uma de entre duas coisas: que acabou uma relação importante há pouco tempo ou que arranjou gajo novo. Se acabou uma relação importante, pode, desta maneira, estar a tentar cortar com o passado através de uma mudança radical a nível pessoal. Ou simplesmente a tentar compensar a recente carência afectiva com compras desenfreadas. Mas eu voto mais pela segunda opção. Nada predispõe uma rapariga a novas experiências como uma nova picha, quer dizer, paixão.

OS SEIOS DA COTA

Hoje é Domingo, mas tenho ensaio de Danças de Salão logo de manhã. É apenas mais um ensaio. Já estou tão habituado a esta vida de dançarino que, mais ensaio, menos ensaio, já não me entusiasma por aí além. Contudo, hoje, algo me desperta da habitual modorra...

O par de mamas de uma colega mais madura parece-me hoje muito apelativo. Não sei dizer porquê, já que ela não se apresenta vestida de nenhuma maneira especial, que evidencie invulgarmente os seus belos atributos, mas, ali estou eu, descansado da vida, minding my own business e completamente inconsciente do que me espera, quando, disfarçadamente e como quem não quer a coisa, elas se atravessam no meu campo de visão. Subitamente, PANG!, eu olho para elas. E dou conta de que existem. Já não consigo desviar o olhar! E ali estão, a olhar para mim, a sussurrar-me, a provocar-me. Bailam à minha frente e eu olho-as, hipnotizado, avaliando-lhes o tamanho perfeito, a forma cheia, a postura altiva, o tom de pele ligeiramente tostado. Como se fosse esta a primeira vez que reparo nelas! E a minha mente, extasiada, imagina a consistência firme, a textura macia, o toque quente e o cheiro doce, como doces (e tentadores) são os frutos da Àrvore Proibida...

É incrível como um detalhe desta natureza pode alterar por completo a concentração de um gajo. Procuro controlar-me. A dona das meninas apanha-me a olhar insistentemente para si umas duas ou três vezes. Felizmente, não só não fica incomodada, como, além disso, parece gostar da atenção, porque retribui, dando-me a mim mais atenção que é habitual da sua parte. Por mim, tudo óptimo – é sempre bom receber atenção de uma mulher bonita (e ela é, sem dúvida, muito bonita, não obstante já caminhar para os quarenta anos). É pena a maturidade não acompanhar a idade. Porque o feitio daquela mulher é lixado de aturar! Enfim, é mulher bonita e basta. Pior!, é mulher bonita e, ainda por cima, é filhinha única! Deve ter sido criada desde tenra idade como uma princesinha. E agora, ninguém a atura (eu não estou a inventar, isto é um facto documentado e comprovado)! É pena, mas, por muito boas que sejam as duas razões para gostar dela (a da esquerda e a da direita), não justificam o feitio que se lhe tem de aturar.

Se, por acaso, o cuzinho também se aproveitasse, ainda um gajo pensava seriamente duas vezes em comprar essa guerra, só para lhe poder saltar para a espinha. Mas, infelizmente, é um bocado achatado... E, para cúmulo, a cintura não ajuda, porque é larga e pouco definida...

Quando eu a conheci, o seu grande atributo eram as pernas – um par longo e elegante que lhe subia até ao pescoço. Hoje, seis anos e uma gravidez depois, pouco mais lhe resta dessa curvilínea auto-estrada para o prazer do que um par de caniços duros e secos. A idade não perdoa. O Tempo é cruel com as mulheres bonitas, especialmente com aquelas que fazem da Beleza a sua principal qualidade.

quarta-feira, abril 14, 2004

ROMÂNTICO SUICIDA

Gosto de começar uma relação amorosa com uma declaração. Dizer na cara da rapariga em causa que gosto dela e que a quero namorar. “Ah, que romântico!”, ouço as minhas leitoras murmurar, entre suspiros. “Romântico,” o caraças! Suicida, isso sim! A declaração amorosa é, sem dúvida, o método de engate com mais baixa taxa de sucesso. Paradoxal? Sem dúvida, se atendermos à adoração bacoca que as raparigas têm por esse tipo de treta lamechas. Elas adoram vê-lo no cinema e sonham alegremente com o momento em que sejam elas as protagonistas de uma situação semelhante. Mas quando o almejado dia chega...

Hasta la vista, baby!

Gaja que é gaja não se deixa engatar por um tipo que se declare! Independentemente do que ela diga ou pense. Porque toda a mulher acredita que deseja o tipo de homem romântico, sensível e cheio de nobres sentimentos por ela. Ledo engano! A realidade, meus amigos, é que ela não faz ideia daquilo que quer! E, exactamente porque não sabe, ela tem horror a certezas.

Em termos práticos, dizer que sim ao gajo que se declara é como assinar um contrato: fica-se, pela própria palavra, entalada numa relação e depois é lixado voltar atrás. Pelo contrário, deixar-se embalar pela magia do momento, sob o luar de uma noite de Verão ou no escuro de uma sala de cinema, e, assim como quem não quer a coisa, permitir que ele a beije, deixa tudo em aberto. Porque, enquanto a relação não for expressa por palavras, é como se não existisse – pode-se sempre voltar atrás. Mesmo depois de algumas noites de curtição! É como deixar a porta dos fundos entreaberta, para que se possa dar à sola rapidamente, no caso das coisas não pegarem (ou azedarem). Porque rejeita ela o tipo que se declara? Porque o gajo que se declara tem demasiadas certezas. Ele sabe que gosta dela. Ele sabe que quer uma relação. Ela, pelo contrário, não. E, porque não, evita assumir uma relação. Tanta certeza assusta-a. E, não obstante a atracção que sinta por ele, mais depressa lhe vira as costas do que decide arriscar um namoro.

Inacreditavelmente, elas escondem este facto sob a capa de um falso romantismo. Querem fazer-nos crer que o envolvimento amoroso entre duas pessoas deve acontecer com o tal beijo ao luar ou na sala de cinema, porque é assim que as coisas se passam “naturalmente”. E só depois é que devem vir as palavras. Balelas! É perfeitamente “natural” dizer a uma rapariga que se gosta dela e que se quer namorá-la! Ela é que não está preparada para o ouvir!

Por isso, aconselho todos os gajos a tratá-las exactamente da maneira que elas preferem: enganem-nas. Convidem-nas para ir ao cinema e beijem-nas durante a cena de amor. Sem medos, que medo é coisa de gajo sensível, que tem escrúpulos. Pensem nelas como se fossem apenas carne e força nisso! É a morte do artista, quando um gajo começa a pensar que elas têm sentimentos antes de lhes saltar para a tanguinha fio dental (que elas hoje já pouco usam cuecas).

Quanto a mim... confesso que continuo a gostar de começar uma relação amorosa com uma declaração. Pode ser suicida, mas é a maneira perfeita de separar o trigo do joio. Porque eu não quero uma qualquer e ainda acredito que hei-de encontrar uma rapariga de quem goste, que saiba o que quer e não tenha medo de o assumir. Quanto às outras, as que preferem ficar pelo caminho, é porque não são suficientemente boas para mim. Não me interessam para nada.

A menos, claro, que tenham um cuzinho bem redondo e espetado. Mas, nesse caso, não me declaro. Afinal, não as quero namorar, só quero é ferrar-lhes o dente no cu. De cueca ou tanguinha, tanto faz. Nesse ponto, não sou esquisito. Importa é que o cu seja bom.

sábado, abril 10, 2004

CONCERTO EM MORTÁGUA

O programa de festas organizado pela minha prima para o fim-de-semana em Coimbra continua. Noite de Sábado: concerto. Em Mortágua, um “filho da terra,” de nome Leitão, organiza a II Mostra de Música Moderna. Na Associação Popular Desportiva e Cultural Gandarense tocam nessa noite os Mad Rats, os Speeding Bullets, os Hornet e os Ex Lovers Sex. E nós estamos lá. O concerto está agendado para as 22h, mas nós chegamos pouco depois das 18h, porque somos os groupies dos Mad Rats e a banda precisa de ir mais cedo, para montar o material e fazer o check sound.

A Associação Gandarense é um edifício de dois pisos, cuja quase totalidade do piso superior é um enorme salão principal, com o palco posicionado num dos topos. O problema é que a obra está inacabada e totalmente desprovida de revestimentos, o que significa que, para onde quer que um gajo olhe, só vê betão. Conclusão: o edifício é uma verdadeira câmara frigorífica. Rapa-se lá um frio que nem na Era Glaciar! E a tarde é uma looonga sucessão de montagem de material e check sound de tudo o que é banda. Ou seja, brutal seca! Felizmente, a longa espera é largamente compensada pelo excelente jantar servido pela organização. Ou então, sou eu que estou c’uma galga do caraças! Como duas pratadas daquele Arroz à Valenciana, que me lambo todo!

Finalmente, o concerto começa. Com uma hora de atraso, mas que é lá isso para quem gelou lá a tarde inteira! Factor gajas: p’ra esquecer!, que isto aqui é a Festa da Mangueira! Sobem ao palco os Mad Rats. Com as suas punkalhadas frenéticas, os gajos até conseguem aquecer um pouco o ambiente. Infelizmente, vítimas de um deficiente som de retorno (e, quiçá, também de alguma falta de experiência), perdem-se um pouco em algumas alturas e acaba cada um a tocar para o seu lado. Não obstante, não é isso que dá cabo do espectáculo. O pessoal curte. E, se tiverem oportunidade, curtam vocês também no dia 8 de Maio, na Wild Box, na Caixa Económica Operária, em Lisboa, juntamente com os Bruto & Cannibal (mais info no site dos Mad Rats em mad_rats.tripod.com).

Seguidamente, sobem ao palco os Speeding Bullets. Banda rockabilly, muito madura e de excelentes músicos, animam as hostes com bastante à-vontade e savoir faire. Na minha opinião, a melhor prestação da noite. E também a melhor guitarra. Só foi pena o som do contrabaixo (gentilmente cedido pelos Texabilly Rockets, ex-Texabilly Rockers, actualmente em digressão pela Europa) não se ouvir pevas, apesar do Bruno nele malhar forte e feio. A ver mais uma vez, também na Wild Box, no dia 1 de Maio, juntamente com os Dr. Frankenstein (estarei lá! Count on it!).

Os Hornet revelam-se uma enorme desilusão. Detentores de um rock progressivo altamente tecnicista, os tipos até malham bem – e a banda é uma máquina perfeitamente oleada. Têm técnica, sim. Muita. Só é pena não terem alma. A despeito de todo o esmero do vocalista numa desesperada luta para exorcisar os seus fantasmas pessoais encima do palco. A melhor voz da noite, contudo, e apesar do seu show pantomineiro a bordejar o ridículo. Também a melhor bateria. No entanto, a pior prestação da noite. E alívio total para a assistência quando descem do palco.

Por último, tocam os Ex Lovers Sex, a banda mais pintas da night. O vocalista, negro, com os seus óculos escuros de look retro e o seu casaco felpudo, faz lembrar o Lenny Kravitz. Com um som hard rock, por vezes a descambar para um metal mais speedado, é a banda com mais seguidores entre o público. Seguidores que, sozinhos, fazem a festa. E a festa é rija! O pessoal sobe ao palco como se aquilo fosse tudo deles! E culmina com a namorada do guitarrista, em pleno concerto, a simular um broche ao seu mais-que-tudo. Lindo! A continuar assim, esta banda tem o futuro garantido!

Chego a casa às quatro da manhã. Passo em revista os highlights da noite. Ponto mais alto: o jantar, seguido de perto pelos Speeding Bullets. Adormeço cansado, mas saciado e feliz.

sexta-feira, abril 09, 2004

SEXTA-FEIRA SANTA NO SANTUÁRIO

Passo o fim-de-semana alargado da Páscoa em Coimbra, de visita à minha tia e primas. Adoro estar com elas. São excelentes pessoas e tratam-me sempre muito bem. Convidam-me constantemente para ir a Coimbra e, com muita pena minha, não aceito tantas vezes quantas gostaria porque os milhares de actividades que compõem a minha vida (em especial, o emprego) não me permitem disponibilizar o tempo necessário para o efeito. Mas, desta vez, lá estou. A minha prima mais velha, em atenção à minha visita, organiza um intenso programa de festas para as duas noites que eu passo na cidade. Noite de sexta-feira: discoteca.

A noite começa bem. No café Mondrian, encontramo-nos com os seus amigos rockabilly. Dou por mim a recordar os desenhos animados da minha infância, com a minha prima e as suas amigas, uma das quais é Ruby Ann, vocalista do grupo rockabilly Ruby Ann and The Boppin' Boozers (que já tive oportunidade de ver ao vivo, em Agosto de 2001 no Clube Estefânia, em Lisboa – vejam vocês também as fotos da bela menina no site da banda em www.geocities.com/boppinboozers/index.html). Ela adorava “Les Cités d’Or” e a “Candy Candy.” Mas é sempre o “D’Artacão e os Três Moscãoteiros” e o “Tom Sawyer” que reúnem o maior reconhecimento e aplauso por parte daqueles que foram putos há quinze ou vinte anos trás. Junte-se-lhes ainda “Conan, o Rapaz do Futuro” e chegamos à conclusão que foram os japoneses os grandes responsáveis pelo florescer da nossa imaginação enquanto crianças. E ainda hoje continuam a sê-lo em relação às crianças actuais. Ele há coisas que não mudam.

Depois do café, ala para o Santuário. Segunda a minha prima, é discoteca para góticos, mas esta noite revela-se uma inesperada excepção (e desilusão). O DJ passa martelada e, na pista de dança, alguns betos abanam o corpo sem grande convicção. Factor gajas: fraco. Tanto em quantidade, como qualidade. Felizmente, pouco depois, a música muda. A Ruby, ao descobrir que eu sei dançar, tenta insistentemente conduzir-me ao ritmo de um swing. A mulher tem garra, mas pouco tacto. Diz que eu não tenho feeling. Explico-lhe que eu faço Danças de Salão – a música é a mesma, mas a dança é outra. Além disso, eu estou habituado a conduzir, e não a ser conduzido. Mas ela tem pouca paciência e depressa se desilude comigo. Melhor para mim, que não estava interessado em dar show naquele lugar. Ponto alto da noite: “Temple Of Love,” Sisters Of Mercy.

São quatro da madrugada e, com a night a chegar ao fim, resolvemos regressar à base. À última da hora, somos raptados e levados para o Famous Mouse, discoteca de engate para cotas. Ali, também já se gastam os últimos cartuchos. Os que deviam arranjar companhia para essa noite já arranjaram e os outros, resignados, vão aquecendo as mãos para o exercício... Factor gajas: médio em quantidade, muito fraco em qualidade – tudo material usado. Muito usado. Em contrapartida, alguns olhares mais lascivos na minha direcção afiançam-me que ali só há facilidades para um jovem minimamente bem apessoado, como eu. Declino. Tenho fome, sim, mas não tanta.

Pouco depois, regressamos a casa. São seis da manhã quando, finalmente, me deito para dormir, não sem antes fazer um pouco de reiki a mim mesmo, para limpeza e recarregar de energias. Ponto (ainda mais) alto da noite: a minha prima prometeu-me falar com o Pinela, vocalista dos Capitão Fantasma e dono da Bang Bang, loja de tatuagens em Sintra (e agora, também em Coimbra – check it out at www.bangbangtattoo.com), no sentido de se informar sobre a possibilidade de eu fazer um curso de tatuador com o gajo.

Se o plano for avante e se concretizar, abro uma tatto parlour chamada Jacaré Voador e ofereço descontos de amigo em tatuagens a todos os meus fiéis leitores. E às leitoras também, especialmente se elas quiserem tatuar as maminhas ou as nalgas. Há que saber fazer negócio.

quarta-feira, abril 07, 2004

“‘TOU QUE NEM POSSO”

“Um gajo tem que estar sempre alerta quando trabalha na rua. Já estive várias vezes assim de apanhar porrada,” a mão direita levantada, o indicador e o polegar separados por pouco mais de um centímetro. “Uma vez, numa das minhas performances, abracei uma velhota. Um g’anda abraço,” e exemplifica, enlaçando o peito com os próprios braços, as mãos tocando nas omoplatas e os olhos fechados com força. “Quando a larguei, disse-me a velhota: ‘Caramba, homem! Você podia-me ter partido os óculos!’ Assim que ela acabou de falar, tac! Fiuuuuuuu...,” com as mãos, mima as lentes dos óculos a caírem cada qual para o seu lado. Risota na assistência. “Começou logo a barafustar, claro. Obviamente, disse-lhe que a produção lhe pagava os óculos. Depois, tudo bem.”

Quem assim fala é Pedro Tochas. Não sabem quem é? É o gajo do célebre “’tou que nem posso,” do anúncio da Água Frize. Esta pequena história é apenas um dos muitos episódios por ele protagonizados na sua extensa (e intensa) actividade como performer, animador e palhaço. A conversa passa-se no centro em movimento (c.e.m. para quem conhece, agora a funcionar na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa), durante o workshop de “Iniciação ao Teatro de Rua,” por ele ministrado. O tipo é um porreiraço, muito divertido e bem-disposto, dinâmico e empenhado.

Diz quem já assistiu, que o Tochas é excelente em stand-up comedy. Ainda não tive oportunidade de assistir, mas espero um dia vir a ter. Quanto ao workshop, foi um espectáculo. Uma mistura de jogos de Colónias de Férias, com performance, teatro e alguma palhaçada à mistura. Aprendi a fazer malabarismo com sacos de plástico de supermercado e a construir bolas de malabarismo com “balões de cair no chão” e alpista (quando quiser apostar numa carreira como freak, já tenho material para começar...).

Para conhecer mais sobre o Tochas, visitem o seu site em www.pedrotochas.com e curtam os anúncios que o gajo fez para a Água Frize. Os oficiais e os outros. Mas não há nada como ver o gajo ao vivo. Por isso, aconselho-os a estar atentos à sua agenda, para datas de futuros espectáculos. Também disponível no site.

terça-feira, abril 06, 2004

INSEGURANÇA

A 24 de Março, recebo um pedido de ajuda por parte de uma jovem alma erradia. Diz o nosso amigo (que, a bem da privacidade, vamos manter em anonimato): “eu sou um gajo bué inseguro... sempre que a minha namorada começa a falar num tipo... qualquer que ele seja... que lhe fez isto, ou lhe disse aquilo... começo logo a fazer má cara, à procura de subjectividades em algo que possa ter dito... de subentendidos em algo que possa ter feito... depois tento lembrar-me que ela gosta muito de mim... e que me adora... (...) é claro que eu sei que quando se gosta de uma pessoa, tem-se sempre medo de a perder... mas será que estou acima ou abaixo da média... serei paranóico?”

Meu bom amigo, você é jovem e ainda tem muito que aprender acerca da índole humana em geral, e da feminina em particular. Para começar, descanse: você não é paranóico. Ou, pelo menos, não mais que os outros. Todos nós, que neste momento bisbilhotamos a sua vida amorosa, nos identificamos com a sua insegurança, em maior ou menor grau. Afinal, homem que é homem, leva muito a sério a eventualidade de ser encornado pela sua mais-que-tudo! Mas, ah!, orgulho vão! Desnecessária preocupação! O mundo está dividido em dois grupos: o dos que foram encornados e o dos que vão ser. Calha a vez a todos, portanto, deixe lá isso, que ninguém se fica a rir. Se não for a sua actual namorada a enganá-lo, será outra. E elas, por sua vez, também o serão.

Não gaste tempo “à procura de subjectividades... [ou] subentendidos” no discurso e no comportamento da sua namorada. Isso é ir à procura de chatices. É tão escusado procurar prever e evitar ser enganado como tentar prever e evitar um terramoto em Lisboa. Quando tiver de acontecer, acontece mesmo, mau grado todas as suas preocupações! Portanto, é deixar andar e evitar atrofiar com inquietações inúteis. Lembre-se simplesmente que, se ela lhe fala dos gajos com quem se dá, é bom sinal. Significa que não sente nada por eles. Porque, se ela sentisse, acredite que não lhe diria nada! Você seria o último a saber, como sempre acontece nestas histórias.

Tenha também em atenção que mulher é criatura matreira, que usa o Ciúme como bitola do Amor. Isto significa que ela o pode estar a manipular intencionalmente, no sentido de provocar a sua reacção e testar o seu amor por ela. Se for este o caso (e é mais que provável que seja), nunca lho atire à cara, porque ela o vai negar imperiosamente! Deixe-a ficar com a versão dela e fiquemos nós com a verdade. Quanto a si, faça-se de parvo, entre no jogo dela. Reaja, tal como ela quer, para lhe mostrar que a ama. Mas faça-o só ocasionalmente e não exagere! Mantenha uma certa distância emocional do assunto. Não lhe convém nada passar-se de cada vez que ela fala de outro gajo. Ou, pior, de cada vez que ela fala com outro gajo, ou brinca com ele, ou dança com ele...

A insegurança mina uma relação. Porque ataca a sua base – a confiança mútua. E, se você não confia nela, decida: ou lhe dá com os pés e caga na relação, ou aposta nela e arranja confiança. Se não consegue arranjar confiança genuína (o que leva tempo, dá trabalho p’a caraças e não está ao alcance de todos), pode sempre fingi-la. Para isso, basta tão-somente ignorar a maior parte do que a sua namorada diz – não se preocupe, que não vai perder nada de interesse. O seu grande problema, aliás, é precisamente dar tanta importância ao que ela fala. Porque insiste em olhar o Sol directamente, se lhe magoa os olhos? Feche-os! O que é lhe interessa a si as coscuvilhices da vida dela? “... E ele disse blá e eu respondi blá-blá e ele fez blá-blá-blá...” Que conversa de caca! Ignore-a, homem! Enquanto ela está entretida com os seus mexericos, concentre-se mas é no filme porno da Fernanda Serrano que viu na Net (fake, mas sempre dá para ir sonhando) e vá respondendo “hmm-hmm” ao calhas, para a sua adorada pensar que você está atento à sua verborreia.

Acima de tudo, lembre-se: ela é uma rapariga. E, como quase todas elas, não sabe o que quer! Porque raios está você a dar ouvidos ao que diz alguém que não sabe o que quer?!...

segunda-feira, abril 05, 2004

27 ANOS

Leio no jornal que Kurt Cobain tinha 27 anos quando se suicidou. A mítica idade dos 27, partilhada por outros grandes nomes da música, como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrisson (pergunta impertinente: o que é que um Kapa faz no meio dos Jotas?...).

Eu também tenho 27, mas completo 28 anos de existência daqui a um mês. Portanto, resta-me apenas este mês para aprender a tocar um instrumento, formar uma banda, alcançar reconhecimento a nível mundial, atingir o estrelato, arrastar legiões de fãs para a minha causa e finalmente suicidar-me de modo escabroso e inesperado, deixando para sempre o meu nome gravado a letras de ouro para a História!

Hoje deito-me cedo, porque amanhã tenho um dia preenchido...

NIRVANA

Kurt Cobain, falecido vocalista e mentor dos Nirvana, comemora hoje o décimo aniversário desde que decidiu enfiar uma bala nos miolos e acabar com a sua miséria.

Sempre me enjoou o fanatismo gerado à volta dos Nirvana e do Kurt, após a morte deste. Quando o gajo ainda era vivo, confesso que não via assim tanto pessoal a curtir Nirvana. Gostava-se, sim, mas, para a maior parte da gente, Nirvana equivalia a barulho e destruição em palco (e do palco). No entanto, depois que o gajo decidiu bater a bota, apareceu um monte inconcebível de gente muito afectada, triste e pesarosa por tão grande músico ter desaparecido da face da Terra. Desconfiado, adoptei por sistema perguntar a todo o idiota que me vinha dizer que curtia Nirvana qual era o álbum que mais gostava. Resposta invariável: “Unplugged In New York.”

Cambada de betos ignorantes e otários! O “Unplugged” não é Nirvana! Nirvana é muito mais que essa merda asséptica! Nirvana é barulho e destruição e sujidade! E não limpinho e bonito e arranjadinho, como a porcaria do “Unplugged,” sua corja de mariconços!

Sempre gostei de Nirvana. Ainda gosto. Mas nunca engoli o “Unplugged.” Porque não tem nada a ver com os Nirvana puros e duros que um gajo ouve nos álbuns “Bleach,” “Nevermind,” “Incesticide” e “In Utero.” Qualquer palerma que me diga que prefere o “Unplugged,” não passa de um beto nojento, mariquinhas e hipócrita, que decidiu ir na onda, porque Nirvana era o que, na altura, estava na moda.

Actualmente já não se ouve muito, mas Nirvana continua a ser sempre Nirvana. E, independentemente de já ter passado uma década desde que o gajo se suicidou, a sua música continua viva e o tempo não apagou temas como “Smells Like Teen Spirit,” “Come As You Are,” “Lithium,” “Polly,” “Dive,” “Sliver,” “About A Girl,” “Heart-Shaped Box”, “Dumb” ou “Rape Me.” Por isso (mas sem querer entrar numa onda revivalista ou saudosista), aconselho: curtam Nirvana!

Mas Nirvana a sério.

domingo, abril 04, 2004

GO, GO, GADGET-MONSTER-COCK!

Assisto na televisão ao filme “Inspector Gadget”, com Mathew Broderick e Joely Fisher (boazona mamalhuda!). Durante todo o filme, uma questão não me sai da cabeça: será que quando operaram o simples segurança John Brown para o transformar no robotizado Inspector Gadget lhe mantiveram intactos os órgãos sexuais? Ou... amputaram-no?...

Acho que a questão é por demais pertinente. Quer dizer, o facto é que o gajo passa o filme inteiro a sonhar com a Dra. Brenda Bradford, a boazona de serviço! Romantismo e lamechices à parte, com aqueles cabelos ruivos e aquele corpo de pecado, a mulher é capaz de acender pensamentos diabolicamente libidinosos num santo padre! Ora, obviamente, convém saber se o Gadget é homem suficiente para lhe saltar em cima – tanta fruta não se come só com beijinhos e abraços, apesar daquilo ser um filme Disney!

Depois de pensar um pouco no assunto, cheguei a uma conclusão. Foi ela, a Dra. Brenda (lascívia em corpo de mulher, nunca é demais lembrá-lo) quem projectou e construiu o Gadget. Isso significa que, se ela foi esperta, lhe decepou o pirilau, sim... para o substituir por um mostrengo bacamarte robótico, extensível e de cabeça oscilante, 6 velocidades x 6 ritmos de vibração, sistema regulável de lubrificação, estimulador clitoriano amovível, GPS e rasteio topográfico-sensorial (para detecção do ponto G) e esperma artificial ultra-concentrado (com sabor a morango, chocolate ou baunilha) de emissão regulável (variável de Sparrow Spit a Beer Can Explosion). Aliás, só assim se explica que ela se tenha deixado encantar por um tipo tão inepto.

Contudo... se ela foi mesmo inteligente (e previdente), construiu-o com três destes poderosos mangalhos mecânicos. Para lhe encher as medidas todas de uma só vez...

sábado, abril 03, 2004

KAME HAME HAAAAA

Completei hoje o 1.º Nível do sistema Essential Reiki. Para quem não sabe, o reiki é um milenar sistema japonês de cura por transmissão de energia. Pelas mãos. Estilo “Dragon Ball.” Só que um gajo não vê as manifestações de energia em forma de coloridas bolas de luz, nem precisa gritar “kame hame ha” para aquilo funcionar. E, obviamente, esta energia não serve para arrasar planetas inteiros, mas sim para curar.

Se funciona? Segundo as opiniões das senhoras que também participaram no curso – tudo mães de família, que até arrastaram consigo os próprios filhos, para que lhes fosse ministrada a ciência –, não só funciona, como é também a maior maravilha do mundo! De acordo com as suas experiências pessoais, o reiki serve para tudo: para curar, para harmonizar, para regular, para recarregar. E é tão bom para as pessoas, como também para os animais, para as plantas e até para as pilhas e baterias de telemóvel e automóvel!

Se eu acredito? Bom... Confesso que fiquei farto de ouvir todas aquelas senhoras falar de maneira tão fervorosa sobre o assunto. A dada altura, senti-me como se estivesse num daqueles programas de televendas, em que pessoas (supostamente) imparciais são convertidas in situ para levar o incauto telespectador a acreditar que o produto que vendem é nada menos que a Invenção do Milénio. Perante aquela situação, e toda esta idolatria colectiva, tornou-se impossível para mim levar a coisa (muito) a sério. “Se usarem reiki numa ferida aberta,” dizia a Mestra, “o sangue estanca!” No shit?! Suponho, então, que as plaquetas já não me sirvam p’a nada!

... Estou a ser mauzinho. Se calhar, a Mestra referia-se a membros decepados ou outras situações mais gore (género “Happy Tree Friends”), em que não há plaquetas que resistam e só o reiki pode ajudar a manter o sangue dentro do corpo... Okay, agora é que eu estou a ser mauzinho! Sim, porque, para dizer a verdade, eu até acredito no reiki. Nem o posso evitar, pois, não obstante todo o cepticismo inicial, já tive oportunidade de o ver funcionar no meu próprio corpo quando, há quase um ano atrás, arranjei uma calcificação num tendão do ombro direito que, de tantas dores, nem me deixava pensar! E foi uma amiga que me aliviou. Com reiki.

Por isso, e não obstante todos os irritantes fanatismos, acredito. Sobretudo porque, acima de tudo, acredito no poder da força de vontade e da força do pensamento. E, por último, porque sempre gostei do “Dragon Ball.” Só é pena o reiki não permitir a um gajo voar...