segunda-feira, dezembro 03, 2007

... MAS ELAS TÊM-NA (MUITO) PIOR!

Depois de tudo o que aprendi recentemente acerca das relações sociais no Japão por intermédio da Mie, começo a perceber muito claramente porque é que uma rapariga bonita como ela aproveita todas as ocasiões que tem (e que os yenes arduamente ganhos lhe proporcionam) para abandonar a sua ilha no outro extremo do globo e mandar-se sozinha para o nosso cantinho à beira-mar plantado. O calor latino que ela aqui encontra deve ser um bálsamo para a frieza nipónica a que está habituada. Apesar de tudo, “old habits die hard,” e todo o seu comportamento se revela inequívoco testemunho dos costumes, educação e mentalidade da cultura em que foi criada.

É óbvio, por exemplo, que a adorável menina não está acostumada a ser alvo da mais pequena deferência, atenção ou consideração por parte do género masculino na sua vida social. O conceito de cavalheirismo é-lhe absolutamente alienígena e olha para mim como se eu fosse de outro planeta sempre que me adianto para lhe abrir uma porta e lhe cedo a passagem. E incomoda-me um bocado o seu hábito de caminhar na rua submissamente atrás de mim. Decido elucidá-la: “Aqui em Portugal, homens e mulheres são iguais – têm os mesmos direitos e deveres. Caminham lado a lado. Não deves nunca andar atrás de um homem. Quando o fazes, estás a subverter as regras mais basilares da interacção entre géneros – com prejuízo para ti. Se tanto, os homens é que devem fazer fila atrás de uma mulher bela como tu. Estás a perceber?”

Mas não, não percebe. E rejeita liminarmente a noção de ser bela. “Mas és,” insisto eu, “És bela e inteligente e corajosa.” Ela não quer acreditar. Mas eu justifico (os meus elogios são de graça, mas nunca são gratuitos): “Inteligente, sim, porque tens sede de conhecimento por coisas novas. É a primeira vez que conheço um japonês que sabe falar português e, ainda por cima, tão bem! E corajosa, sim, porque não hesitas em viajar sozinha para um país onde não conheces ninguém.” Mas ela rejeita a ideia: “Não, meu português é muito mau. E não sou bonita nada. Se eu for bonita devo ter namorado agora. Mas até agora ninguém convidou-me para beber na fora pessoalmente. Acho que sou antipática e homens preferem mulheres mais novas. Por isso estou sozinha e viajo sozinha.”

Os homens japoneses são é uma cambada de encalhados! Mas podem dar-se por satisfeitos, porque as mulheres japonesas são muito piores que eles! Desde tenra idade, são induzidas a submeter-se, a rebaixar-se, a depreciar-se (ainda mais que o habitual para qualquer mulher normal). E depois as gajas ficam todas inquinadas da cabeça (mais que o habitual, lá está). Aos 25 anos de idade têm de estar casadas, caso contrário, são mal vistas pela sociedade – como é o caso da minha amiga, com os seus 29 anos. E como as aparências são tudo na austera sociedade japonesa, elas andam tão desesperadas que os gajos nem têm que se esforçar para as sacar. E, pelo que a Mie conta, eles não se esforçam mesmo nada (nem sequer sabem como fazê-lo).

Conclusão: para um Jacaré como eu, o Japão seria um manancial de gajas. E, de facto, tenho essa confirmação quando, já perto do final da agradável tarde passada na companhia da bela menina, ela me pergunta se já visitei o seu país. Respondo que não, mas que o vou fazer um dia e que não me importava sequer de ir para lá trabalhar. “A dar aulas de Português,” acrescento a rir. Ela aprova a ideia, porque os raros cursos de Português que existem no Japão são ministrados por... brasileiros! “E depois,” acrescenta, “as japonesas iam gostar muito de ti.” Eu rio-me.

“Quando eu voltar a Portugal, na Primavera,” continua ela, de olhos no chão, “talvez nós vamos passear mais, ou jantar, ou beber café...” Com toda a certeza, afirmo, o prazer será todo meu. “E se algum dia fores ao Japão,” conclui ela, evitando ainda o meu olhar, “podes ficar sempre na minha casa.” Ah, marota da japonesita! O Ocidente está a fazer-lhe bem, caramba! Palonços dos gajos japoneses, “dá Deus nozes a quem não tem dentes...” de Jacaré!

1 Comentário(s):

A quinta-feira, 03 janeiro, 2008, Anonymous Anónimo comentou:

Ok, vamos mesmo para o japão! Amanha!

 

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