sexta-feira, junho 09, 2006

CABRA PRESUNÇOSA

“Três meninas esperam por ti esta noite no Barrio Latino para dança séria.” Assim rezava a mensagem de telemóvel do meu distinto amigo Joe Mars, requisitando a minha presença para uma noite de Salsa & Kizomba no conhecido bar do Parque das Nações. Respondi à convocatória e convidei ainda o nosso amigo Barrelas a juntar-se a nós. Três gajos para três gajas – conta certa.

Só ao chegar ao local me apercebo do meu erro. As três meninas – Vedinha, Matinha e Ivinha – convidaram outros amigos, entre eles um trio londrino, actualmente de visita ao nosso país. Mas o pior é que o Barrelas e estas meninas... don’t mix. Diz o Joe Mars que “a opinião delas acerca dele é rastejante.” E o sentimento parece ser recíproco. De acordo com as lamentações do Barrelas, que aproveita o ensejo para me pôr ao corrente de toda a suja história, as ditas meninas parecem achar-se boas demais para o nível de dança (e creio que não só) do meu amigo. Depois, umas bocas mais azedas delas numa ou noutra ocasião elevaram e acabaram por firmar as antipatias de lado a lado. “Se eu soubesse que as ‘três meninas’ eram estas gajas,” conclui o meu amigo, “não tinha vindo.” Que argolada! Apanhado no meio deste imbróglio, vejo-me agora obrigado a agradar a gregos e troianos. Não quero deixar mal o meu amigo, mas também não quero, por associação, contrair a malquerença das amigas do Joe. E o Barrelas monopoliza a minha atenção de tal modo que a Matinha não se coíbe de mandar bocas, alegando que o local é para dançar, não para conversar. Dirige-se a mim, claro; não creio que queira dançar com o Barrelas. Mas tinha mais sucesso comigo se, ao invés de mandar bocas estúpidas para o ar, me convidasse directamente.

Todavia, sejamos objectivos. É inegável que o Barrelas possui uma tremenda falta de ritmo e coordenação motora, o que faz dele um dançarino algo... modesto. Mas o homem lá vai compensando a falta de jeito com muito esforço e perseverança. É verdade que nunca será um dançarino de topo, mas sabe desenvencilhar-se em qualquer baile e é isso que lhe importa. Como pessoa, é verdade que o rapaz é um bocado colas e tem o desconfortável hábito de invadir o espaço pessoal de uma pessoa, mas é um gajo porreiro, bem intencionado – por vezes até ingénuo – e está muito longe de ser conflituoso. Por isso, acho difícil acreditar que o pobre tipo tenha contribuído consciente ou propositadamente para esta desavença. Desconfio mais delas...

Depois de dançar um pouco com a Vedinha e a Matinha, apercebo-me com algum pasmo que, não obstante a presunção, as meninas são fracas dançarinas. A Vedinha não consegue manter-se no ritmo da música e a cínica Matinha, apesar de até dançar benzito, passa o tempo todo com ar de frete – o que é, no mínimo, mal educado. Quanto à Ivinha, que me parece ser a mais humilde das três meninas (seguida pela Vedinha, que até é simpática), é também a única com quem acabo por não dançar. Porque, depois dos dois trambolhos, decido dedicar todo o meu tempo à Jo, uma das meninas do trio londrino. Além de ser de longe mais bonita e mais simpática, a Jo revela-se uma excelente dançarina e excelente pessoa. Muito vivaz, divertida e meiga, ela cobre-me de elogios, beijos e agradecimentos após cada dança. Consequentemente, todo eu me desdobro em atenções para com ela. “Comigo, ele não dançou assim,” queixa-se a Matinha ao Joe. “Convida-o para dançar outra vez,” sugere ele. “Não, ele é que tem de me convidar,” replica ela, orgulhosa.

Cabra! Bem pode esperar sentada que eu a convide! E há-de morrer com calos no cu de tanto esperar. Não tenho paciência para gajas com a mania que cabe aos homens o dever de fazer tudo para as agradar. Se ela fosse gira e boa, ainda lhe perdoava a arrogância anacrónica. Mas a gaja não vale nada! Tem lá razões para se fazer de cara! E, para cúmulo, ainda se dá ao luxo de ser insolente para um tipo como o Barrelas! A gaja devia era pôr os olhos na bela Jo, que é uma excelente dançarina e isso não a impede de ser delicada e elogiosa para todos à sua volta. No que depende de mim, gajas como a Matinha só merecem indiferença. A ver se morrem de despeito.