domingo, agosto 06, 2006

A MENINA DANÇA?

Saudações, caros amigos! Mesmo de férias e afastado do bulício e da canseira da vida quotidiana, este Jacaré não podia sair de cena sem reservar algum tempo para dedicar aos seus fiéis leitores. Assim sendo, cá estou eu para lhes falar, ainda e sempre, de mulheres (como não podia deixar de ser). E, aproveitando a presente conjuntura, em que me vos dirijo directamente de Carvalhais, em pleno Andanças – o Festival Internacional de Danças Populares, já na sua 11.ª edição –, nada mais apropriado que falar também de... Dança (como também não podia deixar de ser).

Como é de um modo geral sabido, o género feminino tem uma particular adoração pela Dança. É genético: elas gostam de dançar assim como eles gostam de... futebol, por exemplo. Ou de carros. Obviamente, falo em termos gerais, pois existem sempre as excepções que confirmam a regra. Eu, por exemplo, sou uma dessas excepções. Devo ser, sem dúvida, um dos piores espécimens do meu sexo: ligo pouco ao futebol e ainda menos a carros. Muito provavelmente, é por essa razão que sou obcecado por mulheres – a dedicação que deveria estar repartida por três áreas de interesse distintas está inteiramente congregada em apenas uma.

No que diz respeito à Dança, porém, nunca fui grande entusiasta de discotecas. Sempre achei que qualquer idiota é capaz de abanar o corpo ao som repetitivo de música de martelinhos, bastando para isso apenas um estômago forte, para suportar o som. Mas dançar um tango, uma valsa... Dirigir-se a uma rapariga e convidá-la – “a menina dança?” – e depois guiá-la num tango intenso ou numa valsa rodopiante... Isso já não é para qualquer idiota! É para um idiota... que saiba! E como eu queria ser um idiota sabichão, iniciei-me nas Danças de Salão (caramba, até rimou!).

Há quase nove anos que eu pratico Danças de Salão. E desde que comecei a praticar que a minha vida social mudou de maneira radical. Assim que comento casualmente, numa qualquer conversa, que sou praticante de Danças de Salão, logo brilham os olhos à interlocutora a que me dirijo – e sei de imediato que já estou a subir na sua consideração, independentemente dela própria dançar ou não, pois mesmo a menina que não dança, gostaria de o fazer ou, pelo menos, experimentar (é genético, já disse!). Porque é que qualquer menina admira um rapaz que dança? Porque a Dança está intimamente ligada ao sentimento, o que aos olhos delas significa que o rapaz que dança é um rapaz com maior sensibilidade que os demais. E sensualidade, já que a Dança também desenvolve um maior à-vontade com o próprio corpo. Além disso, devido a todos os preconceitos que os gajos têm em relação à Dança, são raros os rapazes que dançam (e ainda mais raros aqueles que o fazem bem), o que os torna ainda mais extraordinários aos olhos delas.

Para os gajos, contudo, Danças de Salão é coisa de maricas. E, bem, sejamos sinceros: se certas aves raras que um gajo vê nos campeonatos – aqueles dançarinos magricelas com a fronha besuntada de base, o cabelo lambidinho, a roupinha justa cravejada de lantejoulas, a camisa aberta até ao umbigo, as calças puxadas até aos sovacos e os sapatos de tacão alto, a fazerem todos aqueles floreados com as mãos e a sacudir a anca para cá e para lá – não são rabetas, esforçam-se bastante para os imitar!!!

Apesar de tudo, não me chateia minimamente quando um gajo qualquer me deita aquele olhar e, veladamente lançando a dúvida sobre a minha inclinação sexual, pergunta: “Danças de Salão?! Mas... isso não é assim um bocado... maricas?...” Concordo sempre sem hesitar: “Então não é! Aquilo é uma paneleirice pegada! Dar à anca?! Homem que é homem não dá à anca! Isso é coisa de rabiló!” E o meu interlocutor, normalmente, ri-se. Ri-se porque não percebe que a mim me interessa que ele continue a pensar desse modo. Porque é por essa razão que há sempre muito mais mulheres que homens nas Danças de Salão. E “em terra de cegos...”