sábado, abril 24, 2004

“BELLEVILLE RENDEZ-VOUS”

Vou ao cinema com alguns bons amigos. O filme escolhido é “Belleville Rendez-Vous,” ou “Les Triplettes de Belleville” (no original), de Sylvain Chomet. Animação francesa, datada de Junho do ano passado, vencedora de alguns prémios e nomeada para os Óscares (saibam mais em www.lestriplettesdebelleville.com), o filme conta a história de uma família, curiosamente de origem portuguesa, emigrada em França, formada por três elementos: o neto, Champion, que ama o ciclismo, a avó, madame Souza, que ama o neto e tudo faz para o ver feliz, e o cão, Bruno, que ama ladrar aos comboios e comer os restos deixados pelo Champion.

O argumento do filme é simples e algo linear. Durante uma etapa do Tour de France, Champion, juntamente com dois ciclistas desistentes, é raptado por membros da Mafia Francesa e levado clandestinamente para Belleville, na América, para ser usado em jogos ilícitos (e inumanos) de apostas. Madame Souza, constantemente acompanhada pelo fiel (e gordo) Bruno, segue os malfeitores até à América mas, aí, devido ao bulício da grande metrópole, perde-lhes o rasto. Felizmente, devido à paixão comum pela música, contrai amizade com as Triplettes, antigas estrelas do mundo do espectáculo, que lhe oferecem assistência na sua operação de resgate.

Ao argumento simples e linear é contraposta uma profusão ao nível dos pormenores e é que reside a riqueza do filme. A acção está toda centrada na acção – os gestos, os movimentos, os rituais diários e, enfim, a interacção de cada uma das personagens com as outras são-nos apresentados com uma eloquência que revela muito acerca dos detalhes da personalidade de cada uma e ultrapassa em muito as meras palavras. Talvez por isso, as personagens quase não falem umas com as outras. O olhar e o gesto falam mais alto.

No entanto, mesmo desprovido de diálogos, o filme não é uma seca. Há sempre muito para seguir em cena e não há nada deixado ao acaso. De resto, o filme é lindo, com uns décors fabulosos, umas cores vibrantes e uns gags geniais, tudo embrulhado numa estética de caricatura. De resto, tudo ali é caricaturado – desde os edifícios, as ruas e, em suma, a cidade, passando pelos automóveis e barcos e terminando nos animais e, claro, nas próprias pessoas. Todos os americanos, por exemplo, são imensamente gordos (incluindo a própria Estátua da Liberdade!), os guarda-costas da Mafia Francesa são, literalmente, uns armários e o maître d’, de tão emproado, tem a cabeça toda atirada para trás e quase toca no chão. Genial!

Classificação geral: a não perder! E a ver rápido, que deve estar quase a sair de cena. Preferencialmente, com companhia – afinal, as coisas boas tornam-se melhores quando são partilhadas.

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