quinta-feira, janeiro 18, 2007

PELA LEI DO MENOR ESFORÇO

“Tenho boas e más notícias,” diz-me o jOhn ao telefone. “As notas da frequência de Sociologia foram uma derrocada de negas. A Tita e a Deia tiveram 4 valores! A professora está furiosa! E o exame de recuperação é já este Sábado, ou seja, depois de amanhã.” Eu rio-me. Sou o palhaço que adora ver o circo a arder. “Bem, a verdade é que não tinha grande fé nessa frequência,” respondo. “Não tinha a minha caneta da sorte no dia do teste, pá...” “Espera lá,” diz o jOhn, “ainda falta a boa notícia (para ti): tu passaste com 10 valores. Portanto, não precisas de fazer o exame de Sábado, pá. Eu é que preciso, que tive 8.” Eu rio-me com gosto. Sou o palhaço que adora ver o circo a arder – a uma distância segura da tenda, claro. “Seu cabrãozeco!” atira o jOhn, “Não vais às aulas e consegues sempre safar-te em exame!”

E, desta vez, safei-me com uma nota muito sofrível. Bom foi no ano passado, quando passei à cadeira de Recuperação Arquitectónica com 15 valores. Quem ficou lixada com isso foi a Sassita. E com razão, diga-se de passagem. Ela, tal como o resto da turma, teve o triplo do trabalho que eu e o sextuplo da preocupação, fora o tempo investido a aturar as conflituosas colegas de grupo o ano inteiro, para fazer o trabalho prático anual que contava para metade da nota final da cadeira. E eu? Eu ignorei olimpicamente o trabalho prático e apostei tudo no exame (escrito) de recurso. Fui às aulinhas teóricas, fiz a frequência (para me inteirar do conteúdo dos testes) e, como previsto, chumbei em época normal. Por falta de entrega do trabalho. E depois? Safei-me in extremis na época de recurso. Tirei 15 valores no exame e fui aprovado com melhor nota que a Sassita e o mínimo de trabalho e preocupação. E uma fracção dos conhecimentos que deveria ter assimilado nessa cadeira, porque me esquivei de toda a vertente prática do programa. Viva o sistema.


Eu pertenço àquela raça de estudante que prefere os testes escritos aos trabalhos práticos. Não que considere o teste escrito, como ferramenta de avaliação de conhecimentos, mais eficiente e fiável do que o trabalho prático. Conhecendo as limitações de ambos os sistemas e as maroscas de que o pessoal se socorre para falsear resultados, tanto num caso como noutro, devo dizer que tenho dúvidas sobre qual dos métodos de avaliação será mais desajustado e enganoso. Mas eu sou preguiçoso e prefiro gastar uns dias ocupado com um teste do que uns meses com um trabalho. Sofro menos e o resultado é mais imediato. Por isso, desde que descobri que, com apenas um único exame escrito por cadeira, consigo evitar grande parte do trabalho prático do curso de Arquitectura – e, em muitos casos, com melhores resultados –, não quero outra coisa. Já me livrei ligeiramente de uma carrada de cadeiras que, de outro modo, teriam sido muito dolorosas de levar a bom termo. Só tenho pena de não poder adoptar totalmente este sistema porque, em certas cadeiras (as mais importantes), o exame de recurso consiste na entrega de todos os trabalhos práticos desenvolvidos ao longo do ano, ao invés de teste escrito. A essas, não há como escapar.

Mas onde fica a qualidade de ensino no meio desta falcatrua? Porque deste modo, bem vistas as coisas, corro o risco de me formar em Arquitectura com um nível de conhecimentos adquiridos muito inferior ao que supostamente deveria ter. Isso incomoda-me? Chateia-me? Claro que não. Em primeiro lugar, não espero nunca vir a exercer depois de me formar. Já dediquei à Arquitectura demasiado tempo desta minha vida (e das próximas). Em segundo lugar, a trapaça é legal. E quem sou eu para pôr em causa todo o sistema de avaliação da Faculdade de Arquitectura de Lisboa? Assumo que quem o concebeu tem razões sólidas para acreditar que um único exame escrito substitui um ano inteiro de laboriosos trabalhos práticos. Por último, e a avaliar pela minha faculdade, o sistema de Ensino Superior português é uma anedota, está entregue à bicharada e totalmente desajustado da realidade do mundo de trabalho. Talvez me engane, mas não creio estar a perder agora algo que me vá fazer falta mais tarde na vida profissional.

3 Comentário(s):

A segunda-feira, 26 março, 2007, Blogger Sandra Pereira comentou:

hahahahahahahahaHAHAHHAHAHAHAHA...
Uma gargalhada (descomplexada) por este anedótico post....
bjufa

 
A quarta-feira, 06 junho, 2007, Anonymous Anónimo comentou:

Li este e outro post (de 2004) que por acaso me apareceram no monitor, e fiquei fã... ou fan (eu também não fui ás aulas de (Estrangeirismos...)...
Com ou sem sua autorização, vou seguir lendo, e não me cíbirei de mandar umas postas de pescada malcheirosa (mas muito boa para a saúde) quando achar que devo. A Sassita ja se arreliou umas quantas vezes com isso, mas A Voz dos Opiniosos não pode ser calada! A luta continua!

 
A quinta-feira, 07 junho, 2007, Blogger Jacaré Voador comentou:

Seja bem-vindo, caro amigo!

É sempre bom ter novos leitores. Mesmo dos que mandam postas de pescada malcheirosa.

 

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