quarta-feira, novembro 24, 2004

EMPREGADO DO MÊS

Trabalho há (quase) uma mão cheia de anos numa loja de centro comercial. Em part-time. O salário é uma miséria, claro, mas chega para o que eu quero: pagar a faculdade e ser economicamente independente. Faço tudo o que gosto e ainda me sobra guito para prestar assistência financeira aos amigos mais desfavorecidos. Aliás, quando penso nos cerca de mil e quinhentos contos que tenho emprestados, chego à conclusão que devia era enveredar pela carreira de agiota – ficava rico! Embora me baste ter o suficiente para poder levar sem problemas a vida que eu gosto. Ser rico exige demasiadas responsabilidades e preocupações e eu abomino o stress. Prezo muito a minha sanidade física e mental. Prefiro usar o dinheiro do que ser usado por ele.

É por isso que gosto do meu emprego, actividade de um modo geral bastante relaxada, onde as responsabilidades e preocupações são reduzidas. Passo o tempo sozinho na loja, sem colegas para me incomodar e sem grande trabalho que me ocupe. Tenho televisão para me entreter e computador para trabalhar (onde, a propósito, escrevo “A Goela”). Tempo para mim não me falta, especialmente nesta altura de recessão económica, em que a clientela é pouca. A grande vantagem, contudo, decorre do facto do emprego me manter afastado do lar durante as horas em que a minha família a ele retorna após o dia de trabalho – a minha presença em casa, como é muito mais rara, tornou-se também muito mais desejada. E, de facto, desde que trabalho que os meus pais aprenderam a dar mais valor às ocasiões em que estou com eles, em vez de gastarem esse tempo a censurar-me por causa das minhas opções de vida. Por último, e para rematar, há ainda o bónus da paisagem. É comum ouvir, quando recebo na loja a visita de algum amigo: “Jacaré, a tua loja é um espectáculo! É só gajas boas a desfilar em frente à montra!” E é verdade. Por vezes, gosto de imaginar que eu é que sou o cliente, a avaliar o material exposto na montra de uma loja: “Olhe, embrulhe-me aquela ruiva, por favor. É para levar. E aquela loira, é verdadeira ou imitação? Por acaso, não tem um número menor e menos beta, não?...”

Mas nem tudo são rosas e também neste emprego há desvantagens. Num centro comercial, feriados e fins-de-semana são dias de trabalho como os outros. Não se fica em casa a dormir só porque é Domingo. E depois, claro, há a clientela. Caprichosa como só ela. Atender o público é tarefa exigente que requer uma paciência a toda a prova. Especialmente quando se trata de atender os clientes mais insuportáveis: os arrogantes (que tratam o vendedor como se fosse um mísero insecto), os burros (que têm a língua mais rápida que o pensamento, memória curta e uma incapacidade olímpica em compreender os conceitos mais simples) e os indecisos (os empata-fodas da vida, gentalha desprezível a quem reservo o meu mais acerado ódio).

A experiência ensinou-me, porém, que um sorriso e alguma simpatia é meio caminho andado para uma interlocução agradável e gratificante para ambas as partes envolvidas. São essas as armas que uso. E são extremamente eficazes. A prová-lo – se é que isso prova alguma coisa – está o resultado da avaliação das lojas efectuada no início do mês pela administração do centro comercial, por intermédio do “Cliente Mistério” (que não passa de um espião a soldo da administração, e disfarçado sob a aparência de um banal cliente, cujo objectivo é avaliar – muitas vezes, mal e porcamente, convém referi-lo – a prestação dos comerciantes do centro).

Pela primeira vez desde que aqui trabalho, sou eu o apanhado. Mas passo o teste com distinção. As considerações do “Cliente Mistério” sobre a minha pessoa qualificam-me como “muito simpático e prestativo” e revelador de “muito bons conhecimentos em Atendimento e/ou Técnicas de Venda,” entre outros louvores que não sei se mereço. Pontuação obtida: 95,0%. Arrasador!... Terei algum mérito, sem dúvida, mas a sensação que me dá é que este “Cliente Mistério” era uma gaja que se deixou encantar pelos meus olhos claros. Ou então um gay que gostou do meu cu...

terça-feira, novembro 23, 2004

“ESTAMOS AGORA SÓS”

Estamos na França pré-revolucionária. A Marquesa de Merteuil “ressuscita” o seu amante Visconde de Valmont para uma peculiar soirée em que os pratos fortes são os corpos de uma jovem pura e virgem – Cécile de Volanges – e de uma fidelíssima mulher casada – Madame de Tourvel –, guarnecidos com bastante sedução, falsidade, volúpia, manipulação... e corrupção.

Uma enorme mesa com capacidade para 30 pessoas – para além dos dois actores (e encenadores), André Amálio e Joana Furtado, com lugar em ambas as cabeceiras – convida os espectadores a tomar parte da acção. A mesa está posta e o seu tampo revestido a chapas de metal polido reflecte a fila de máscaras com que os espectadores ocultam as suas faces. Os dois actores, movimentando-se à volta da mesa e mesmo sobre ela, contracenam um com o outro, mudando de pele e assumindo à vez as diferentes personagens que se sucedem em cada cena. Servem vinho, carne, pão. Eu como, eu bebo. À saúde! Bebamos, enquanto somos testemunhas dos jogos de sedução, falsidade e manipulação a que Valmont e Merteuil se entregam – e com que ambos se deleitam na ligação que os une –, corrompendo os corpos – e as almas – da jovem Volanges e da senhora de Tourvel. “A falsidade é quase sempre um meio certo de triunfar,” Marquês de Sade dixit.



Assisto à peça “Estamos Agora Sós,” em cena na Casa d’ Os Dias da Água (no 175 da Rua D. Estefânia, em Lisboa) até amanhã. É um espectáculo baseado em “Quarteto,” de Heiner Müller, peça escrita a partir da tradução de Heinrich Mann da obra “As Ligações Perigosas,” de Choderlos de Laclos, publicada em 1782 – e tantas vezes adaptada, nomeadamente para cinema e televisão. Uma simples pesquisa na Net revelará que já foram feitas nada menos que dez (!) adaptações desta obra, umas mais, outras menos fiéis, e das quais destaco cinco: “Les Liaisons Dangereuses,” de Roger Vadim, em 1959; “Dangerous Liaisons,” de Stephen Frears, em 1988 (com Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeiffer – provavelmente a mais conhecida e melhor adaptação); “Valmont,” de Milos Forman, em 1989 (com Annette Bening e Colin Firth); “Cruel Intentions,” de Roger Kumble, em 1999 (com a caçadora de vampiros Sarah Michelle Gellar); e “Les Liaisons Dangereuses,” de Josée Dayan, em 2003 (com Catherine Deneuve, Rupert Everett e Nastassja Kinski). É caso para dizer que estamos sempre a comer o mesmo, só o acompanhamento é que muda. Mal sabia o Choderlos (e que raio de nome vem a ser este, caramba?! Os pais deviam detestá-lo! Tudo indica que foi uma criança não desejada)...

Assisto hoje a esta peça por intermédio da minha irmã e do meu cunhado, que estiveram envolvidos no projecto em causa (em trabalho de bastidores). Especialmente ele, que foi o responsável pelo design do material gráfico para a peça (cartaz, folhetos e postais) e, posteriormente, me convidou para trabalhar com ele nesse campo. No final, o meu trabalho acabou por não ser usado (pelo menos, nesta fase), contudo, o meu nome aparece na ficha técnica, o que me faz sentir uma certa ligação a este projecto. De primos afastados, ou assim.

Tive ainda o privilégio de assistir, há duas ou três semanas atrás, ao último ensaio assistido da peça. Na ocasião, uma cromita freak pseudo-intelectual também presente considerou o momento mais alto da peça a cena em que Valmont corrompe a jovem Volanges. Contrariando-a, eu professei, alto e bom som, a minha opinião de que o momento mais elevado era, não esse, mas sim a cena em que Valmont corrompe a fidelíssima senhora de Tourvel. Por razões óbvias: corromper uma fiel (e convicta) mulher casada é exercício muito mais exigente (e gratificante) que corromper uma jovem virgem a rebentar de lascívia, “algo já tão visto e banalizado,” rematei. “E já estás tão habituado a isso, não é?” atirou Joana Furtado, a actriz. Toda a gente riu.

E ela nem sequer me conhecia. Como diabos adivinhou?...

OPERAÇÃO?

Estou de volta ao Hospital Egas Moniz para uma consulta de Urologia.
– Então, diga-me lá como é que isso está, – pergunta o meu médico urologista, o Doutor José Luís Barreto, com a sua cara habitual de couldn’t care less.
– Bem... continuo sem conseguir urinar, – respondo eu.
– Por cima ou por baixo? – rosna o homem, – Tem que especificar!
Hesito perante a rudeza inesperada do homem. Mas este gajo está armado em parvo? Que eu saiba, “mijar” é pela pila e não pelo cateter! Além disso, se eu porventura não conseguisse mijar pelo cateter, de certeza que não estava tão descansado da vida, ó esperteza saloia!
– Por baixo, claro, – replico, civilizadamente.
– Então não sai nada por baixo?
– Não. Quer dizer, vai sempre saindo qualquer coisa, que eu sinto, mas --
– Que é isso de sentir? Sente, como? Sente o quê?
– Bom, durante o dia, nos meus afazeres diários --
– Ou à noite, a dormir. É em sonhos que você sente, não é? Só pode ser.
É que o gajo está mesmo armado em parvo! Cretino do caraças! Mas, desta vez, não me fico e...
– Espere lá! Se eu sinto umas gotas a sair ao longo do dia e depois vejo as cuecas manchadas é porque está necessariamente a sair alguma coisa, não é?
O médico esboça um esgar céptico.
– Não necessariamente. Seja como for, umas gotas pouco interessam. Tem é que haver jacto. Jacto! Isso é que conta. Você tem que ver. Sentir não é nada.
– Bom, jacto não há. É como lhe disse.
– Não há jacto.
– Não.
– Bom.
Por momentos, o médico rabisca algo num papel. Pausa. Subitamente, levanta os olhos para mim:
– Claro que já se apercebeu que vai ter de ser operado, não é?
– Eu já calculava, sim.
– Já passaram mais de dois meses desde o acidente e ainda nada... Mas, vamos fazer uma uretrografia, antes de marcarmos a operação. E, segundo o resultado do exame, logo decidimos.

Abandono o consultório com uma mistura de sentimentos contraditórios. Apesar de não querer ir à faca, quero muito ver este problema de obstrução urinária resolvido de uma vez por todas, portanto... acho que até estou feliz por tudo isto se resolver em breve. Contudo, há algo que me desagrada cada vez mais nesta situação: o facto de estar a desenvolver uma intensa antipatia pelo médico, que, consequentemente, abala a confiança que nele deposito. É verdade que nada posso afirmar sobre as suas aptidões clínicas, pois careço de dados em que fundamentar a minha opinião, contudo, como ser humano, o raio do homem é uma nódoa.

Que mania que o tipo tem de tratar os pacientes como se fossem atrasados mentais! Concedo que seja psicologicamente desgastante passar o dia inteiro a ouvir os queixumes de pessoas que não conseguem mijar direito, mas, caramba!, se o gajo não tem paciência para o fazer, que desista da Medicina, que diabo! Eu não tenho que o aturar, mais ao seu mau humor e às suas frustrações sexuais (pois é óbvio que o seu mau humor deriva de grandes problemas de ordem sexual).

Quer-me cá parecer que, antes de toda esta aventura acabar, ainda vou ter que me chatear a sério com o médico... O gajo que insista em tratar-me como um atrasado mental e vai ver como o Jacaré morde. Muita sorte teve ele por eu não lhe ter afinfado um pontapé nas canelas por baixo da mesa – e depois atirado-lhe à cara que era tudo um sonho dele: “Você tem que ver. Sentir não é nada.”

quinta-feira, novembro 18, 2004

FREAK SHOW: O REGRESSO

Alarme! O meu cateter urinário entupiu! Desde que tenho a ligação directa à bexiga, que vaza automaticamente a minha urina para um saco à medida que a bexiga enche, não tenho vontade de mijar (a menos, claro, que o tubo seja pressionado ou dobrado, impedindo o normal fluir da urina). Assim, quando, ao princípio da noite, me apercebo de uma crescente vontade de mijar, apesar do saco de urina permanecer vazio, e os esforços na casa-de-banho resultam infrutíferos (dois canais para mijar e nenhum a funcionar!), chego à conclusão que é boa hora para correr para o hospital.

São cerca das onze horas da noite quando entro de rompante na Sala de Urgências do Hospital S. Francisco Xavier, o Circo de Aberrações onde passei a minha primeira noite após o acidente em Setembro passado. Como de costume, as macas alinhadas ao longo da parede à minha direita estão ocupadas com doentes e acidentados padecentes dos males mais diversos. Os médicos e enfermeiras presentes movem-se com aparente indiferença perante o desfile de sofrimento que lhes passa continuamente pelas mãos e pelos olhos e ninguém acusa a minha presença, a saltitar nervosa e desesperadamente de um pé para o outro à entrada da sala. Interpelada por mim, uma médica sentada a uma secretária – uma tiazorra gorda, cheia de cachuchos nos dedos e inolvidável pela sua total inacção perante o sofrimento (e o trabalho) alheio – aponta-me outro médico – o gajo que efectivamente labuta ali. Veredicto do homem: lavagem à bexiga. “Se isso não resultar,” acrescenta ele para a enfermeira de serviço (uma bela morenita chamada Sandra), “é necessário levá-lo para a Sala de Pequenas Cirurgias, para lhe substituirem o cateter.”

Enquanto a enfermeira trata dos pacientes que me precedem, passo um mau bocado de atormentado saltitar – sinto a bexiga a rebentar, tenho dores horríveis naqueles músculos que um gajo contrai para controlar a ejecção de urina e há muito que apertar a pila e torcer as pernas deixou de produzir qualquer efeito de alívio. “Doutor, quando é que me atendem?” pergunto ao médico, “Olhe que eu rebento!” “Não rebenta nada,” ri-se ele. “Diz isso porque não é você,” resmungo eu, entredentes. É então que, num súbito momento de lucidez no meio da minha agonia, me apercebo que eu só sofro de dores porque estou a fazer força para evitar mijar. Sou mesmo um grande idiota! Eu estou entupido! Eu não consigo mijar! Logo, não preciso de fazer força para não mijar! Posso muito bem relaxar os músculos e deixar-me ir! Mas... e se, de repente, desentupo e acabo por me mijar todo pelas pernas abaixo?... Caramba, mas, ao menos, desentupo de vez! Ficaria bem feliz por acabar encharcado e a patinhar numa poça de mijo se, ao menos, desentupisse de vez!

Resoluto e instantaneamente calmo, relaxo os músculos. Com uma pontada de dor junto à próstata, sinto a urina fluir com uma contracção da bexiga, e depois... nada. Apenas alguma dor junto à glande e, finalmente, a urina reflui, de volta à bexiga. Enfim, alívio. Ainda tenho a bexiga inchada, mas já não sinto dores porque estou completamente relaxado. Respiro fundo e, com a minha paz de espírito finalmente restaurada, posso recostar-me e observar o que se passa à minha volta.

Noto que o cheiro nauseabundo que paira no ar provém dos pés do rapaz da cara salpicada de sangue deitado na maca ao meu lado. Numa das macas da parede oposta, um outro rapaz conversa com o médico – aparentemente, caiu enquanto andava de bicicleta, bateu com a cabeça e perdeu a memória. Ele há cenas lixadas! Entretanto, a relativa calma da sala é dissolvida pela chegada de uma maca que transporta um homem de meia idade em estado de fúria, a gritar e a insultar o pessoal médico e todo o Sistema Nacional de Saúde. São precisas várias pessoas para o agarrar enquanto lhe administram uma injecçãozita para o acalmar. É o momento alto da noite.

Enquanto observo calmamente o que se passa à minha volta, reparo com alguma surpresa que o meu saquinho de mijo está um pouco mais cheio. Que surpresa!, parece que o cateter começou aos poucos a drenar a urina. E, de facto, quando chega a minha vez de ser atendido, a enfermeira morenita que procede à lavagem da bexiga chega à conclusão que o cateter está a funcionar devidamente. Ela usa uma seringa enorme (já minha conhecida), para injectar água, através do cateter, para a bexiga – “Agora, relaxe, que Isto pode provocar-lhe uma sensação incómoda.” Ao entrar no meu corpo, a água refresca-me o baixo ventre como se me estivesse a ser derramada sobre a pele. Feels good! Além disso, a enfermeira é muito meiga e eu sinto-me maravilhosamente nas suas mãos prestáveis e carinhosas. Entretanto, ouço o meu nome ser chamado pelo altifalante: “Dirija-se à Sala de Urgências, por favor.” Mas esta gente está maluca? Eu cá estou!

Finalizada a lavagem, o saco de urina enche rapidamente. Poucos minutos depois, os seus dois litros de capacidade estão quase atingidos. Enquanto espero, ouço o meu nome ser chamado mais duas vezes. Finalmente, faço sinal na direcção da tiazorra gorda e apresento-me. “É você?... Já podia ter dito! Estou farta de o chamar!” Nessa altura, aparece o meu pai, preocupado porque ouviu o meu nome ser chamado na sala de espera e receia que eu ainda não tenha sido atendido.

Mas eu já estou despachado e, depois da tiazorra conferenciar com o médico acerca do meu caso, e ele com a enfermeira, decidem deixar-me voltar à minha vida. Umas últimas recomendações do médico: “Beba muita água, para a sua urina continuar assim clarinha e não infectar. E, caso a urina fique turva, consulte o seu médico de família, para ele lhe receitar antibióticos, está certo?” Okay, okay, I know the drill. Estou a tornar-me um especialista em problemas urinários.

É quase meia-noite quando abandono o Circo de Aberrações, aliviado porque o problema se resolveu facilmente. Só não estou mesmo feliz porque não tive oportunidade de pedir o número à bela enfermeira Sandra. Bom, na verdade, até tive, mas pareceu-me de mau gosto fazê-lo durante a lavagem da bexiga. Chamem-me antiquado, mas não achei a conjuntura nada romântica...

terça-feira, novembro 16, 2004

A GUERRA DO MARFIM

Passam duas semanas desde que a Evita, a minha melhor amiga, deixou o nosso país com destino à Costa do Marfim, onde reside actualmente com o seu noivo Françiú. Ou onde residia até recentemente, para ser mais exacto. É que, entretanto, rebentou a guerra lá na terra!

Protectorado francês desde 1842, a Costa do Marfim torna-se parte da Federação Francesa da África Ocidental em 1904. Meio século depois, o país torna-se uma república dentro da Comunidade Francesa e, em 1960, ganha a independência, sob o governo do presidente Felix Houphouet-Boigny, líder do PDCM (Partido Democrático da Costa do Marfim) e mentor da independência marfinense (o Xanana lá do burgo, portanto – ou talvez o contrário, tendo em conta que o revolucionário timorense recebeu o Prémio Felix Houphouet-Boigny para a Paz em 2003).

Durante mais de três décadas, Houphouet-Boigny governa com mão de ferro um sistema unipartidário, tornando o país um dos mais economicamente estáveis e desenvolvidos da África Ocidental. Porém, o poder colonial francês nunca abandona totalmente a Costa do Marfim. De protectorado, o país torna-se um estado cliente, com vários cidadãos franceses a dominar sectores estratégicos da economia marfinense (os simpáticos franciús, a ajudarem os pretinhos a gerir o próprio país – e a fazerem bué guito à conta deles, está bem de ver). Em 1993, a morte de Houphouet-Boigny, coincidente com o declínio da economia local em função da queda dos preços dos produtos agrícolas, abre caminho a uma crise institucional que leva a uma luta pelo poder entre as facções políticas do país (ou seja, morre o velho e a família anda à bulha pela herança).

Golpes de estado marcam a sucessão política na década de 90 e é no ano de 2000, após eleições fraudadas pelo general Robert Guei (que foge do país ameaçado pela revolta popular), que Laurent Gbagbo, actual presidente da Costa do Marfim, alcança o poder. Surgem de imediato conflitos no país entre os partidários cristãos de Gbago no Sul e os rebeldes muçulmanos do Norte, seguidores de Alassane Ouattara (político muçulmano proibido cinco anos antes de participar nas eleições para a presidência por ser natural de Burkina Faso, que já pertenceu à Costa do Marfim). Em 2001, a Amnistia Internacional denuncia violações dos direitos humanos pelo governo, acusado de executar 57 rebeldes após a campanha presidencial do ano anterior.

É iniciada uma política de contenção do confronto, que negoceia a divisão do poder pelos diversos partidos políticos do país. Contudo, já este ano, tanto os partidários de Ouattara como o próprio PDCM abandonam o governo, acusando Gbagbo de desrespeitar o acordo e de desestabilizar o processo de paz. A ONU, vendo o conflito agravar-se, envia tropas para o país. E, de facto, a guerra civil estala com um ataque da Força Aérea marfinense a uma base rebelde, que mata 9 soldados franceses da Força de Paz e fere 31. A França, comandada por um ultrajado Jacques Chirac, retalia e arrasa completamente a Força Aérea da Costa do Marfim (ou seja, todos os três caças e cinco helicópteros da era soviética que os gajos para lá tinham)!

Incitados à xenofobia pelos meios de comunicação (controlados pelo governo), partidários de Gbagbo protestam furiosamente contra a França e, numa onda de ódio e violência, atacam e saqueiam residências e propriedades francesas. Cerca de sete mil estrangeiros (um deles a minha amiga Evita) deixam apressadamente o país, sob a protecção das tropas francesas.

Para os interessados em conhecer o testemunho de alguém que viveu na pele toda a situação – alguém prestes a casar e iniciar uma nova vida na Costa do Marfim, e que, de súbito, vê os seus planos de vida futura gorados –, a minha amiga conta todas as suas aventuras (e desventuras) no blog entitulado “as minhas experiências,” em www.primeiramulher.blogspot.com.

ATOMIC TA2

Há uns tempos atrás, o meu amigo Misfit pediu-me que fizesse um desenho para uma tatuagem para ele. Prontamente, acedi. Não foi esta a primeira vez que me pediram desenhos para tatuagens. Há quatro anos atrás, o Fortes (tudo em cima, rapaz? Tudo rijo contigo?) também me fez o mesmo pedido: queria um diabinho, com pinta de bebé maroto. Ou seja, motivo de gaja. As gajas é que acham piada a mariquices dessas. Mas eu concedi. E concretizei, duplamente (como se pode admirar mais abaixo, naquela que foi a minha primeira obra totalmente colorida no computador).



Porém, o gajo nunca chegou a tatuar nenhum dos meus diabos. “Têm demasiado detalhe,” disse. Ao invés, optou por tatuar uma rosa vermelha no tornozelo. Muy maricón, sem dúvida. Mas, e daí, o que é que se poderia esperar de um tipo que foi criado pela mãe e pela avó, sem qualquer referência masculina? Uma amiga minha (cuja identidade permanecerá anónima), que chegou a andar (brevemente) com ele, contou-me que o gajo sofria de ejaculação precoce (quando não tinha impotência) e que vivia agarrado às saias da mãe. Eu até aposto que foi a mãe quem meteu o bedelho no assunto da tatuagem: “Ai, filho, um diabo, que horror! Mas agora o meu querido rebento vai andar o resto da vida com um demónio infernal tatuado na sua pura pele de alabastro? Não, filhote, nem pensar. Olha, que tal se tatuasses... uma flor! Hã? Não era muito mais bonito? Uma rosa vermelha! Ou então... uma pomba branca, da Paz! O que achas, meu amor?” “Oh, mamã, gostei tanto dessa ideia da rosa! Tens razão (como sempre). É isso mesmo que eu vou fazer. E quando tiver mais dinheiro, tatuo a pomba branca aqui na nádega direita, que achas?” “Oh, querido! Que ideia deliciosa! Depois disso, terei ainda mais gosto ao mudar-te as fraldinhas!”

Ah ah! Bom, chega de gozo. Ao contrário dessa florzinha de estufa (que espero que nunca veja este blog), o Misfit vai mesmo tatuar um desenho meu, que pode ser apreciado na imagem mais abaixo – a ideia original é do Misfit, a composição e o desenho são meus e a arte-final, ou seja, o sombreado, é do “Master ShowmanJoão, o tatuador (que ficou bastante impressionado com o meu portfolio de desenhos – “Isto tem muita saída,” diz ele, apontando para os meus diabinhos, “As raparigas adoram estes motivos.” Estás a ouvir isto, ó Fortes?...).



Estamos na Atomic Tattoo Studio, em Lisboa (com site em www.atomic-tattoostudio.com) e, sentado a uma mesa de luz, o João copia o meu desenho para o decalque, enquanto o Misfit se prepara, rapando os pêlos do braço. Pouco depois, o desenho do decalque é transferido para o braço do meu amigo que, enquanto espera que o desenho seque, me pede que fotografe a obra à medida que evolui o processo de tatuagem.

É a primeira vez que vejo uma tatuagem ser feita in loco. O João começa por tatuar as principais linhas de contorno do desenho, guiando-se pelo decalque. Fica assim com um esboço geral que, gradualmente, vai firmando com traços cada vez mais fortes, até chegar ao desenho final. As sombras são adicionadas no fim, e do mesmo modo progressivo. É um processo demorado e de crescente afirmação, no qual são usadas várias máquinas, com pontas de diferentes espessuras, que são molhadas em pequenos recipientes cheios de tinta de diferentes intensidades, para criar as diversas gradações da mancha.

Se sangra muito? Um pouco, sim. Mas a Vida é isso mesmo – sangue, suor e lágrimas. Aqui, o sangue é do Misfit, o suor é do João e as lágrimas... Bom, neste caso, não há lágrimas. O Misfit é o único que está em posição de choramingar um bocadito, mas o gajo é um calmeirão que já sobreviveu a muitas tatuagens para agora se pôr com histerismos. Talvez as coisas fossem diferentes, caso fosse o Fortes no seu lugar... Da próxima vez que o encontrar, não me posso esquecer de lhe perguntar se ele chorou quando fez a tatuagem da rosa. Aceito apostas.

sábado, novembro 13, 2004

ARRUMAÇÕES

Passo o dia em arrumações. O dia inteiro. Contrariamente ao que é habitual, abdico de aproveitar a minha folga numa qualquer actividade de lazer com algum bom amigo ou amiga boa, para passar o dia inteiro encafuado em casa em arrumações. Devo estar a ficar doente! Doente não por ficar todo o dia fechado em casa em arrumações, mas doente por me sentir tão bem ao final do dia!

Confesso que o meu quarto estava um verdadeiro pandemónio. Roupa lavada e engomada amontoada por todo o lado e à espera (alguma já há uns meses!) de ser finalmente arrumada, livros empilhados em torres periclitantes, sempre crescentes, cuja construção foi iniciada por alturas da última Feira do Livro (e, raios!, que só agora noto que lombada do “Arctic-Nation,” da série “Blacksad,” está estragada! Porra! Devia ter tido mais atenção quando o comprei), CDs avulso (já nem me lembrava deste CD dos Kerbdog. Devo tê-lo ouvido umas duas vezes...), montes de papelada e cartas por abrir desde o final do Verão (contas de hospitais – “Queira responder em 10 dias úteis”?! Ah! Que gozo do caraças! Onde é que isso já vai! –, extractos bancários – ena!, o banco enviou-me há uns meses um novo cartão MultiBanco, para substituir o antigo, engolido por uma máquina duas semanas antes... Que atencioso da parte deles –, bilhetes usados de cinema e de bailes – 12 de Março no Mercado da Ribeira? Eu lembro-me desta noite! Foi quando conheci a loira gira das mamas grandes!), alguns desenhos amarrotados e muito .

No final do dia, apesar de sujo e coberto de ácaros, sinto-me orgulhoso de mim mesmo pela gigantesca tarefa de arrumação que levei a bom termo. Para o olho destreinado, o quarto parece estar, mais grolho, menos grolho, na mesma. No entanto, para mim, está completamente diferente! A roupa lavada está toda arrumada (a roupa suja costumo colocá-la de imediato para lavar – pouco arrumado serei, concedo, mas não desorganizado e nunca um suíno!), a papelada arquivada ou posta para reciclar (consoante a sua validade), os CDs arrumados e os livros... bom, esses continuam por arrumar. Já não estão empilhados, porque não quero vir a encontrá-los um dia todos derrubados e amachucados no chão. Mas o facto é que não tenho sítio onde os guardar.

É o que dá morar numa casa onde todos os ocupantes adoram ler. Já não há espaço para colocar mais livros. Até temos que andar de lado no corredor, porque o espaço está todo atravancado com estantes sobrelotadas e perigosamente inclinadas. Uma vez, há pouco mais de um ano, mandei uma brutal marrada numa das estantes, que me saltou ao caminho a coberto do negrume da noite de Verão. Rasguei o sobrolho e até vi estrelas! Depois, tive que inventar uma história mirabolante sobre ter sido apanhado em flagrante delito por um marido cornudo, para justificar o penso rápido colocado sobre a sobrancelha direita (pois convenhamos que a verdade é uma triste, triste história, totalmente indigna de um gajo do meu calibre e com a minha reputação). Só tive pena de não ter ficado com uma bela e notória cicatriz. Mas recebi alguns comentários engraçados de uma ou outra amiga, que me disseram que eu ficava giro com o penso na testa, com pinta de menino traquina.

Mas divago. Voltando às arrumações, o engraçado das ditas é que, apesar de serem uma canseira e consumirem uma quantidade absurda de tempo, produzem um sentimento agradável de realização numa pessoa quando o trabalho está concluído. De facto, não há momento em que um gajo sente ser mais lícito e merecedor desperdiçar tempo sem fazer nada do que depois de arrumada a casa. Até a própria vida parece mais organizada. Mais eficiente. Mais leve. Prontinha a levantar voo. Como se o futuro nos reservasse um universo de oportunidades, cada uma melhor que a precedente. Por isso, não me admirava se amanhã recebesse uma proposta irrecusável de emprego no estrangeiro ou adquirisse uma dinheirama astronómica por herança ou, talvez, conhecesse um par de gémeas boazonas e malucas, que não se importassem de partilhar o namorado. Venha o que vier, que a minha vida está arrumadinha e a postos para tudo.

terça-feira, novembro 09, 2004

ONE DOWN, ONE TO GO

De manhã cedo, tenho consulta de Ortopedia no Hospital de Sant’ Ana, na Parede. A minha última consulta de Ortopedia. Combino ir com o meu amigo PP, que me oferece boleia e companhia, mas ele atrasa-se. “Está um trânsito do caraças; já me estou a passar! Estou a dez minutos da tua casa, mas, por este andar...” E, de facto, passa quase hora e meia do combinado quando ele finalmente aparece, com os nervos em farrapos por causa do trânsito. Independentemente da validade da sua desculpa, eu poderia estar chateado por estar tão atrasado para a minha consulta. Mas não vale a pena. Este gajo está sempre “a sair agora mesmo daqui” ou “a cinco minutos daí” e não é raro deixar as pessoas a secar eternidades à sua espera. Porém, após mais de dez anos de amizade com alguém assim, certos comportamentos são considerados como feitio, e não como defeito.

Apesar de tudo, o facto de chegar tão atrasado à consulta tem as suas consequências positivas. “Estávamos à sua espera,” diz-me uma das enfermeiras, quando me identifico junto ao balcão. À minha espera?! Mas isso denota interesse da parte do hospital pelo meu caso e eu estou habituado a ser tratado pelo Serviço Nacional de Saúde como se não importasse mais que um mísero pintelho! Contudo, a enfermeira direcciona-me prontamente para a sala de radiografias, recomendando-me que me despache, pois “a doutora tem de ir para o Hospital S. Francisco Xavier daqui a pouco.” E, de facto, na sala de radiografias, sou imediatamente despachado, passando à frente de toda a gente que aguarda a sua vez na sala de espera. Enquanto me tiram a radiografia à clavícula direita, as enfermeiras perguntam-me como estou de saúde, e se ainda ando com o cateter. Estou siderado! Não venho cá há um mês e ainda se lembram de mim?! Agora sinto-me realmente comovido! Agradeço os desejos de melhoras e, com a nova radiografia na mão, levam-me a correr para o consultório, onde me espera a minha médica. Mais uma vez, entro directamente, passando à frente da malta na sala de espera. Que serviço bestial! Uma coisa destas só é possível num hospital com uma logística tão bem estruturada e eficaz como este, que é, de longe, o hospital mais eficiente e organizado de todos os que tenho visitado ao longo desta minha odisseia.



Ao olhar para a radiografia, a minha simpática doutora exclama que tenho uma “consolidação muito exuberante,” o que se pode apreciar pela bela imagem acima, que mostra uma auréola de osso a envolver o ponto da clavícula anteriormente fracturado. Mas é normal, pois os topos do osso fracturado ficaram sobrepostos ao solidificar. “Não há problema nenhum,” garante-me a doutora, “daqui a um ano, essa bola enorme irá desaparecer, pois o corpo tem tendência a eliminar o excedente de osso, até encontrar a configuração original do osso que partiu.” Assombroso!

“O ombro tem-lhe dado algum problema?” pergunta a doutora. Respondo que, de vez em quando, me dói. “Isso é natural, e eu digo-lhe porquê,” responde ela, “quando o osso fracturou, os nervos dessa zona também ficaram danificados. Agora que o osso consolidou, também os nervos se regeneraram e, como são novos, estão mais sensíveis, o que lhe provoca alguma dor quando há mudanças de temperatura, devido à humidade. Agora, o seu ombro funciona como um barómetro, e bem melhor que o do meteorologista!” “Ah,” replico eu, “é como alguns velhos, que predizem as mudanças de tempo conforme lhes doem as articulações!” A médica ri-se: “Exactamente! Alguns velhotes fazem isso, sim senhor. Quanto a si, também vai ficar assim por uns bons anos.” Que potência! Também vou ser um cota vidente! O corpo humano é uma máquina fantástica!

Depois de me dar o seu cartão, para qualquer eventual problema futuro, a médica despede-se definitivamente de mim, desejando-me boa sorte e boas danças. E, pouco depois, sentado com o PP na cobertura do moinho de maré da praia de Carcavelos, a curtir o Sol de Inverno, sinto-me mais aliviado. A clavícula já está arranjada, é um problema a menos. Agora, só me falta mijar!...

quarta-feira, novembro 03, 2004

“SIN CITY”

Leio o livro “Sin City: Mulher Fatal” (“Sin City: A Dame To Kill For,” no original), segundo volume da série “Sin City” (publicado em português pela Devir), do grande mestre da BD americana Frank Miller.



Dwight McCarthy é um homem torturado por um passado violento e obscuro, que ganha a vida a fotografar maridos infiéis para um detective privado sem escrúpulos. Um dia (ou antes, uma noite – pois em Sin City parece ser sempre noite), Ava Lord, o antigo amor da sua vida e a mulher responsável pela sua desgraça, contacta-o e pede-lhe ajuda. Segundo ela, Damien Lord, o milionário com quem se casou (e por quem abandonou Dwight), é um homem de gostos distorcidos e perversos, que encontra prazer em fazer torturar a sua própria mulher pelo seu guarda-costas Manute. Cedendo ao sentimento que, não obstante todos os seus esforços, ainda nutre por Ava, Dwight decide ajudá-la (what a sucker!), contando para isso com a preciosa ajuda do brutamontes Marv (o herói do primeiro volume da série). Assim começará uma viagem dolorosa e cheia de revelações imprevistas para Dwight, que culminará numa sangrenta vingança (estas coisas terminam sempre em vendettas terríveis, claro – olho por olho, dente por dente).

Não contarei o resto da história, para não estragar o gozo de quem esteja interessado em ler o livro – coisa que recomendo vivamente. Ao invés disso, e para aguçar o apetite de quem não conhece a série “Sin City,” aqui deixo algumas imagens desta genial e magnífica obra da 9.ª Arte. Apreciem.


O careca é Dwight McCarthy, o nosso homem, fotógrafo de trancadas ilícitas.


A boa da Ava. É por estas e por outras que um homem se deixa perder...


Dwight e Ava num momento de tensão (e o que não faltam nesta história são momentos de tensão – e de tesão, também).


... Que dizia eu?


“Portou-se muito mal, Sra. Lord. O patrão vai querer que eu a castigue.”


“Foste tu o cabrão que bateu no meu amigo!” O Marv é perito em cirurgia plástica sem anestesia – “Não o matei. Aliás, nem sequer o estropiei. Seis meses no hospital, no máximo. Tirei-lhe foi um olho.


Escoltadas pela pequena Miho, as gémeas entram em cena. Elas controlam a cidade velha, antro de prostituição onde nem os polícias ousam entrar. O leitor mais atento com certeza reconhecerá nelas Goldie e Wendy, personagens principais do primeiro volume da série (o sortudo do Marv comeu as duas – mas, infelizmente, não ao mesmo tempo).


Os dois detectives encarregados do assassínio de Damien Lord investigam o paradeiro de Dwight nos bares rascas pejados de bêbedos do costume. Nesta cena, a acção cruza-se com a história do primeiro volume (aquela cara retalhada do Marv é inolvidável).


Nancy, stripper no bar da Josie. “A Nancy tem um anjo da guarda. Mais de dois metros de músculos e violência em estado bruto chamados Marv.” (O Marv é o gajo que domina e o resto é conversa!)


A senhoria do Dwight depõe na esquadra: “O Sr. McCarthy era um bom inquilino. Pagava sempre a renda a tempo. Era sossegado e educado. Até arranjava coisas do prédio sem lhe pedirem. Se fez alguma coisa de mal, não consigo imaginar o que seja.” Apreciem a expressividade da imagem. O Frank Miller não sabe desenhar só gajas boas.


You talkin’ to me?!...


Go ahead, punk. Make my day.” A vingança do Manute será terrível! Olho por olho...

O filme, dirigido por Robert Rodriguez e pelo próprio Miller, deve estar aí a rebentar. Segundo sei, conta ainda com a participação de Quentin Tarantino como realizador convidado. Por norma, não sou apreciador de transposições da Banda Desenhada para o Cinema – porque tendem a ser redutoras, simplistas, limitadas e, regra geral, nada abonatórias para as obras que as inspiraram –, mas este é com certeza um filme que eu não vou perder.