domingo, maio 14, 2006

A SEXUALIDADE DA SANTA CLARA

Até a emissão de quinta-feira passada do programa “A Revolta dos Pastéis de Nata,” eu nunca ouvira falar da Ana Santa Clara. Ao que parece, a dita senhora escreve regularmente uma crónica para o Correio da Manhã onde discorre sobre as relações entre géneros, tema que igualmente constitui o teor do seu livro intitulado “‘não esperes por mim para jantar’” e que, como o leitor bem sabe, coincide com o meu campo de interesse e reflexão. Tendo essa afinidade com a senhora, foi, portanto, com muita atenção que acompanhei a sua participação no referido programa.

A Santa Clara é uma quarentona que, embora não sendo propriamente feia, compensa a falta de beleza com fértil espirituosidade. Adoptando uma postura muito aberta em relação à interacção entre homens e mulheres, ela apregoa alguns lemas engraçados (sem dúvida fruto da sua experiência de vida), tal como “os homens são como os doces: é preciso provar para saber se são bons” (eis uma boa desculpa para saltar inconscientemente – mas sem remorsos – para a espinha de tudo o que mexe) ou “já que um homem não me faz vir, ao menos que me faça rir” (cara senhora, homem aliviado já tem o que quer, não lhe interessa fazer rir nem a uma hiena. As piadas foram antes da queca. “A brincar, a brincar, o macaco foi ao cu à mãe,” nunca ouviu dizer? Espero que tenha aproveitado para rir nessa altura, porque depois da trancada já vai tarde) e ainda “homem que não é cavalheiro, não volta a ser cavaleiro” (“não volta a ser.” Essa é boa. Quer dizer que qualquer bicho careta tem direito a, pelo menos, uma oportunidade. Que não se diga que a senhora não é democrática). É só rir. Mais uma gaja bem iludida, pensei eu. Contudo, não querendo ser acusado de tirar conclusões precipitadas, achei por bem deitar um olho ao tal livro da dita senhora, no sentido de averiguar se as suas palavras valem sequer o papel em que são impressas. Procurei-o numa livraria e, após analisar o índice e ler uma ou outra passagem para me inteirar do conteúdo, retirei as minhas conclusões, que agora partilho com o leitor.

O tema é a infidelidade masculina – tema clássico e recorrente que tira o sono a muitas mulheres, que a ele dedicam grandes paranóias e obsessões (bastas vezes justificadas, conceda-se). “Com este livro,” diz a autora, “as amantes vão aprender a exigir todos os direitos que têm e as mulheres a descobrir as carecas dos seus maridos.” Em pouco mais de 300 páginas (escritas a letras garrafais, para não cansar os olhos – nem o cérebro), e adoptando a heterónima Maria Moira (a sua prima “executiva sem tempo nem pachorra para casar, que prefere homens em part-time”), a autora propõe-se ensinar as mulheres, sejam elas as legítimas ou as ilegítimas, a tirar o maior proveito possível da infidelidade. O livro está dividido em 4 capítulos: I – Manual Didáctico da Amante; II – Exemplos Práticos (uma edificante colecção de casos verídicos); III – Regulamento de Utilização das Mulheres de Recreio (uma proposta de legislação dos Direitos, Deveres e Limitações das várias partes envolvidas, “resumo de toda a teoria e prática apresentados nos dois capítulos anteriores”); e IV – Identificação das Espécies (que formam o triângulo amoroso).

O tal livrito não deixa de ter a sua piada. Porém, parte da premissa errada de ser o homem o único culpado pela infidelidade, pois é quem engana as pessoas com quem se envolve. A esposa limita-se a ser “desatenta” e a amante a “aproveitar.” Erro crasso. Pior: erro sexista, que apenas perpetua os preconceitos vigentes entre géneros, contribuindo para a pobre comunicação na relação entre homens e mulheres. Pasmo com este disparate que certas senhoras advogam de procurar lucrar com a infidelidade, ao invés de evitar compactuar de todo com este negócio sórdido. Saibam que as relações amorosas são o resultado da interacção de duas (ou mais) pessoas e raras são as vezes em que a totalidade da culpa cabe apenas a uma delas. Enquanto houverem esposas que não dão a devida atenção aos maridos, e mercenárias sem qualquer pejo em envolver-se com homens comprometidos, tornando-se cúmplices no engano (e traidoras do seu género), haverá infidelidade masculina. O homem infiel será sempre o maior culpado, concedo. Mas aqui ninguém é santinho.

quinta-feira, maio 11, 2006

A HOMOSSEXUALIDADE DOS PASTÉIS

Assisto à 30.ª emissão (olha que belo número!) do programa “A Revolta dos Pastéis de Nata,” na 2:. Tema: “A homossexualidade ainda é um tema Durex?” Convidados: Ana Santa Clara, autora do livro “‘não esperes por mim para jantar’” (o que aparentemente faz dela uma colega escritora dedicada ao mesmo campo de interesse que aqui o Jacaré), e Jorge Correia Campos, um daqueles larilas muito requintados que, há uns tempos atrás, davam aulas ao bom – mas matarruano – chefe de família português no programa “Esquadrão G,” na SIC.

Confesso que nunca gastei muito do meu tempo com os “Pastéis.” Gosto dos sketches, porque têm um humor algo corrosivo que me agrada (e com o qual me identifico), mas confesso não ter grande paciência para as entrevistas. Lá o Luís Filipe Borges, o gajo da bóina que apresenta o programa, até é um tipo com piada que manda umas bocas giras e pertinentes. Mas o nível humorístico demasiado ameno das entrevistas não chega ao gozo provocador dos sketches e, desse modo, o programa peca, no meu entender, por alguma falta de coerência. Eu compreendo que o entrevistador tenha alguns pruridos em arrimar umas bujardas mais potentes aos seus convidados em directo para a televisão nacional. Porém, alguns com certeza mereciam ser achincalhados em público e o programa só tinha a ganhar com isso. Ganhava coesão de conjunto. E audiência, claro. Afinal, o povo gosta é de pancadaria. Ainda que seja somente verbal.

No final da emissão de hoje, o entrevistador dá a palavra a uma espectadora no estúdio, Rita Paulos, da associação rede ex aequo, que afirma, em género de nota conclusiva, existirem estudos que provam ser a homossexualidade o resultado de predeterminação genética. Agarrando-se a esta afirmação como uma beata à Bíblia, a Santa Clara vai mais longe e assevera fervorosamente que “as pessoas têm que meter isto na cabeça! Está mais do que provado que a homossexualidade é uma questão genética! Não é uma opção!” E logo António Serzedelo, presidente da Opus Gay, e também espectador no estúdio, lhe corta secamente a palavra, alegando que a convidada “está enganada,” não havendo nenhum estudo conclusivo nesse sentido, apenas teorias. A mulher fica atarantada, sem compreender bem o porquê do tom ríspido da resposta do outro. Mas a Rita vem em seu socorro, voltando a insistir que, apesar de “não haver provas cabais,” a maricada não escolhe ser larilas.

Bonito. Andam os gays a lutar há anos pelo seu direito à diferença e à livre escolha e vêm estas gajas, cheias de boas intenções, afirmar categoricamente que esta não é uma questão de escolha, mas sim de genes. Não acham curioso que seja o homem da Opus Gay quem precisamente contesta as suas afirmações? Pelo seu lado, o Correia Campos nem pia. Ambos sabem que a última coisa que devem fazer é escudar-se atrás desta teoria (independentemente dela vir ou não a provar-se definitiva mais tarde), pois isso é meio caminho andado para passarem a ser encarados pela sociedade como coitadinhos deficientes. No final, isto tudo só vem revelar que, a despeito de todo o liberalismo apregoado, estas mulheres – heterossexuais, presumo eu –, bem lá no fundo, encaram os homossexuais como aleijadinhos de cromossomas defeituosos. E depois admiram-se que os rabilós se virem contra elas quando elas os estão a ajudar na sua luta pela causa.

Enfim, eu só tenho pena que a polémica tenha estalado apenas no final do programa. Gastaram o tempo todo com a conversa de chacha e os chavões politicamente correctos do costume e logo quando as coisas começam a ficar interessantes é que tiveram de terminar a emissão. E, pior de tudo, sem sequer um mísero show lésbico para animar! Caramba, um tema destes era a desculpa perfeita para passar umas imagens quentes de duas miúdas giras e boas enroscadas uma na outra! Mas fizeram-no? Claro que não. E ainda acham que são irreverentes. Cambada de maricas!

domingo, maio 07, 2006

PARABÉNS AO JACARÉ

Hoje completo uns preenchidos 30 anos de vida! Alegria! Felicidade! Boa disposição!

Sempre que acrescento mais um ano à minha soma etária, gosto de olhar para o passado e fazer o balanço àquela porção de existência que ficou para trás das costas, comparando aquilo que fui com aquilo que sou, e projectando aquilo que tenciono ser. E é sempre com desbragado regozijo que chego à feliz conclusão que, tal como um bom vinho, me torno cada vez melhor com o passar dos anos. Melhor como homem, melhor como pessoa, melhor como ser humano.

Presunçoso? Talvez o seja. Mas gosto de pensar que não é por acaso que, por vezes, aqueles que me conhecem decidem agraciar-me com mimos como este da bela Sassita: “tu tens um ego enorme. Mas o pior é que tens razões para isso. E mereces todos os elogios que continuamente te fazem.” Aproveito o ensejo para lançar daqui os meus sinceros agradecimentos a todos os meus amigos e familiares que me estimam e amam, que não se coíbem de mo fazer sentir todos os dias e que, no fundo, tornam esta vida numa maravilhosa e gratificante experiência que merece ser vivida.

Mas aquele que é, com certeza, o mais justo merecedor dos mais sentidos agradecimentos, pois é ele, sem qualquer dúvida, o principal responsável por aquilo que hoje sou com todo o orgulho... sou eu mesmo. Analisando esta última década de vida, reconheço que muita coisa mudou em mim. Há uma década atrás, eu não passava de um nerd virgem encalhado, com insegurança a mais e auto-estima a menos. Não tinha postura, não tinha presença, não tinha estilo. E, pior ainda, não tinha conversa, não tinha experiência, não tinha savoir faire. Em suma, não tinha qualquer interesse. As minhas qualidades resumiam-se ao facto de ter nascido com um belo par de olhos claros e ser um rapaz simpático, inteligente e civilizado, fruto da educação recebida. Restava-me ainda o talento para o desenho, mas desenganem-se aqueles que pensam que isso é excelente para engatar gajas. O “Titanic” é só tretas! Mais saída têm os fotógrafos que os desenhadores.

Portanto, tive que me recriar. Se não estava satisfeito com o que via ao espelho, logo trabalhei no sentido de alterar a situação. Não perdi tempo a choramingar nem a sentir pena de mim próprio. Não gostava do meu aspecto? Mudei de roupa e de óculos. Cortei o cabelo, deixei crescer a pêra (e vice-versa). Não sabia como relacionar-me com as pessoas à minha volta? Experimentei o Teatro. Tirei um curso de Animadores de Colónias de Férias. Dediquei-me aos chats da Internet, conheci dezenas de raparigas, combinei encontros e saí com miúdas até encher a pança. Não tinha tacto com as raparigas? Aprendi a dançar. Aprendi a fazer massagens. E, entretanto, observei, analisei, meditei e tirei as minhas conclusões.

Não posso deixar de referir o quanto aprendi só de ver actuar o PP, meu grande amigo e mentor em questões de mulheres, diplomado com distinção na Arte do Engate (cheers, mate!). Porém, enquanto este gajo parece ter nascido com a arte, eu tive que a pesquisar, estudar, experimentar, trabalhar e desenvolver. Em suma, tive que percorrer um caminho que me obrigou a defrontar obstáculos e a ultrapassá-los, permitindo-me aprender a identificar os problemas e a extrair as soluções que, hoje em dia, partilho com os não tão experientes. E daqui nasceu o Jacaré Voador.

Se é verdade que o Jacaré deve a sua existência ao meu percurso de vida, também é verdade que eu devo parte daquilo que sou hoje ao Jacaré. Por outras palavras, se a minha experiência de vida o influencia, também ele influencia a minha vivência. E este aniversário é, sem dúvida, o culminar de todo esse desenvolvimento e maturação. Mais ainda, é a justa – e merecida – homenagem do homem à sua criação. E da criação ao homem, pois um e outro se fizeram mutuamente. É por isso que brindo a estes 30 anos de vida! Longa vida ao Jacaré Voador!... E venham mais trinta!