quarta-feira, abril 21, 2004

AS VOLTAS DA SALSA

Aprendo Salsa desde o mês passado. Hoje, antes sequer de iniciar a aula, o professor de Salsa pergunta: “Quem acha que melhorou bastante a coordenação motora desde que começou a ter aulas de Salsa?” Os alunos entreolham-se, indecisos e, aqui e ali, levantam-se algumas mãozitas tímidas da massa de gente. Na ala esquerda, onde eu estou, contudo, ninguém se move. O professor decide refazer a pergunta: “Quer dizer, quem acha que melhorou um bocado a coordenação motora desde que começou a ter aulas de Salsa?” Mais algumas mãos no ar; ala esquerda, zero. O professor olha de soslaio na nossa direcção e começa a mostrar-se desconfortável: “Então, quem acha que aprendeu a mexer-se melhor?” Quase todas as mãos no ar, excepto na ala esquerda, que continua a zeros. O professor, em desespero de causa: “OK, quem acha que aprendeu alguma coisa?...” “Ah!” responde a Lena, “Aprendi Salsa,” e levanta a mão. E, com ela, toda a ala esquerda, concordante e sorridente, levanta a mão. O professor, é desnecessário dizê-lo, é a imagem perfeita da frustração.

A inflexível ala esquerda, convém referi-lo, é formada pelos alunos da aula de Danças de Salão, a maior parte já com largos anos de experiência. Eu, por exemplo, conto mais de seis anos de dança e a Lena já contava três quando eu me iniciei na arte! Portanto, não é, seguramente, com apenas mês e meio de aulas de Salsa de uma hora por semana que este rapazola, por muito bem intencionado que seja, pretende melhorar minimamente a nossa coordenação motora, ou o que quer que seja. As suas perguntas são boas para os pés-de-chumbo que nunca dançaram nada de jeito na vida, não para esta malta calejada de muitos anos de dança.

Sinto uma ponta de animosidade da parte do professor de Salsa durante o resto da aula. E não é para menos. O gajo levou-as todas juntas, coitadito, mas a verdade é que estava mesmo a pedi-las. Colocou as perguntas erradas às pessoas erradas...

Eu compreendo a sua intenção: ele queria averiguar até que ponto é que o pessoal estava a gostar das suas aulas. Mas não quis perguntar directamente (até porque é impossível quantificar o gostar em termos exactos), portanto, considerou ser mais legítimo basear-se no desenvolvimento pessoal dos alunos para avaliar a utilidade das aulas, e daí depreender o nível de apreciação geral das aulas por parte dos alunos. Foi tosco da parte dele e um tremendo erro de cálculo. Se ele não fosse tão inseguro, nem precisava de ter perguntado. Bastava olhar à sua volta. Se a aula tem afluência e os alunos se mostram bem-dispostos e divertidos, é óbvio que estão a gostar! Look no further, man! There’s your answer!

Quanto à utilidade, isso é assunto que diz respeito a cada um dos alunos isoladamente. Quem lhe disse a ele que me inscrevi nas aulas de Salsa para melhorar a coordenação motora? Eu quero é aprender a dançar Salsa e a fazer aquelas voltinhas maradas que não me ensinam nas Danças de Salão! Para mim, a utilidade vem depois, na pista de dança, quando eu já souber dançar Salsa a potes e usar as voltas que aprendi nas aulas para dar a volta a qualquer miúda gira...

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