segunda-feira, dezembro 25, 2006

A MELHOR PRENDA DESTE NATAL



Palavras para quê? Não é lindo, o meu Jacarezinho Voador? Só uma namorada se lembraria de uma coisa destas. Ela estraga-me com mimos.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

UM DIA O CASAMENTO VEM ABAIXO

Revejo na televisão o filme “Um Dia a Casa Vem Abaixo” (“The Money Pit,” de Richard Benjamin). Há vinte anos, este clássico fazia parte dos filmes que qualquer criança de 10 anos tinha obrigação de conhecer, entre “Os Caça-Fantasmas,” as sagas do “Regresso ao Futuro” e do Indiana Jones (em especial “O Templo Perdido,” por causa da cena do banquete de sopa de olhos e sobremesa de miolos de macaco), “Top Gun – Ases Indomáveis,” o “Karate Kid – Momento da Verdade,” a “Academia de Polícia” (particularmente o terceiro episódio, responsável pela formação da equipa mais famosa e representativa da série), “Dança Comigo” (ou “Dirty Dancing,” especialmente amado entre as meninas – embora também eu achasse, já na altura, aquelas danças altamente apelativas. E pornográficas) e, naturalmente, a epopeia da “Guerra das Estrelas” (tirando “O Império Contra-ataca.” É sabido que é o mais dark da trilogia original, mas, para os putos, tem falta de Ewoks).

De volta ao filme em causa, a aventura começa quando o casal Anna Crowley e Walter Fielding (a irritante Shelley Long e o sempre divertido Tom Hanks) compra uma magnífica mansão por uma pechincha. Com extrema felicidade os pombinhos mudam-se para a sua nova residência e deitam mãos aos pequenos trabalhos de reparação que a moradia necessita: aquele degrauzito manhoso da escadaria. Mas cedo a alegria (e não só) desmorona, à medida que os pequenos reparos se multiplicam numa carga de trabalhos – e o tal degrauzito manhoso se converte na derrocada total da escadaria. E da porta de entrada. E da banheira. E até de uma árvore do jardim. Sem falar da explosão do circuito eléctrico nem da canalização que expele uma lama nauseabunda digna de um filme de terror em nome próprio. É nessa altura que os nossos heróis decidem recorrer à artilharia pesada, dando início a uma dança espinhosa com empreiteiros sem escrúpulos e inspectores irascíveis, no intuito de salvar a habitação. Com resultados diametralmente opostos ao pretendidos, claro, enquanto a diversão do espectador aumenta na medida em que a desditosa casa cai.



Apertados de massas, Anna apela ao ex-marido, o maestro Max Beissart (Alexander Godunov, o implacável Karl do “Assalto ao Arranha-Céus” – outro filme pertencente à lista lá de trás), vendendo-lhe os bens que ganhara com o divórcio (ou seja, primeiro rapina o rapaz e depois vende-lhe o produto do roubo. É de mestre!). Mas Max aproveita que Walter está ausente da cidade em trabalho, seduz a rapariga, leva-a a jantar, embebeda-a e trungas (need I say more?)! Confrontada posteriormente pelo inseguro Walter, Anna mente. Ele insiste, promete ser compreensivo, e ela mente mais. Ele insiste muito e ela mente ainda e sempre. Só mais tarde, roída pelos remorsos, decide contar a verdade. Walter, naturalmente, mostra-se aborrecido (“YOU WHORE!”). E a espertalhona da gaja, aproveitando a deixa, dá uma de ofendida – porque ele não está a ser nada compreensivo, ao contrário do que prometera –, chama-o de hipócrita e chauvinista e expulsa-o do quarto. E o invertebrado sai. No dia seguinte, Anna continua amuada e recusa-se a falar com Walter. Faz sentido. É naturalíssimo, atendendo a que isto se passa num país em que o próprio sistema de Justiça funciona nestes termos: “Oops, esquecemo-nos de ler os direitos a este maroto quando o apanhámos em flagrante. Agora temos que o libertar. Ai ai, que pouca sorte! Bem, fica para a próxima. É só esperar que ele viole e mate outra criancinha. Afinal, a falta foi nossa.”

É então que Max revela a Anna que a tal noite de sexo entre eles nunca acontecera; ela é que estava bêbeda demais na noite em causa para ter consciência do que tinha ou não acontecido entre ambos e ele aproveitara o facto para distorcer a verdade (e confesse lá, amigo leitor, que também se deixou enganar com aquele “trungas” lá atrás, não foi?). Mesmo assim, ela decide não contar a verdade a Walter: “Ele não me perdoaria e eu não lhe perdoo por isso.” (E eu desafio alguém a encontrar aqui uma migalha de lógica plausível. Estaria ela ofendida por Walter ter duvidado da sua fidelidade? Que cabra hipócrita! Ela própria foi a primeira a acreditar que o tinha encornado! E só não o fez porque o arrogante Max foi um cavalheiro e decidiu não se aproveitar da beberrona.) Mas, previsivelmente, é o frouxo Walter quem acaba por dar o braço a torcer no final. É ele quem volta a rastejar para a gaja a dizer que não se importa que ela tenha dormido com Max: “Estou feliz que tenhas dormido com ele, porque agora sei o quanto te amo. Foi a melhor coisa que nos podia ter acontecido.” Ora ainda bem que gostaste, seu cornudo em potência. Casa-te já com a gaja e terás provas de Amor dessas todos os dias da tua vida. Várias por dia, se quiseres.

Apetece-me vomitar. Preocupa-me sobremaneira vir a descobrir em adulto que certos filmes adorados na infância e tidos como inocentes afinal tresandam a morais carunchosas e pervertidas. Porque, na minha inocente meninice, eu papava incautamente esta merda às colheradas... e lambia os beiços! Sinto-me traumatizado (e não é de hoje!). Preciso de rever urgentemente o “RoboCop” e o “Exterminador Implacável” para restaurar a fé nos filmes da minha infância.

domingo, dezembro 10, 2006

VAMOS AO CIRCO!

Assisto ao Circo de Natal do Coliseu dos Recreios. É uma tradição familiar. Exceptuando uma ou outra falta de presença ocasional, todos os anos cá estamos. Especialmente desde o nascimento do meu sobrinho, primeiro digno representante da nova geração da família, há pouco mais de 4 anos.

Contudo, confesso que o Circo nunca me cativou por aí além. Nem quando era um puto reguila (mentira, que eu sempre fui um miúdo sossegadito). O único motivo que me levava – e leva ainda hoje – ao circo são os graciosos e torneados corpos das partenaires dos artistas, a sua pujança a ameaçar rebentar pelas costuras os trajes ridiculamente justos. Porque, fora isso... pouco se safa.

Para começo de conversa, detesto números de animais amestrados. Acho os leões demasiado indolentes, os répteis demasiado drogados, os cães demasiado patéticos, os macacos demasiado insultados, os ursos demasiado surrados, os elefantes demasiado doentes. E todos demasiado ridículos e infelizes. Como o camelo que, certa vez, me impingiram. Era a estrela mais brilhante de toda a companhia nesse ano, apregoado aos sete ventos como a maior maravilha do mundo circense! Pois, na prática, o ruminante bicho, de bossas bambas, entrou no recinto, deu uma volta à pista e voltou a sair. E palmas para o camelo! (Palmas mas é para os camelos, que pagaram bilhete para ver este logro descarado.) Noutra ocasião, tive a infelicidade de assistir a um número de gatos amestrados. “Gatos amestrados?!” espantou-se a minha irmã, “Mas os gatos não se amestram!” Ah não que não se amestram! É colocá-los em situações de vida ou morte e logo temos espectáculo! Uma corda pendurada ao alto, um gato aferrado à corda, ateia-se fogo à ponta inferior da corda e é ver o gato a trepar por ali acima feito Tarzan. E palmas para o bichano!

Por estas e outras, o único circo que eu admiro é o Cirque du Soleil. É o único que eu conheço que conseguiu restituir o fulgor às artes circenses pela integração de outras formas de arte performativa como a Dança, o Teatro e a Música, transcendendo o formato tradicional do Circo (adeus bicharada e adeus mestres de cerimónias irritantes) e transformando o todo num espectáculo total que, este sim, vale muito a pena apreciar. E não só pelas gajas boas.

Seja como for, tirando esta excepção à regra, a arte circense já não é o que era. O Circo, nos seus moldes tradicionais, morreu. Há largo tempo que está bem morto (nem sei porque insistem em exumar, de ano a ano, o fedorento cadáver). No tempo dos nossos avós, sim, aquilo era outra coisa. Os artistas de circo eram considerados super-humanos, devido às suas extraordinárias habilidades físicas e artísticas. Não é por acaso que o Super-Homem usa as cuecas sobre os collants – o seu uniforme (e o de tantos outros super-heróis) foi inspirado no vestuário dos artistas de circo, os verdadeiros super-homens (e mulheres) dos anos 30. Porém, hoje em dia, habituados que estamos a todo o tipo de aptidões extraordinárias – do Matrix ao Star Wars, passando pelo Dragon Ball –, quem é que ainda fica de queixo caído perante um gajo coberto de maquilhagem e purpurinas, vestido de collants e maillot de lantejoulas, capaz de pôr uma perna às costas e coçar a orelha com o dedo grande do pé? Sejamos francos: para ver coisas destas não preciso ir ao circo. Basta-me ver na televisão (ou na Internet) um videoclip do Marilyn Manson, que fico muito bem servido.

Por isso afirmo que o Circo morreu. E não admira. De facto, quem precisa do circo, quando o mundo real já tem muito de Circo, com super-heróis, palhaços e aberrações para todos os gostos?