terça-feira, novembro 16, 2004

ATOMIC TA2

Há uns tempos atrás, o meu amigo Misfit pediu-me que fizesse um desenho para uma tatuagem para ele. Prontamente, acedi. Não foi esta a primeira vez que me pediram desenhos para tatuagens. Há quatro anos atrás, o Fortes (tudo em cima, rapaz? Tudo rijo contigo?) também me fez o mesmo pedido: queria um diabinho, com pinta de bebé maroto. Ou seja, motivo de gaja. As gajas é que acham piada a mariquices dessas. Mas eu concedi. E concretizei, duplamente (como se pode admirar mais abaixo, naquela que foi a minha primeira obra totalmente colorida no computador).



Porém, o gajo nunca chegou a tatuar nenhum dos meus diabos. “Têm demasiado detalhe,” disse. Ao invés, optou por tatuar uma rosa vermelha no tornozelo. Muy maricón, sem dúvida. Mas, e daí, o que é que se poderia esperar de um tipo que foi criado pela mãe e pela avó, sem qualquer referência masculina? Uma amiga minha (cuja identidade permanecerá anónima), que chegou a andar (brevemente) com ele, contou-me que o gajo sofria de ejaculação precoce (quando não tinha impotência) e que vivia agarrado às saias da mãe. Eu até aposto que foi a mãe quem meteu o bedelho no assunto da tatuagem: “Ai, filho, um diabo, que horror! Mas agora o meu querido rebento vai andar o resto da vida com um demónio infernal tatuado na sua pura pele de alabastro? Não, filhote, nem pensar. Olha, que tal se tatuasses... uma flor! Hã? Não era muito mais bonito? Uma rosa vermelha! Ou então... uma pomba branca, da Paz! O que achas, meu amor?” “Oh, mamã, gostei tanto dessa ideia da rosa! Tens razão (como sempre). É isso mesmo que eu vou fazer. E quando tiver mais dinheiro, tatuo a pomba branca aqui na nádega direita, que achas?” “Oh, querido! Que ideia deliciosa! Depois disso, terei ainda mais gosto ao mudar-te as fraldinhas!”

Ah ah! Bom, chega de gozo. Ao contrário dessa florzinha de estufa (que espero que nunca veja este blog), o Misfit vai mesmo tatuar um desenho meu, que pode ser apreciado na imagem mais abaixo – a ideia original é do Misfit, a composição e o desenho são meus e a arte-final, ou seja, o sombreado, é do “Master ShowmanJoão, o tatuador (que ficou bastante impressionado com o meu portfolio de desenhos – “Isto tem muita saída,” diz ele, apontando para os meus diabinhos, “As raparigas adoram estes motivos.” Estás a ouvir isto, ó Fortes?...).



Estamos na Atomic Tattoo Studio, em Lisboa (com site em www.atomic-tattoostudio.com) e, sentado a uma mesa de luz, o João copia o meu desenho para o decalque, enquanto o Misfit se prepara, rapando os pêlos do braço. Pouco depois, o desenho do decalque é transferido para o braço do meu amigo que, enquanto espera que o desenho seque, me pede que fotografe a obra à medida que evolui o processo de tatuagem.

É a primeira vez que vejo uma tatuagem ser feita in loco. O João começa por tatuar as principais linhas de contorno do desenho, guiando-se pelo decalque. Fica assim com um esboço geral que, gradualmente, vai firmando com traços cada vez mais fortes, até chegar ao desenho final. As sombras são adicionadas no fim, e do mesmo modo progressivo. É um processo demorado e de crescente afirmação, no qual são usadas várias máquinas, com pontas de diferentes espessuras, que são molhadas em pequenos recipientes cheios de tinta de diferentes intensidades, para criar as diversas gradações da mancha.

Se sangra muito? Um pouco, sim. Mas a Vida é isso mesmo – sangue, suor e lágrimas. Aqui, o sangue é do Misfit, o suor é do João e as lágrimas... Bom, neste caso, não há lágrimas. O Misfit é o único que está em posição de choramingar um bocadito, mas o gajo é um calmeirão que já sobreviveu a muitas tatuagens para agora se pôr com histerismos. Talvez as coisas fossem diferentes, caso fosse o Fortes no seu lugar... Da próxima vez que o encontrar, não me posso esquecer de lhe perguntar se ele chorou quando fez a tatuagem da rosa. Aceito apostas.

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