terça-feira, novembro 09, 2004

ONE DOWN, ONE TO GO

De manhã cedo, tenho consulta de Ortopedia no Hospital de Sant’ Ana, na Parede. A minha última consulta de Ortopedia. Combino ir com o meu amigo PP, que me oferece boleia e companhia, mas ele atrasa-se. “Está um trânsito do caraças; já me estou a passar! Estou a dez minutos da tua casa, mas, por este andar...” E, de facto, passa quase hora e meia do combinado quando ele finalmente aparece, com os nervos em farrapos por causa do trânsito. Independentemente da validade da sua desculpa, eu poderia estar chateado por estar tão atrasado para a minha consulta. Mas não vale a pena. Este gajo está sempre “a sair agora mesmo daqui” ou “a cinco minutos daí” e não é raro deixar as pessoas a secar eternidades à sua espera. Porém, após mais de dez anos de amizade com alguém assim, certos comportamentos são considerados como feitio, e não como defeito.

Apesar de tudo, o facto de chegar tão atrasado à consulta tem as suas consequências positivas. “Estávamos à sua espera,” diz-me uma das enfermeiras, quando me identifico junto ao balcão. À minha espera?! Mas isso denota interesse da parte do hospital pelo meu caso e eu estou habituado a ser tratado pelo Serviço Nacional de Saúde como se não importasse mais que um mísero pintelho! Contudo, a enfermeira direcciona-me prontamente para a sala de radiografias, recomendando-me que me despache, pois “a doutora tem de ir para o Hospital S. Francisco Xavier daqui a pouco.” E, de facto, na sala de radiografias, sou imediatamente despachado, passando à frente de toda a gente que aguarda a sua vez na sala de espera. Enquanto me tiram a radiografia à clavícula direita, as enfermeiras perguntam-me como estou de saúde, e se ainda ando com o cateter. Estou siderado! Não venho cá há um mês e ainda se lembram de mim?! Agora sinto-me realmente comovido! Agradeço os desejos de melhoras e, com a nova radiografia na mão, levam-me a correr para o consultório, onde me espera a minha médica. Mais uma vez, entro directamente, passando à frente da malta na sala de espera. Que serviço bestial! Uma coisa destas só é possível num hospital com uma logística tão bem estruturada e eficaz como este, que é, de longe, o hospital mais eficiente e organizado de todos os que tenho visitado ao longo desta minha odisseia.



Ao olhar para a radiografia, a minha simpática doutora exclama que tenho uma “consolidação muito exuberante,” o que se pode apreciar pela bela imagem acima, que mostra uma auréola de osso a envolver o ponto da clavícula anteriormente fracturado. Mas é normal, pois os topos do osso fracturado ficaram sobrepostos ao solidificar. “Não há problema nenhum,” garante-me a doutora, “daqui a um ano, essa bola enorme irá desaparecer, pois o corpo tem tendência a eliminar o excedente de osso, até encontrar a configuração original do osso que partiu.” Assombroso!

“O ombro tem-lhe dado algum problema?” pergunta a doutora. Respondo que, de vez em quando, me dói. “Isso é natural, e eu digo-lhe porquê,” responde ela, “quando o osso fracturou, os nervos dessa zona também ficaram danificados. Agora que o osso consolidou, também os nervos se regeneraram e, como são novos, estão mais sensíveis, o que lhe provoca alguma dor quando há mudanças de temperatura, devido à humidade. Agora, o seu ombro funciona como um barómetro, e bem melhor que o do meteorologista!” “Ah,” replico eu, “é como alguns velhos, que predizem as mudanças de tempo conforme lhes doem as articulações!” A médica ri-se: “Exactamente! Alguns velhotes fazem isso, sim senhor. Quanto a si, também vai ficar assim por uns bons anos.” Que potência! Também vou ser um cota vidente! O corpo humano é uma máquina fantástica!

Depois de me dar o seu cartão, para qualquer eventual problema futuro, a médica despede-se definitivamente de mim, desejando-me boa sorte e boas danças. E, pouco depois, sentado com o PP na cobertura do moinho de maré da praia de Carcavelos, a curtir o Sol de Inverno, sinto-me mais aliviado. A clavícula já está arranjada, é um problema a menos. Agora, só me falta mijar!...

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