quinta-feira, maio 11, 2006

A HOMOSSEXUALIDADE DOS PASTÉIS

Assisto à 30.ª emissão (olha que belo número!) do programa “A Revolta dos Pastéis de Nata,” na 2:. Tema: “A homossexualidade ainda é um tema Durex?” Convidados: Ana Santa Clara, autora do livro “‘não esperes por mim para jantar’” (o que aparentemente faz dela uma colega escritora dedicada ao mesmo campo de interesse que aqui o Jacaré), e Jorge Correia Campos, um daqueles larilas muito requintados que, há uns tempos atrás, davam aulas ao bom – mas matarruano – chefe de família português no programa “Esquadrão G,” na SIC.

Confesso que nunca gastei muito do meu tempo com os “Pastéis.” Gosto dos sketches, porque têm um humor algo corrosivo que me agrada (e com o qual me identifico), mas confesso não ter grande paciência para as entrevistas. Lá o Luís Filipe Borges, o gajo da bóina que apresenta o programa, até é um tipo com piada que manda umas bocas giras e pertinentes. Mas o nível humorístico demasiado ameno das entrevistas não chega ao gozo provocador dos sketches e, desse modo, o programa peca, no meu entender, por alguma falta de coerência. Eu compreendo que o entrevistador tenha alguns pruridos em arrimar umas bujardas mais potentes aos seus convidados em directo para a televisão nacional. Porém, alguns com certeza mereciam ser achincalhados em público e o programa só tinha a ganhar com isso. Ganhava coesão de conjunto. E audiência, claro. Afinal, o povo gosta é de pancadaria. Ainda que seja somente verbal.

No final da emissão de hoje, o entrevistador dá a palavra a uma espectadora no estúdio, Rita Paulos, da associação rede ex aequo, que afirma, em género de nota conclusiva, existirem estudos que provam ser a homossexualidade o resultado de predeterminação genética. Agarrando-se a esta afirmação como uma beata à Bíblia, a Santa Clara vai mais longe e assevera fervorosamente que “as pessoas têm que meter isto na cabeça! Está mais do que provado que a homossexualidade é uma questão genética! Não é uma opção!” E logo António Serzedelo, presidente da Opus Gay, e também espectador no estúdio, lhe corta secamente a palavra, alegando que a convidada “está enganada,” não havendo nenhum estudo conclusivo nesse sentido, apenas teorias. A mulher fica atarantada, sem compreender bem o porquê do tom ríspido da resposta do outro. Mas a Rita vem em seu socorro, voltando a insistir que, apesar de “não haver provas cabais,” a maricada não escolhe ser larilas.

Bonito. Andam os gays a lutar há anos pelo seu direito à diferença e à livre escolha e vêm estas gajas, cheias de boas intenções, afirmar categoricamente que esta não é uma questão de escolha, mas sim de genes. Não acham curioso que seja o homem da Opus Gay quem precisamente contesta as suas afirmações? Pelo seu lado, o Correia Campos nem pia. Ambos sabem que a última coisa que devem fazer é escudar-se atrás desta teoria (independentemente dela vir ou não a provar-se definitiva mais tarde), pois isso é meio caminho andado para passarem a ser encarados pela sociedade como coitadinhos deficientes. No final, isto tudo só vem revelar que, a despeito de todo o liberalismo apregoado, estas mulheres – heterossexuais, presumo eu –, bem lá no fundo, encaram os homossexuais como aleijadinhos de cromossomas defeituosos. E depois admiram-se que os rabilós se virem contra elas quando elas os estão a ajudar na sua luta pela causa.

Enfim, eu só tenho pena que a polémica tenha estalado apenas no final do programa. Gastaram o tempo todo com a conversa de chacha e os chavões politicamente correctos do costume e logo quando as coisas começam a ficar interessantes é que tiveram de terminar a emissão. E, pior de tudo, sem sequer um mísero show lésbico para animar! Caramba, um tema destes era a desculpa perfeita para passar umas imagens quentes de duas miúdas giras e boas enroscadas uma na outra! Mas fizeram-no? Claro que não. E ainda acham que são irreverentes. Cambada de maricas!

6 Comentário(s):

A sábado, 17 junho, 2006, Anonymous Anónimo comentou:

Eu adoro os sketches, specialmente os do Gel, curto bue quanto o pessoal lhe quer dar porrada,como quando ele faz de vanderlei haha, e sim as entrevistas sao algo amenas,concordo contigo nisso,e no facto de que essas gajas nao ajudaram em nada a causa dos gays,isso e a mesma historia com a malta querer meter cotas de mulheres,tao as mulheres querem ter tratamento igual ou nao?

 
A quinta-feira, 22 junho, 2006, Blogger mARco comentou:

sinceramente eu não posso lá muito com o gordo da boina... tem umas saídas engraçadas de vez em quando, mas a maioria são tudo clichés e piadas fáceis...

os sketches então acho-os intragáveis, se bem que só vi um ou dois que me condicionaram a ponto de mudar de canal sempre que o badocha diz "então vamos ver"...

no entanto esse episódeo parece ter tido um final interessante... para quem conseguiu ficar acordado pra lá chegar...

 
A domingo, 22 outubro, 2006, Anonymous Anónimo comentou:

Bem, tanto quanto sei, e recordo-me bem do programa, não houve momento nenhum em que tenha sido dito que havia predisposição genética, mas sim que o estudos até agora eram mais favoráveis a probabilidade de origem biológica (o que não é equivalente a genético). Quanto à escolha, está mais que provado cientificamente que não é uma escolha.

Diga-se de pssagem que o Sr. Jacaré só misturou alhos com bugalhos e por falta de informação não sabe ler as nuances do discurso no programa, porque nem a sra da rede afirmou que era genético, nem o sr. da opus disse que a homossexualidade era um escolha.

Cultive-se e informe-se sobre este tema antes de dizer asneiras e de não saber apreender a diferença entre dizer "origem biológica", "genética" e "escolha", etc.

 
A quarta-feira, 25 outubro, 2006, Blogger Jacaré Voador comentou:

Ao contrário de si e da sua grande cabeça, caro amigo, já decorreu tanto tempo desde essa emissão do referido programa, que confesso não recordar de facto as "nuances do discurso."

Assim, a única coisa que posso garantir é que, na altura, vi a dita emissão do programa três vezes:

Uma, a emissão em directo.
Duas, no momento em que escrevia o texto para "A Goela," para acertar pormenores (id est, as palavras exactas usadas por cada um dos intervenientes no seu discurso).
E três, como confirmação final.

Não pretendo com isto arrogar-me maior credibilidade sobre o que foi ou não dito no tal programa. Pelo meu lado, estou muito certo daquilo que escrevi). Mas não quero desdizer o seu genial bestunto que, a esta distância no tempo, se "recorda bem do programa" e de todas as suas nuances.

Portanto, creio haver apenas duas vias para resolver satisfatoriamente este assunto:

Ou rever a referida emissão do programa, ao invés de gastarmos o nosso latim a falar de memória. Ou apelar para a violência e resolver a questão à porrada. Podemos até não chegar a conclusão nenhuma, mas ficaremos mais felizes. Ambos.

 
A terça-feira, 07 novembro, 2006, Anonymous Anónimo comentou:

A questão não é de memória, é de não saber distinguir conceitos e terminologias!

Para isso nada lhe vale a memória (curta ou longa), falta-lhe é inteligência e conhecimento.

Quanto a mim, veja lá, que até tenho toda a facilidade de rever e rever o programa quantas vezes quiser.

 
A quarta-feira, 08 novembro, 2006, Blogger Jacaré Voador comentou:

Caro amigo, porque é que, em vez de perder o seu tempo em insultos que não levam a lado nenhum, não envia o video, para resolver a questão de uma vez por todas? Já que tem tanta facilidade...

É que a este Jacaré até pode faltar a inteligência, o conhecimento e a memória, seja, mas que nunca se diga que ele não dá o braço a torcer e aceita uma derrota. Só precisa é que o provem errado.

Portanto, está à espera de quê? Menos paleio e mais acção, homem! Tem aí no menu ao lado o meu endereço de e-mail. O que não falta lá é espaço. Avie-se!

(A menos que prefira realmente levar isto para a porrada. Eu estava a brincar, mas se fizer questão... Saiba que eu quero é vê-lo feliz.)

 

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