domingo, dezembro 10, 2006

VAMOS AO CIRCO!

Assisto ao Circo de Natal do Coliseu dos Recreios. É uma tradição familiar. Exceptuando uma ou outra falta de presença ocasional, todos os anos cá estamos. Especialmente desde o nascimento do meu sobrinho, primeiro digno representante da nova geração da família, há pouco mais de 4 anos.

Contudo, confesso que o Circo nunca me cativou por aí além. Nem quando era um puto reguila (mentira, que eu sempre fui um miúdo sossegadito). O único motivo que me levava – e leva ainda hoje – ao circo são os graciosos e torneados corpos das partenaires dos artistas, a sua pujança a ameaçar rebentar pelas costuras os trajes ridiculamente justos. Porque, fora isso... pouco se safa.

Para começo de conversa, detesto números de animais amestrados. Acho os leões demasiado indolentes, os répteis demasiado drogados, os cães demasiado patéticos, os macacos demasiado insultados, os ursos demasiado surrados, os elefantes demasiado doentes. E todos demasiado ridículos e infelizes. Como o camelo que, certa vez, me impingiram. Era a estrela mais brilhante de toda a companhia nesse ano, apregoado aos sete ventos como a maior maravilha do mundo circense! Pois, na prática, o ruminante bicho, de bossas bambas, entrou no recinto, deu uma volta à pista e voltou a sair. E palmas para o camelo! (Palmas mas é para os camelos, que pagaram bilhete para ver este logro descarado.) Noutra ocasião, tive a infelicidade de assistir a um número de gatos amestrados. “Gatos amestrados?!” espantou-se a minha irmã, “Mas os gatos não se amestram!” Ah não que não se amestram! É colocá-los em situações de vida ou morte e logo temos espectáculo! Uma corda pendurada ao alto, um gato aferrado à corda, ateia-se fogo à ponta inferior da corda e é ver o gato a trepar por ali acima feito Tarzan. E palmas para o bichano!

Por estas e outras, o único circo que eu admiro é o Cirque du Soleil. É o único que eu conheço que conseguiu restituir o fulgor às artes circenses pela integração de outras formas de arte performativa como a Dança, o Teatro e a Música, transcendendo o formato tradicional do Circo (adeus bicharada e adeus mestres de cerimónias irritantes) e transformando o todo num espectáculo total que, este sim, vale muito a pena apreciar. E não só pelas gajas boas.

Seja como for, tirando esta excepção à regra, a arte circense já não é o que era. O Circo, nos seus moldes tradicionais, morreu. Há largo tempo que está bem morto (nem sei porque insistem em exumar, de ano a ano, o fedorento cadáver). No tempo dos nossos avós, sim, aquilo era outra coisa. Os artistas de circo eram considerados super-humanos, devido às suas extraordinárias habilidades físicas e artísticas. Não é por acaso que o Super-Homem usa as cuecas sobre os collants – o seu uniforme (e o de tantos outros super-heróis) foi inspirado no vestuário dos artistas de circo, os verdadeiros super-homens (e mulheres) dos anos 30. Porém, hoje em dia, habituados que estamos a todo o tipo de aptidões extraordinárias – do Matrix ao Star Wars, passando pelo Dragon Ball –, quem é que ainda fica de queixo caído perante um gajo coberto de maquilhagem e purpurinas, vestido de collants e maillot de lantejoulas, capaz de pôr uma perna às costas e coçar a orelha com o dedo grande do pé? Sejamos francos: para ver coisas destas não preciso ir ao circo. Basta-me ver na televisão (ou na Internet) um videoclip do Marilyn Manson, que fico muito bem servido.

Por isso afirmo que o Circo morreu. E não admira. De facto, quem precisa do circo, quando o mundo real já tem muito de Circo, com super-heróis, palhaços e aberrações para todos os gostos?

1 Comentário(s):

A quarta-feira, 06 junho, 2007, Anonymous Anónimo comentou:

Acrescento de minha parte que depois de ver um palhaço "tirar a máscara", e sair de lá um homem quarentão a suar e com uma camisola de alças branca e cabelo seboso, nunca mais eu achei qualquer piada, e passei a ter qualquer pavor enojado a estes senhores que se calhar nem são tão maus, mas parecem :|
E se já não achava particularmente glamourosa a vida de circense, mais dificil fiquei de convencer depois de ver os bastidores, os animaizinhos reduzidos a "despesas" que convém conter de qualquer forma... :(
Prontos, agora fiquei triste :(

 

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