sábado, outubro 23, 2004

O CROMO DO TANGO

No início da semana, apesar dos antibióticos que tenho andado a tomar, o furo que tenho na barriga, atravessado pelo cateter urinário, infectou. No hospital Egas Moniz, onde agora vou semanalmente para mudar o penso, a enfermeira Emília (a tal dos instrumentos de tortura) usou nitrato de prata para me cauterizar a carne e parar a infecção. Estava a carne já tão purulenta (segundo as próprias palavras da enfermeira), que ela queimou e queimou e eu não senti nada. A dor só veio depois. Passei uma semana dobrado em dois, com a barriga em carne viva.

Apesar de tudo, estou hoje de regresso à dança e à Academia Musical 1.º de Junho de 1893 (no Lumiar, Lisboa) – local onde ensinei Danças de Salão este ano até Julho passado – para participar em workshops de Tango Argentino e de Milonga, ministrados pelos professores Gladys e Oscar e os seus alunos Liliana e Fábio, grupo do Porto que deu aulas na edição deste ano do Andanças.

Durante o workshop, divido-me para dançar com a Vi e a Porto (colegas das aulas de Danças de Salão) e a Vânia, uma antiga colega, rapariga muito bonita e transbordante de sensualidade (e que, ao que parece, deixou o Kwenda pelo beicinho – tough luck, Douradinha!). A azáfama é tão intensa que me esqueço totalmente das minhas dores. Contudo, no intuito de evitar pares fixos e uma vez que são mais as senhoras que os homens (so what else is new?), a Gladys baralha e torna a dar, pondo-me a dançar com uma senhora muito divertida, que está a aprender tango pela primeira vez. “Que sorte!” exclama ela, “Já estive a deitar um olho para os dançarinos avançados e acho que você é um dos melhores! E, ainda por cima, é um rapazinho todo jeitoso... Que sorte a minha!” Olha-me p’a cota, hã?! E ela continua, clamando alto e bom som para o lado oposto do salão: “Ó mana! Vê só com quem é que eu vou dançar! Que grande sorte, hã?”

Mas, na verdade, a sorte é também minha, pois a dita senhora revela muita agilidade na pista de dança, deixando-se conduzir com tal leveza que consigo guiá-la facilmente em passos que ela nem sequer conhece. No final, ela está feliz: “Ah, foi muito bom! Muito obrigado! Até aprendi passos novos e tudo!” Eu sorrio largamente e retribuo o cumprimento. O Jacaré é um cavalheiro.

Mais uma vez, os professores confirmam o excelente método de ensino de que deram mostras em Carvalhais, durante o Andanças, e a prova é que os workshops decorrem muitíssimo bem. Pela minha parte, fico feliz ao descobrir que os professores ainda se lembram de mim. A comprová-lo, está aquilo que me confidencia em surdina o próprio Oscar, depois de me corrigir alguns detalhes subtis na postura: “tenho que exigir mais de ti do que dos outros,” revelando que me considera num patamar diferente dos demais (como já o tinha feito durante o Andanças, quando me convidou a integrar o seu grupo de Tango). O Jacaré é um cromo.

Mas não é apenas o Oscar que se lembra de mim. O primeiro a cumprimentar-me, assim que entrei no salão acompanhado da Vi e da Porto, foi o Fábio. Como não podia deixar de ser. Apesar de namorar a Liliana, a sua mui bela e simpática partenaire, senhora de um voluptuoso corpo de pecado que, seguramente, foi esculpido pelos Deuses, é a mim que este gajo lança insistentes olhares de profunda lascívia, como aconteceu durante todo o Andanças, conforme testemunhado (entre sonoras gargalhadas) não só por toda a party do Jacaré, como também pela própria Ruiva, que sentiu da parte do rapaz uma certa acrimónia para com ela. Pois, pudera! Afinal, era ela quem andava a comer o bonzão a quem o tipo aparentemente queria ferrar o dente! No entanto, não posso deixar de o compreender, pois o gajo revela ter muito bom gosto. Para além disso, o seu interesse coloca-me em competição ao nível da bela Liliana, a gaja boa e grossa, o que é um enorme elogio para mim. No fundo, isto só prova que aqui o Jacaré é tão belo pedaço de homem que não deixa ninguém indiferente. O Jacaré é um super cromo!

3 Comentário(s):

A quinta-feira, 08 maio, 2008, Anonymous Anónimo comentou:

simplesmente so me conseguem demonstrar q mt gente tem dor de corno pela minha pessoa e pelo o q faço,mas enfim nem toda a gente tem o talento q eu e a bella liliana possuimos.
estamos fartos de nos tentar lembrar e nao conseguimos saber quem es...por isso nao entendo o pq de achares q eu te lançei olhares de lascívia pq seguramente nao foste mais do q um mero aluno como ja foram centenas.
ja reparei q substimas mt as pessoas e tambem ja reparei q es uma pessoa frustrada e pouco modesto....ah a unica coisa aqui verdadeira e o teu nome q condiz ctg....CROMO......

 
A quarta-feira, 21 maio, 2008, Blogger Jacaré Voador comentou:

Ah, agora fiquei desgostoso. Que golpe cruel! E eu a pensar que era inolvidável!...

Seja como for, mande lá un petit bisou à querida boazuda da Liliana. Quer saber que ainda hoje tenho sonhos húmidos com ela?

Consigo é que não.

 
A quarta-feira, 21 maio, 2008, Anonymous Anónimo comentou:

Pois de facto nem toda a gente tem talento para mta coisa....
(quiçá comentários menos felizes, do tipo em q se cava... óbvio q falo de mim, Anónimo)
Eu testemunhei esses olhares e se foi um mero aluno como centenas... ui ui...
Quanto à frustração não vi isso em parte alguma do texto...
Mas gostei mto desse comentário... desse tão anónimo.... foi engraçado. :D

 

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