sábado, outubro 30, 2004

AMADORA BD 2004



Visito o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, na sua 15.ª edição, desta feita instalado na novíssima Estação de Metro da Amadora Este (Falagueira). Impressões gerais: o novo local é mais amplo que a atrofiada Escola Intercultural, local onde decorreram as últimas três edições do Festival, o que é uma boa notícia. A má notícia é que o espaço está retalhado em pedaços estreitos e disformes, entalados à força uns nos outros, num conjunto confuso, claustrofóbico e labiríntico. Está visto que foi um arquitecto da tanga que tratou do assunto...

Em termos de conteúdo, é o mesmo de sempre: exposições temáticas, exposições individuais (de autores nacionais e estrangeiros), exibição dos trabalhos referentes ao concurso de Banda Desenhada e, claro, área comercial. A par disto, decorrem também conferências, sessões de autógrafos, workshops e animações. Há sempre muito a decorrer no FIBDA!

Infelizmente, a minha paciência já não é o que era e não me permite passar horas e horas perdidas em deslumbramento, a ler quase cada prancha individualmente (!), como costumava fazer quando era puto. Também já fiz alguma coisa (e vi muito mais!) na área e já não me impressiono facilmente com aquilo que vejo actualmente. É o que faz a idade. Outra consequência é não aguentar estar muito tempo fechado num ambiente atravancado e barulhento sem começar a dar em doido. No entanto, faço questão de ver sempre a exposição de fio a pavio.

Recomendações? As exposições individuais de André Carrilho (autor do cartaz deste ano e excelente ilustrador e caricaturista, cujo trabalho pode ser apreciado em www.andrecarrilho.com), do servo-croata Gradimir Smudja e do americano Seth Fisher valem bem a pena, assim como a de BD Argentina (que inclui nomes incontornáveis como Alberto Breccia, Eduardo Risso e, claro, o genial e inultrapassável Quino – todos eles grandes mestres no domínio do preto e branco) e, a nível de curiosidade (muito embora não revele nenhuma grande surpresa), a grande exposição temática de 100 BDs do Século XX, com especial destaque para as instalações, adereços e apresentação geral desta exposição em particular, assim como de todo o festival.

Pontos baixos? A exposição Colectivo Serra da Estrela (mas quem é que ainda acha piada à BD histórica feita nestes moldes tão clássicos e enfadonhos?! Que seca de morte!) e também a de Luís Louro (a exposição interdita a menores de 18 deste ano – todos os anos há uma – com direito a segurança à porta e tudo, a barrar a entrada às mentes mais jovens e impolutas). Infelizmente, desde a “Alice” que o Louro não faz nada de jeito. Talvez tenha a ver com as suas recentes parcerias com o Rui Zink como argumentista... Não sei, mas também não quero entrar por aí. O certo é que este seu último álbum de ilustrações comentadas (por grandes nomes da nossa praça) é irrefutavelmente fraco. Não traz nada de novo e quanto às ilustrações, enfim, um gajo até acha piada às primeiras duas ou três, mas depois... é mais do mesmo. A evitar. E é pena – eu que até gosto tanto de pornografia...

Contudo, e no geral, o saldo do festival é positivo. Nem que seja apenas por me inspirar, como sempre, uma imensa e indomável vontade de voltar para casa a correr, para desenhar até ter cãibras nos dedos. É isto, sem dúvida, o que mais gosto nas exposições de Banda Desenhada e aquilo que me faz voltar todos os anos e sempre.

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