sábado, outubro 16, 2004

CASAMENTO E SALSA

Hoje levanto-me cedo. E, para meu alívio, sinto-me bem de saúde. Ontem acordei com uma dor aguda junto à glande, como se tivesse um calhau rugoso enfiado pela pila acima. Creio que aquilo que obstrui a minha uretra se deslocou. “Boas notícias,” pensei eu, “Devo estar quase desentupido.” Apesar de tudo, o meu dia foi passado com bastantes dores e também alguma febre. Hoje, apesar de me doerem um bocado os órgãos genitais, sinto-me bem e não tenho febre. Fosse como fosse, e ainda que estivesse às portas da Morte, não podia faltar a esta chamada.

Afinal, hoje casa-se o meu amigo Ti. É dia de festa e alegria! Especialmente porque a Elite vai estar de novo reunida! Desde que nos conhecemos, há mais de seis anos atrás, que a Evita, o Nino, o Ti e eu nos tornámos bons e inseparáveis amigos. E, apesar de cada um de nós ter seguido diferentes percursos de vida, a Elite continua a reunir-se regularmente para grandes mariscadas e momentos de excelente convívio. E esta ocasião é um perfeito exemplo disso, já que a Evita veio expressamente da Costa do Marfim, onde reside actualmente com o noivo, para o casamento.

O evento é o mesmo de sempre: o calvário da missa e de carradas intermináveis de fotografias só é suportável pela perspectiva da paparoca. Contudo, não estou nada satisfeito com a companhia que me calhou em sorte na mesa do almoço. O Nino e eu aqui tão belos e solteiros e logo havíamos de ficar encalhados nesta mesa cheia de casalinhos quando, mesmo na mesa ao lado, estão três grossas febras desacompanhadas! Não há direito! Alguém vai pagar por isto! O que nos vale é a companhia refrescante da Evita, senão estávamos agora bem agarrados ao pau!...

Após o almoço há animação: Salsa! Um grupo de dançarinos executa uma exibição, seguida de workshop. Assim que o professor solicita participantes para a contradança, apresento-me de imediato, arrastando a Evita pelo braço. Formando uma roda, os dançarinos seguem as instruções do professor, repetindo os passos aprendidos anteriormente. E, como não podia deixar de ser, não há rapariga que me passe pelas unhas que não pergunte se eu danço – é o domínio! Uma das alunas de Salsa vai mais longe: “Tu estavas no Andanças deste ano, não estavas?” Eu confirmo. E sorrio. Não me lembro dela, mas, pelos vistos, ela lembra-se muito bem de mim.

Entretanto, aproveito para meter conversa com as três grossas febras da mesa vizinha, à medida que me vão passando pelas mãos durante a dança. A rapariga das calças pretas bem justas e farto peito que parece convidar a mergulhar naquela opulência carnal exibe uma cara de poucos amigos e reage cheia de indiferença às minhas investidas. A sua amiga do vestido com as costas tão descaídas que dá para ver a tanguinha está muito mais receptiva, mas tem ar de vaca e dança mal. Quanto à terceira menina, jackpot!, tem um lindo sorriso e deixa-se conduzir muito bem. Enverga um elegante vestido rosa, que lhe salienta as graciosas curvas da anca e, curiosamente, é muito parecida com a noiva. Pergunto-lhe se são irmãs e ela confirma, mostrando-se extremamente simpática. Conversamos um pouco e, mais tarde, troco um demorado e significativo olhar com ela, que me cumprimenta sorridentemente do outro lado do salão. E eu retribuo o cumprimento.

Ao comentar o assunto com o irmão mais novo do noivo, o meu grande amigo Ballistic, ele avisa-me que a doce menina “tem dono.” “Se realmente tem dono,” replico eu, “onde diabos anda esse gajo, que não apareceu no casamento da cunhada?...” O Ballistic não me sabe responder, nem me parece muito interessado no assunto – as suas atenções estão centradas numa jovem prima gótica, mui bela e dramática. De qualquer modo, pouco antes de abandonar as festividades, no momento das despedidas, aproveito para elogiar à noiva a beleza da sua jovem irmã. Ela mostra-se imensamente agradada e o Ti, aproveitando de imediato a deixa, tece longos elogios acerca da minha pessoa, enquanto me pisca o olho repetidas vezes. Mas a noiva permanece silenciosa sobre o assunto, o que me leva a dar crédito às palavras do Ballistic. Seja como for, o facto é que a primeira impressão que dei à menina de rosa foi altamente positiva. E, de facto, o noivo comenta comigo mais tarde que as grossas febras ficaram com a ideia que a Evita e eu somos namorados. Eu rio-me com gosto. Isto acontece-nos frequentemente. A Evita e eu partilhamos uma profunda amizade e intimidade de anos, que facilmente é confundida por algo mais por quem nos observa de fora. Muito sinceramente, não me incomoda nada que isto aconteça, pois, sendo a Evita uma bela e maravilhosa rapariga, quaisquer especulações acerca de uma relação entre nós os dois apenas beneficia a minha reputação. Além disso, o facto das grossas febras terem perdido tempo com estas considerações, revela que o assunto da minha disponibilidade amorosa as interesse.

Mas é natural que assim seja. Porque, afinal, pertenço à Elite e este grupo é, de longe, o mais elegante e distinto de todo o casório. Ou não fosse constituído por alguns dos meus melhores amigos. E eu.

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