domingo, outubro 10, 2004

DESILUSÃO

Na quarta-feira passada, quase uma semana depois de ter enviado à Ruiva o longo e-mail explicando os motivos pelos quais acredito estar condenada a nossa relação, ela ainda não respondeu. Desconfio que este silêncio anormal não augure nada de bom... Temo que ela esteja magoada e não me queira sequer falar... Mas também lhe cabe a ela uma palavra sobre o assunto e eu confesso que a parte mais irrecuperavelmente romântica de mim ainda não perdeu totalmente a esperança dela não querer que a nossa relação termine. Seja de que maneira for, eu preciso de uma resposta sua. Nem que seja para encerrar de vez o assunto. E esta minha breve visita ao Porto apresenta-se como a oportunidade ideal para conversar com ela em pessoa. Portanto, decido telefonar-lhe – “se Maomé não vai à montanha...”

No entanto, contrariando as minhas (mais negras) expectativas, a voz que me atende é de uma doçura extrema. Trata-me até por “fofinho” e “amor”! Estou atónito e não o escondo. “É claro que eu quero continuar a ouvir a tua voz,” responde ela. Diz que já escreveu há uns dias a resposta à minha missiva, mas não ma enviou porque queria certificar-se dos seus sentimentos sobre o assunto. “Envio-te a resposta hoje à noite ou amanhã.” Ao desligar, estou mais confuso do que antes... Que significa esta conversa? Afinal, acabámos... ou nem por isso?... Por um instante, o meu lado romântico permite-se sonhar... Até que, na noite do dia seguinte, recebo finalmente a sua resposta. Em resumo, diz que eu tenho razão em todas as conclusões expostas. O seu discurso é pacífico e resignado. Creio que isto esclarece as minhas dúvidas. E bye-bye, romantismo.

Seja como for, combinamos “tomar cafezinho” no fim-de-semana. É bom, porque penso que uma separação pede sempre um confronto face a face – para rematar pontas soltas. Convido-a ainda para assistir à minha exibição de Danças de Salão de Sábado à noite, mas ela está ocupada. “Mas encontramo-nos no Domingo de manhã. Eu ligo-te e vou ter contigo,” diz-me ela.

Passa um pouco das dez horas desta manhã cinzenta e chuvosa de Domingo quando recebo o seu telefonema. No hotel, a comitiva da Associação da Faculdade de Economia de Luanda, que eu acompanho, prepara-se para sair, para visitar o Estádio do Dragão e as Caves do Porto antes do almoço. Quanto à Ruiva, percebe-se pela sua voz que acaba de acordar; imagino-a até deitada na cama enquanto fala comigo. “Está um tempo horrível!” diz ela, “Apetece-me estar contigo, mas não me apetece nada conduzir 30 quilómetros à chuva para o Porto! Não sei o que fazer!” Suspiro fundo. Compreendo tudo imediatamente: se ela quisesse realmente estar comigo, não me vinha com esta conversa. É transparente como a água que cai do céu que ela prefere ficar em casa... Só não quer dizer-mo abertamente e magoar-me. Tarde demais. Porém, não sou eu certamente quem a vai obrigar a vir ter comigo, por isso, facilito-lhe a tarefa: “Então, se tu não sabes o que fazer, sei eu: fica em casa e descansa, que o teu mal é sono. O café fica para outra vez.” Ela hesita um pouco: “E tu não ficas chateado?” Asseguro-a que não. E é verdade. Não fico chateado, fico desiludido. Fico triste. Pouco depois, despedimo-nos, com a promessa de tomarmos o nosso “cafezinho” na sua próxima visita a Lisboa.

Passo o resto do dia na merda. Nem os constantes incitamentos do bom amigo Flogger ou das meninas me devolve a minha boa disposição natural. Como as coisas mudam rapidamente, hã? Pensar que há menos de um mês atrás a sua paixão era tanta que ela passava os dias a pensar em mim, e agora... nem sequer é suficiente para a levar a conduzir 30 quilómetros à chuva para estar comigo. De bestial a besta vai apenas um breve passo...

Que desilusão tremenda! Esta merda dói...

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