DUVIDAR OU ACREDITAR
Depois de dias a matutar no assunto, tomo uma dolorosa decisão. E termino o namoro com a Ruiva... Sinto-me desesperadamente triste porque gosto dela (por muito paradoxal que seja, nesse ponto nada mudou) e tenho receio de estar a ser demasiado drástico. Porém, quanto mais penso no assunto, mais terrivelmente inevitável me parece a conclusão.
A Ruiva esteve em Lisboa toda a semana passada. Hospedada na minha própria casa. Convidada pela minha própria mãe (que, curiosamente, já a adoptara sem reservas!). E, se bem que, por um lado, tenha sido maravilhoso tê-la comigo durante esses dias, nem tudo foi um mar-de-rosas...
Depois de uma noite em que saí com ela e o seu grupo de amigos mais próximos (e os vi a funcionar juntos), apercebi-me da aterradora verdade: a Ruiva e eu somos diferentes. Pertencemos a mundos diferentes. Este facto, por si só, não compromete necessariamente a nossa relação, pois a verdade é que, apesar das diferenças, também partilhamos muitos princípios, pontos de vista e interesses em comum. E eu acredito que duas pessoas, por muito diferentes que sejam, podem ter uma relação feliz e saudável se, tendo consciência daquilo que as diferencia (e separa), apostarem naquilo que têm em comum – e que as une. Basta acreditar e assumir a relação. Contudo, e infelizmente, não é esse o caso da Ruiva, pois, até ao momento, ela tem evitado assumir a nossa relação. Enquanto eu tenho apregoado aos quatro ventos o meu amor pela bela Ruiva de olhar azul, ela, pelo seu lado, tem mantido a nossa relação em segredo, só a revelando a um ou outro amigo mais íntimo. Porque ela tem dúvidas. E espera que, com o tempo, elas se dissipem... “para poder anunciar ao mundo com toda a certeza que és tu o homem que eu amo!”
Ora, eu não ponho em causa as suas dúvidas. Pelo contrário, compreendo-as, porque eu próprio as tenho. Afinal, a nossa relação é deveras complicada, devido à distância. Porém, penso que se ela já não acredita na relação agora, ao início – quando habitualmente todas as relações são perfeitas e cor-de-rosa –, dificilmente o irá fazer mais tarde! Ao não assumir a relação, devido às dúvidas, ela está automaticamente a concentrar a sua atenção nessas incertezas – e, consequentemente, em tudo o que nos separa. Desse modo, como espera ela que as dúvidas se dissipem?... Not gonna happen. Pelo contrário: concentrada como está nas dúvidas, é inevitável acabar sufocada por elas.
Assim sendo, que posso eu fazer? Preso nesta relação para a qual não vejo futuro, condenada a soçobrar sob o peso de todas as nossas diferenças?... Devo obrigar a Ruiva a assumir a relação? Fora de questão. Mesmo que ela fosse pessoa influenciável (que não é!) e se deixasse convencer pela minha argumentação, a relação tornar-se-ia numa bomba-relógio à espera de rebentar... Na minha cara. Uma pessoa só acredita verdadeiramente em algo convencendo-se de dentro para fora. Nunca de fora para dentro. Por outras palavras, é imprescindível sentir. Se a Ruiva não sente dentro de si a vontade de acreditar na nossa relação, toda e qualquer persuasão da minha parte é inútil. Estou de mãos e pés atados.
Subitamente, a realidade acerta-me entre os olhos com a potência de um aríete: o meu belo namoro é um tremendo engano. Na verdade, não existe. Só existe na minha cabeça. Não duvido que a Ruiva goste de mim, mas, para uma relação ser bem sucedida, isso não basta. E, com esta dolorosa tomada de consciência, torna-se impossível para mim continuar a acreditar nesta relação.
Por muito que me custe, não vale a pena adiar o inevitável. Não vou ficar a ver a relação degradar-se inexoravelmente, agarrado a esperanças vãs. Não vou viver uma relação à espera que a outra pessoa tome uma decisão. Uma decisão que sei que nunca se concretizará. Apenas eu sou responsável pela minha felicidade. E tenho nas minhas mãos o poder de a escolher. Cabe-me a mim fazê-lo... Ou não. Ainda que isso me obrigue a tomar decisões dolorosas.
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