terça-feira, setembro 07, 2004

CRASH!

Durante escassos momentos, tudo é confusão. Confusão que contrasta brutalmente com a calma que se instala quando paramos de arrastar pelo chão. O meu primeiro pensamento é de auto-manutenção: não sinto grandes dores, para além de alguns amassos, e parece-me tudo bem. Antes de me levantar do chão, ainda penso na mota – há apenas quinze dias (!) saída do stand...

A porta do pendura do carro abre-se e sai de lá uma cota que indaga: “Então?! Não nos viu?!...” Soa-me estranha a pergunta... Apetece-me gritar-lhe: “Se não a vimos?! Pôrra!!! Vimo-la em todo o lado! O seu carro eclipsou o mundo inteiro! Não havia maneira de lhe escapar!” Mas decido ignorar a mulher. Afinal, nem era eu quem ia a conduzir a mota...

De pé, avalio mais aturadamente os danos pessoais... Dói-me o cotovelo direito – por baixo da manga do casaco, devo ter um belo arranhão. Ao tentar ver se a manga se rasgou, apercebo-me que algo não está bem com aquele ombro – sinto peças fora do sítio. “Devo ter o ombro deslocado,” penso eu. Não me dói, mas imobilizo imediatamente o braço ao peito. Contudo, apercebo-me de uma dor que rapidamente se sobrepõe a todas as outras: uma valente dor nos tomates. Lembro-me num repente de ter sentido as minhas calças a serem violentamente puxadas para cima, amassando os meus tintins, enquanto roçava o cu pelo chão, durante o acidente. Não sei se da dor, se do choque, sinto a cabeça tonta e a vista turva... vou desmaiar. Sento-me calmamente no lancil à beira da estrada e a sensação passa. Mas a dor nos tomates continua...

Entretanto, o meu amigo PP já levantou a mota do chão e está em conversações com o pai da rapariga que guiava o carro (a cota pendura era, com certeza, a mãe). A jovem condutora, uma pitinha toda bem, chora desalmadamente, em claro estado de choque. O PP observa o meu ombro e vaticina uma luxação da clavícula: “Aconteceu o mesmo ao Migas, naquela ocasião, lembras-te? E a mim também, da outra vez.” Chama-se a ambulância?... Chama-se a ambulância. Apesar de tudo, sinto-me feliz – vou andar de ambulância pela primeira vez na minha vida! Olarila!

Assim que a ambulância chega, poucos minutos depois, trepo para o seu interior e descrimino o rol das minhas mazelas ao bombeiro socorrista. O gajo despe-me as calças, olha-me para os tomates e (enquanto eu penso se acaso este pode ser classificado como um momento muito gay) conclui que, para além de alguma vermelhidão, parece estar tudo bem. Fico muito mais aliviado... porque confesso que estava com medo de despir as cuecas e ver os tomates a vir atrás...

Élvio, o bombeiro, diz-me que vai precisar de me cortar a t-shirt, para tratar do meu ombro. Eu oponho-me – aquela t-shirt é-me preciosa, porque está ligada a um momento muito querido do meu passado – sempre que a visto, lembro-me desse momento e dos excelentes amigos com quem o partilhei. Não, não a quero cortar. O Élvio é um bacano e facilita: ajuda-me a tirar a t-shirt com jeitinho (é larga e fazêmo-lo sem problemas), mas pede-me que não conte a ninguém que ele fez aquilo: “Quando chegámos ao local, tu já estavas sem t-shirt, okay?” “No problem,” respondo. Depois, com a ajuda de uma ligadura, segura-me o braço ao peito.

“Para que hospital vão?” pergunta o PP. “Amadora-Sintra,” é a resposta. “Jacaré, vou ter contigo ao hospital assim que resolver a questão do acidente. Ficas bem?” “Na boeca, man! Vou andar de ambulância!” Ao despedir-se de mim, o PP leva a minha t-shirt consigo, mas aconchega-me o meu casaco sobre os ombros.

E, com todas as luzes e sirenes a que tenho direito, lá sigo de ambulância para o Hospital Fernando Fonseca, mais conhecido por Amadora-Sintra.

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