quarta-feira, setembro 01, 2004

BRUXO PALERMA

Sexta-feira passada, dia 27 de Agosto, vou à praia com a Chiquitita, a Salex Go-Go e o John. Entre dois mergulhos na água gelada da Fonte da Telha, recebo uma mensagem escrita inesperada. Da Caracolitos, uma ex-namorada. A pedir muitas desculpas por não dar notícias há tanto tempo e a convidar-me para sair na noite seguinte, para conversar e dançar.

“Deve estar de mal com o namorado,” penso. Detesto ser cínico, mas a verdade é que esta rapariga só me procura quando precisa de um ombro para chorar. Ou seja, quando lhe faltam ombros de namorado. Há dois anos atrás, saída de fresco de uma relação falhada, procura o meu apoio. Durante largos meses, somos os maiores amigos. Entretanto, ela arranja outro namorado e, a partir desse momento, deixa de me procurar. O caso entristece-me porque julguei que houvesse entre nós uma relação especial de amizade. E, apesar dela demonstrar sempre muito entusiasmo por me ver, a verdade é que lhe falta invariavelmente o tempo para estar comigo. Portanto, deixo cair. Percebi imediatamente a onda dela.

Ano e meio depois, vindo do nada, recebo este convite para conversar e... dançar. Dançar?! Há quanto tempo não me convida ela para dançar! Fico logo com a pulga atrás da orelha. Mas recuso o convite – já tenho planos para passar todo o dia seguinte com uma rapariga maravilhosa (não é, Ruiva?). Mas combinamos voltar a falar no início da semana seguinte.

Hoje, ligo-lhe. E acordamos sair na próxima semana para dançar e pôr a conversa em dia. Contudo, antes de desligar, atiro a pergunta que me queima a língua: “E tu, como andam as coisas contigo?...” “Diferentes...” responde ela. (Já te apanhei!) “Ah... Diferentes? A propósito, como está o teu namorado?” Pausa. “... Não está.” (Bingo!) “Ah, bom! Então é por isso que as coisas estão diferentes...” “Sim... Nós temos muito que falar, depois eu conto-te tudo.” Mas eu ainda não estou satisfeito: “Mas então é recente? Há quanto tempo é que acabaram?” “Há cerca de um mês.” Caramba, eu devo ser bruxo! De vez em quando, o mundo funciona mesmo como um relógio suíço!

No meio de todo este caso, acho interessante o facto desta rapariga invariavelmente me procurar quando precisa de apoio emocional. E não é a única! No geral, todas elas o fazem. Tanto as ex-namoradas, como as amigas (embora, felizmente, a maioria delas não me procure apenas para isto). Mas, em relação às ex, é de notar que, na maior parte dos casos, eu sou o único ex-namorado com quem elas continuaram a relacionar-se depois de terminado o namoro! Gostaria de pensar que é pelos meus lindos olhos, mas sei bem que não. É pelas minhas orelhas! Porque, acima de tudo, sou um bom ouvinte. E porque, acima de tudo, e paralelamente à relação amorosa, também estabeleço uma relação de amizade com as minhas namoradas. E isso faz toda a diferença. Porque, regra geral, a amizade perdura para além do namoro.

Se isso diz muito de mim, diz ainda mais dos gajos por esse mundo afora. Diz que são uma cambada de palermas! Palermas egoístas que gastam o tempo todo preocupados com o próprio piço e depois se queixam que não compreendem as mulheres! Pois se nem sequer se dão ao trabalho de as ouvir!

Por outro lado, se não as ouvem, também não as aturam... E, nesse caso, se calhar são eles que são espertos e eu que sou palerma... Oh, well...

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