SAUDADES
Duas semanas após o fim do Andanças, já eu estou a transbordar de saudades da Ruiva. Por isso, decido-me: vou visitá-la ao Porto! Os meus amigos mais chegados apoiam a fundo a minha decisão de ir até ao Porto (e voltar no mesmo dia) só para estar com ela. Mais: não só apoiam, como me olham com uma certa admiração e aquele sorrisinho que parece dizer: “Vê-se bem que este gajo está apaixonado. Só uma pessoa apaixonada faz uma loucura destas.”
Depois de uma noite passada em claro, apanho o autocarro da Rede-Expressos, no Arco do Cego, em Lisboa, às sete da manhã. Três horas e meia de sacudidelas depois, estou no Porto, onde passo um dia maravilhoso na companhia da minha adorada menina. Coisa curiosa: eu lembrava-me dela ser bela, contudo, a realidade suplanta completamente a minha recordação – ela não é só bela, ela é inacreditavelmente bela! Não há foto que consiga captar a real intensidade daquele olhar!
Às oito horas da tarde deixo o Porto e (mais) três horas e meia depois, apertado e chocalhado até à medula no autocarro, chego a Lisboa. Passa pouco das onze e meia da noite quando recebo um telefonema dela:
– Onde estás?...
– Acabei de chegar a Lisboa. O autocarro está a chegar agora mesmo ao terminal.
– Que é que estás a fazer aí? Já estou cheia de saudades tuas; volta!...
– Está bem, vou já apanhar o autocarro da meia-noite de volta para o Porto!
E, acreditem, não me falta vontade para o fazer! Porque a verdade é que fui ao Porto para matar as saudades... e voltei de lá com mais saudades que as que levei! Que coisa danada!... Mas ainda bem, ainda bem! Mau teria sido voltar de lá completamente aliviado de saudades – porque quando alguém não causa saudades, é porque não faz falta.
0 Comentário(s):
Enviar um comentário
<< A Goela