CRÉDITO IMERECIDO
Quem tem conta no Millennium bcp (com dois eles e com dois enes, hã? Aposto que foi um tio de Cascais que inventou esta parolice!) com certeza já se apercebeu que o banco não é muito fiável. De facto, já me aconteceu o banco enganar-se e debitar-me duas vezes a mesma mensalidade do plano de saúde que subscrevo. Por outro lado, também já me aconteceu creditar-me duas vezes o salário do mesmo mês. Se a coisa ficasse ela por ela, nem me chateava com o assunto. Mas isso nunca acontece. Porque, quando o erro desfavoreve o banco, a situação é rapidamente rectificada, ao passo que quando o desfavorecido sou eu... o banco nunca é tão lesto a corrigir o engano. Na verdade, e se um gajo não se mantiver atento e não lhes apontar o erro, levam-lhe o guito e ainda se ficam a rir, essas sanguessugas do prepúcio!
Já alguma vez lhe aconteceu a si, que agora lê estas linhas, o seu banco enganar-se e creditar dinheiro a mais na sua conta? É uma situação estranha – um gajo sabe que o dinheiro não é seu, que nada fez para o merecer e que, muito provavelmente, alguém ficou a arder por causa desse engano (porque o raio do dinheiro deve ter vindo de algum lado!)... Mas sabe-lhe bem aquele dinheirinho a mais... É como se o Universo lhe dissesse: “Tens sido tão bom rapaz que decidi agraciar-te com um pequeno bónus. Força, toma-o. É teu, aproveita!” E o gajo pensa: “Ah, afinal existe Justiça! Finalmente o mundo reconhece o meu valor!” E, no entanto, por outro lado, existe sempre aquele medo... de tudo aquilo ser apenas uma bela e doce ilusão... e de se vir a ter de pagar mais cedo ou mais tarde por ter aproveitado a situação...
Por vezes, é exactamente assim que me sinto em relação à Ruiva. Ela é uma rapariga tão extraordinária que dou por mim a pensar que diabos terei feito para a merecer... Assusta-me pensar que tudo isto não passa de uma ilusão e que ela tenha sido creditada na minha vida por engano. E estou à espera de atender um dia o telefone para ouvir:
– Queira desculpar, mas houve um lamentável engano! Um dos nossos colaboradores fez asneira da grossa e creditou por engano uma Ruiva na sua vida. Andou tudo louco à procura dela até que os nossos sistemas informáticos indicaram que ela estava na sua vida. Mais uma vez, as nossas mais sinceras desculpas. Vamos regularizar de imediato a situação.
– Ah, mas... Quer dizer então que... vão levar a Ruiva?... – perguntarei eu.
– Claro que sim, seu malandro. A Ruiva pertence a outro cliente, alguém que realmente fez por merecê-la, e não você, sua fraude! Mas nem tudo é mau, deixe lá. Porque, de acordo com os nossos registos, o engano deveu-se a uma troca. Você deveria ter recebido algo, sim. Não a Ruiva. Mas outra rapariga.
– Isso significa que eu recebi a Ruiva enquanto o... outro cliente recebeu a rapariga que me era destinada?
– Nem mais! E, acredite que, tal como você, também ele estava farto de se perguntar que diabos tinha feito para a merecer... Por isso, já vê, de certa maneira, ela é tal qual a Ruiva. Tenho a certeza que você a vai adorar!
– Ah, bom... Então e... ela é gira?
– Está a brincar?! Claro que não! Ela é feia como uma noite de trovões, é coxa e marreca, tem buço e mau hálito. Mas é extremamente simpática.
– O quê?! Mas... não pode ser! Deve haver algum engano!
– Não, caro amigo. O engano foi antes. Better face it, baby… Cada um tem aquilo que merece.
Damn!
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