terça-feira, junho 15, 2004

LOSER

Saem os resultados do concurso para o cartaz do Andanças 2004. Ganha a proposta da Sónia Ribeiro, que podem apreciar em www.pedexumbo.com. Parabéns, cara colega. Agora que atingiu os seus cinco minutos de fama, já pode morrer feliz (e espero que em breve). A sua proposta é superior à minha, o que significa que o perdedor sou eu. A minha frustração, matizada de inconcebível humilhação, é tão horrorosamente intolerável que nem sei como reagir a esta esmagadora dor. Hesito entre amputar o estreito fio que me prende a esta existência deplorável ou sair para a rua num frenesim homicida, procurando compensação no assassínio gratuito e sangrento de todo e qualquer miserável arremedo de ser humano que tenha o azar de se atravessar no meu caminho neste negro dia de profundo aviltamento. Pensando bem, talvez faça ambas as coisas. O assassínio indiscriminado antes do suicídio, claro, caso contrário, o plano será bem mais difícil de concretizar.

Obviamente, nesse dia, não me posso esquecer de vestir a minha gabardina preta. No walkman, a tocar em loop continuo, o "Surfacing" dos Slipknot. Em casa, no quarto forrado de posters de bandas de heavy metal, páginas rasgadas do "Johnny The Homicidal Maniac," do Jhonen Vasquez, espalhadas sugestivamente pelo chão e salpicadas de sangue. Na gaveta das cuecas, uma galinha preta morta (de onde se descobrirá, posteriormente, provir o sangue presente nas páginas do comic). Vou dar um caso interessante na televisão.

Ou talvez... Não, pensando melhor, este cenário já está muito visto; o mundo (e os meus fãs) gritam por algo original! Algo realmente perturbador! Demente! Insano! Ao invés da gabardina preta, irei vestido de palhaço, com todas as cores do arco-íris, um grande nariz vermelho, sapatos enormes e calças largueironas. No walkman, a tocar em loop continuo, uma colectânea de jingles de anúncios televisivos a brinquedos (desde o Nenuco® à Playmobil®, passando pela Polly Pocket® e os MicroMachines®). Em casa, no quarto forrado de posters da Anne Geddes, páginas rasgadas de livros da Danielle Steel e do Nicholas Sparks, espalhadas sugestivamente pelo chão e salpicadas de uma substância viscosa e esbranquiçada. Na gaveta das cuecas, várias Barbies® decapitadas, também cobertas da tal substância esbranquiçada (que se descobrirá, posteriormente, ser esperma – o meu, claro). Vou dar um caso mesmo interessante na televisão.

Mas o melhor de tudo, la pièce de résistance, será a t-shirt do cabeçudo e sorridente Piu-Piu que levarei vestida. O vermelho sangue fica muito bem sobre amarelo.

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