segunda-feira, junho 07, 2004

XXX

Devo ter uma ou duas costelas de psicólogo. É comum os meus amigos (sem distinção de sexo ou idade) procurarem-me para desabafar sobre os seus problemas, especialmente os amorosos. É com certeza porque tenho ar de bom ouvinte (sim, deve ser das orelhas...). Há uns tempos atrás, em conversa com uma amiga minha (uma antiga namorada), ela desabafava sobre a sua relação amorosa da altura (sim, porque, entretanto, já muita água correu por baixo daquela ponte). Tirando as habituais tricas entre namorados, tudo ia bem. Mas, a dado momento, baixando o tom de voz, ela confidenciou ter encontrado inadvertidamente, numa altura em que trabalhava no computador do namorado, um directório a abarrotar de imagens pornográficas. O choque! A tragédia! O horror!...

“Achas isto normal?!” pergunta ela, sem esconder o seu ultraje. Encolho os ombros: “Acho.” “A sério?!... Estás a gozar!” diz ela, incrédula. “Estou a falar a sério! Todos os gajos fazem isso. E não há nada mais natural: o homem gosta de carne e os olhos também comem. A única diferença é que enquanto uns preferem pornografia, outros gostam mais de erotismo e outros ainda de nu artístico. De igual modo, cada um tem a sua tara: uns preferem loiras, outros pretas, outros asiáticas, outros mamalhudas, outros gostam de lésbicas, outros de sodomia e outros de cumshots.” “Gâm-xó...?” “Esquece; eu qualquer dia mostro-te. Seja como for, não conheço gajo nenhum que não tenha o seu directoriozinho malandreco refundido no computador.” Ela está siderada: “Tu também?” “Claro que sim! Eu gosto da mulher por inteiro, mas tenho especial predilecção por ancas e cus torneados e fetiche por cuequinhas.” Pausa. “E... também tinhas esse ‘directório malandreco’ quando nós namorávamos?...” pergunta ela, meio a medo. “Não...” “Ah, bom.” “... Tinha apagado, porque precisava do espaço no computador.”

Ela fica sem palavras. Aposto que o mundo, para ela, adquiriu uma outra dimensão após esta revelação esmagadora. Mas eu entendo o seu espanto – o gosto pela pornografia é algo que todo o homem tenta, de uma maneira geral, esconder da sua parceira. Ela nunca entenderia a sua obsessão pelo sexo anal, pelo ménage a trois, ou pelas ejaculações faciais. Verdade seja dita que nem ele deseja que ela entenda! Gaja que gosta disso só pode ser puta: boa para comer, nunca para namorar. E mesmo ela própria prefere fechar os olhos às provas evidentes da existência desta mania pela pornografia que, muito desajeitadamente, ele vai tentando encobrir. Porque aquilo fere-a directamente no orgulho. Não conheço mulher nenhuma que ache piada a ver o seu homem excitado por outro pito que não o seu (há quem o tolere, mas é tudo). Ela gosta de acreditar que ele só precisa de recorrer à pornografia quando não tem uma companheira a sério que lhe encha as medidas na cama (ou seja, antes e depois dela aparecer na sua vida, mas nunca entretanto).

No fundo, estamos (mais uma vez e sempre) a falar de insegurança: para elas, homem dado a pornografia é homem que não está satisfeito e é, portanto, potencialmente adúltero. Mas isso é reduzir toda a problemática da relação amorosa ao sexo e a satisfação de um homem numa relação amorosa nunca se limita somente ao sexo (ainda que assim possa parecer). Porque, na realidade, se um homem for adúltero, há-de sê-lo com ou sem pornografia. Não é isso que faz a diferença.

Há que encarar a pornografia sob uma perspectiva saudável. Para o homem, a pornografia é tão somente a relação sexual que ele estabelece consigo próprio. Tenha ou não companheira. É uma maneira de entrar em contacto com os seus desejos sexuais mais íntimos e de aprofundar a relação com o seu próprio corpo. Sem trair a parceira! O que existe de negativo nisto? Nada! Bem pelo contrário, pois, habitualmente, é ela própria quem acaba por beneficiar da excitação nele provocada pelo uso da pornografia. Afinal, em quem é que ele acaba por malhar forte e feio para descarregar? Faça as contas. Pornografia, caras amigas, é garantia de rego sempre atulhado de sexo.

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