sexta-feira, junho 11, 2004

MELHORES AMIGOS

Há alturas em que dou graças por não ter que aturar uma mais-que-tudo...

Aquando da minha visita a Santiago de Compostela, algures durante a Missa do Peregrino da tarde, o meu pai deve ter irritado a minha mãe. Quando o meu irmão e a namorada, a Evita e eu nos reunimos aos cotas, depois do ofício religioso (que, obviamente, dispensámos), a minha mãe está de semblante carregado e, da maneira como ela está, só pode ter sido o meu pai e a sua rude insensibilidade a provocá-lo. Notamos todos que algo está errado entre eles, mas calamos.

Pouco depois, reunimo-nos aos meus tios no jardim, para um piquenique. À excepção do meu irmão e respectiva, que se afastam rapidamente pelo jardim afora, sem avisar seja quem for. Após a sua falta ser notada (e comentada com algum desagrado pelo meu pai), a Evita e eu voluntariamo-nos para os ir procurar. Encontramo-los, a conversar entre alguma tensão, mas, depois de uma recepção um pouco ríspida por parte do meu irmão, compreendemos que eles necessitem de alguns momentos a sós e regressamos para junto do resto da família.

“Não percebo o que é que esse gajo tem na cabeça! Agora que vamos comer é que ele decide desaparecer?! Não podiam conversar mais tarde?” pergunta o meu pai, irritado. Claramente, o meu pai já esqueceu a sua juventude há muito tempo, caso contrário não faria uma pergunta tão cretina. Todas as relações amorosas têm os seus momentos de desatino e, nessas alturas, o resto do mundo tem mesmo de ficar em stand by. Ainda que as razões para o desatino sejam absolutamente mesquinhas e insignificantes, como acontece com frequência em muitos namoros.

Mais tarde nesse dia, os meus pais planeiam o programa para o dia seguinte. A Evita e eu ouvimo-los e estamos entusiasmados com o projecto, mas o meu pai dispara de imediato que “não vou aturar má disposição de ninguém! Se é para andar com má cara, mais vale ficarem em casa!” A Evita e eu entreolhamo-nos, surpreendidos por esta explosão inesperada (e despropositada). “Má cara?... Tu estás chateada com alguma coisa?” pergunto-lhe eu. “Eu não!” responde ela. “Eu também não. Portanto, se a carapuça não nos serve, ele deve estar a referir-se a outra pessoa.” Não sei exactamente com quem está ele chateado: se com o meu irmão, se com a minha mãe, se consigo próprio. Talvez com todos. Mas descarregou nas pessoas erradas.

É nestas alturas, em que vejo o pessoal à minha volta atrofiar desnecessariamente devido a problemas de caca com a sua mais-que-tudo, que dou graças por não ter que aturar atrofios amorosos de ninguém. Já passei por muito disso, sim, e sei bem como é. E voltarei, com certeza, a passar, mas, por agora, sinto-me feliz por só ter de me aturar a mim mesmo. É um descanso!...

E, na verdade, a Evita e eu estamos bem demais para nos preocuparmos seja com o que for. E ainda nos rimos à conta da situação. Somos apenas amigos e não namorados, logo, não há desatinos entre nós. Estamos completamente à vontade um com o outro e com a nossa relação. Eu posso babar-me à minha vontade com todas as beldades que vejo à minha volta, que ela não só não se preocupa, como ainda acha piada, chegando mesmo ao cúmulo de chamar a minha atenção para uma ou outra rapariga que possa ter escapado ao meu olhar perscrutante!

Sinto-me mais confortavelmente eu na companhia da Evita do que alguma vez me senti com qualquer namorada. Mas é normal – somos os melhores amigos; não temos a Pressão do Amor a pesar-nos nas costas. E viva a amizade!

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