quarta-feira, julho 14, 2004

A VOZ INTERIOR

Passo o dia de ontem na praia com a minha amiga Chiquitita. E a praia está cheia – cheia de gajas boas. No entanto, após um olhar mais atento, apercebo-me com grande choque que as gajas mais boas são também as mais novas: as pitinhas dos 13 aos 15 anos! Tudo bem para quem tem fetiche por pitas, mas, para um Jacaré velho como eu, com quase trinta anos de idade, e que gosta das raparigas com algo mais que água salgada dentro da cabeça, chega a ser desesperante! Obviamente, não é isto que me impede de apreciar o material, apesar de me fazer sentir ligeiramente pedófilo por estar a galar estas miudecas. Mas, enfim, é apenas ligeiramente...

Após uma noite de sono revigorante, acordo surdo. Os meus ouvidos ainda estão entupidos de água salgada desde o dia de ontem e, durante a noite, o caso piorou. Não é nada de novo – nestes últimos anos, acontece-me sempre isto. E eu é que sou parvo, de não me proteger.

Não obstante, e apesar de incomodativo, não deixa de ser interessante ser surdo. Falo a sério! É como se a perda de um dos sentidos afectasse todos os outros e o mundo para além das fronteiras do meu corpo ficasse abafado, esbatido, perdesse importância. Vejo as pessoas interagir umas com as outras e parecem-me extremamente distantes, como se não fizessem parte do meu mundo. Para mim, são alienígenas. Especialmente quando se me dirigem, e as vejo mover os lábios, mas não entendo nada do que dizem. O caso é agravado pelo facto de ouvir a minha própria voz com muito maior nitidez, o que me faz falar mais baixo que o normal e provoca que, por seu turno, as outras pessoas não me entendam a mim. Por tudo isto, sinto-me totalmente deslocado deste mundo que não compreendo e não me compreende.

Por outro lado, ouço com muito maior clareza todos os sons que percorrem o espaço interno do meu corpo, desde o coçar da barba, ao bater dos calcanhares no chão, enquanto caminho, passando pelo ranger dos músculos do pescoço quando movo a cabeça ou pelo som do ar a passar pela cavidade nasal quando respiro. Mesmo a minha consciência parece mais desperta para o que se passa no meu íntimo. Sinto quase uma overdose de sentimentos e pensamentos, porque os sinto com maior profundidade.

Entretanto, com o cair da noite, apercebo-me mais distintamente que há um barulho constante dentro da minha cabeça. Como uma máquina de lavar roupa em plena centrifugação. É um som amortecido, como se o meu cérebro estivesse já embotado devido à constante presença do barulho. Contudo, ao tomar consciência deste som, ele cresce e toma conta de todo o meu ser, apostado em levar-me à loucura. É impossível voltar a ter descanso!...

Será esta a tão falada “voz interior”? Seja ou não, pelo menos explica porque razão o ser humano tanto teme e abomina a solidão. Explica porque ligamos a televisão ou o rádio quando estamos sozinhos em casa. É porque tememos ficar a sós com tudo o que se passa dentro da nossa cabeça. A sós com estas vozes a zumbir constantemente palavras que não entendemos. Este “whisper in my ghost” que fala e fala e não o conseguimos desligar...

... Afinal, isto de ter água salgada na cabeça não é totalmente mau. É apenas um outro nível de consciência.

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