sexta-feira, julho 09, 2004

DIZ-ME COM QUEM ANDAS

Vivemos num mundo de enganos, onde ninguém é o que aparenta ser. Todos nós escondemos, disfarçamos, mentimos, dissimulamos e dobramos a Verdade. Para esbater os nossos defeitos. Para enaltecer as nossas qualidades. Porque o fazemos? Simplesmente porque procuramos ser amados, mas temos demasiada consciência das nossas falhas e limitações a nível pessoal. E a mentira é um caminho muito mais rápido que a mudança e a evolução pessoal para atingir o objectivo pretendido. Ou seja, se não podemos ser melhores, fingimos sê-lo.

Se é certo que todos enganamos, mais certo é que ninguém gosta de ser enganado. Porém, como não podemos controlar as mentiras de que somos alvo, fazemo-nos crer que somos mais inteligentes que os outros e que vemos para lá das suas dissimulações. E não nos ficamos por aqui – não só nos iludimos a nós próprios acerca de nós próprios, como também nos iludimos a nós próprios acerca dos outros, muitas vezes fechando os olhos a certos defeitos da pessoa amada. Todos sabemos, por exemplo, que as raparigas também se peidam e tiram macacos do nariz (é real, está provado!), mas preferimos acreditar que aquela que amamos não o faz. Resumindo, enganamos duplamente: a aqueles que nos rodeiam e a nós mesmos.

É, aliás, no campo amoroso que a falsidade tem a sua maior aplicação. Muitas vezes, a própria relação amorosa em si é um exercício de resistência à Verdade, que dura enquanto os jogadores conseguirem manter a dissimulação. Todas as relações, a início, são cor-de-rosa; só começam a mudar de cor com o tempo, à medida que a convivência com a/o parceira/o vai aumentando, permitindo a leitura de certos padrões de comportamento, reveladores da verdadeira natureza da pessoa em causa. Porém, há aqueles que são verdadeiros peritos na Arte do Engano, capazes de esconder o jogo durante anos, antes de revelarem a sua verdadeira natureza.

Existe, contudo, um método muito eficaz para determinar a verdadeira natureza de uma pessoa, não obstante todas as suas dissimulações. Este método consiste tão-somente e apenas em analisar, não a pessoa em causa (que porfia em iludi-lo), mas sim aqueles que lhe são mais chegados – a família e os amigos (que, normalmente, não têm motivos para o querer iludir e se estão bem lixando para aquilo que deles pensa) –, assim como a relação destes com a referida pessoa. Porque todo o indivíduo tem a tendência (e a necessidade) de se rodear daqueles com quem mais se identifica (e que melhor o compreendem). E é nesta identificação que se revela a verdadeira natureza do indivíduo em causa. No fundo, “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.”

Todos nós conhecemos pelo menos um exemplar do caso clássico e paradigmático da rapariga simpática, bonita e inteligente – e por quem temos um certo fraquinho – mas que namora o gajo bruto, bronco e arrogante. Que nos diz isto acerca dela? Uma de duas coisas: ou ela está monstruosamente equivocada sobre o gajo ou sabe bem aquilo que ele é e, a despeito das aparências, há algo de muito errado e distorcido com ela, para se deixar encantar por tal criatura.

Esta noite, janto com a minha querida amiga Evita. Comemoramos os seus 29 anos de existência, completados ontem. E, finalmente, conheço o Françiú, o seu futuro marido, que, confesso, tinha uma certa apreensão em conhecer, por tudo o que atrás expliquei. Felizmente, e como esperado, a minha melhor amiga não me desilude: ela soube escolher. O Françiú é um gajo à maneira e tem uma boa onda. Além disso, vê-se bem que o gajo ama muito a minha melhor amiga. E é isso que interessa. Vou logo com a cara dele. E, pelo seu lado, ele também parece ir com a minha.

Ainda bem que gostamos um do outro. Porque o gajo é maior e mais largo que eu e, a não gostar dele, ser-me-ia um pouco difícil partir-lhe as rótulas. Pelo menos, sozinho...

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