segunda-feira, junho 21, 2004

DONO DO SEU CORAÇÃO

Quinta-feira: na aula de Danças de Salão, danço uma romântica valsa inglesa com a quarentona. Sexta-feira: no baile de Danças de Salão no Mercado da Ribeira, danço algumas kizombas bem quentes com a minha ex (pois, eu sei bem o que ela quer...). Sábado: no jantar de gala e baile de Danças de Salão em Cascais, danço uma kizomba ardente com a simpática e sensual anfitriã do evento, uma rumba caliente com a sua aluna Céu e um fluido quickstep com a mui bela, elegante e florida Cema (que acabo de conhecer). Troco ainda uns olhares electrizantes e insistentes com V., a escultural professora de Salsa (que deve ter gostado do meu ar de mafioso italiano, de terno escuro, gravata branca e rabo-de-cavalo). Ah, estou apaixonado!

... Por qual delas? Por nenhuma. Ainda. Estou apaixonado, simplesmente! Pela vida, pela dança, pelas belas raparigas! Por ser livre para todo um mundo de possibilidades! Estou apaixonado pela perspectiva de me vir a apaixonar por uma destas raparigas! Sinto que pode acontecer com qualquer uma delas (à excepção da minha ex, claro. Ela dança uma boa kizomba, concordo, mas é árvore que já deu frutos). Basta apenas esperar pela altura certa para escolher.

“Uma pessoa não escolhe apaixonar-se,” dizem-me. Balelas! Não há treta mais esfarrapada e inconcebível, em que as raparigas acreditam como se fosse um dogma irrefutável e por que se regem como se fosse religião, como a tanga de que uma pessoa não manda no próprio Coração.

Para começo de conversa (e só para ser chato), o óbvio: o coração é mera máquina que bombeia o sangue para todo o corpo. Por ali não passa nem Paixão, nem Amor, minhas amigas. Apenas sangue. Detesto arruinar-vos a poesia da coisa (mentira, não detesto nada, estou a brincar!), mas é na cabeça, mais concretamente no cérebro, que tudo acontece. O prazer que advém do fabuloso sentimento de apaixonar-se e/ou amar mais não é que a reacção produzida pela actuação de certos neurotransmissores (dopamina e endorfina) a nível do cérebro, que causa aquela inebriante sensação de prazer e bem-estar. Porque acontece ou o que a faz despoletar são questões cujas respostas são alvo de muitos estudos e inúmeras especulações. Porém, como não é essa a questão aqui em causa, digamos que isso depende da inclinação (ou da tara) de cada um. Uns têm um fraco por loiras, outros gostam de pretas ou asiáticas. Enfim, concedo que esta inclinação inerente do desejo não possa ser manipulada. Mas evolui com o tempo. E pode ser educada.

Assim como também pode ser educado o próprio desejo em si, ou, por outras palavras, aquilo que é vulgarmente entendido como os “sentimentos do Coração.” Como? Pela Cabeça, claro! É a velha história da Cabeça contra o Coração ou, se preferirem, do Sentimento versus Razão. Quantas vezes não cedemos à tentação do Sentimento em detrimento da dureza da Razão! A carne é fraca, não é? Mas um pessoa não deve ser joguete dos caprichos do Coração, sob risco de se tornar volúvel e se ver constantemente enganada, magoada e abusada! Além disso, quando a relação azeda de vez e tudo desmorona à nossa volta, é a Cabeça que nos tira da merda. Porque o Coração, esse, fica partido e, durante uns tempos, não nos serve de nada.

Uma das lições mais valiosas que retirei da minha experiência amorosa é que um gajo tem de dar sempre ouvidos à Razão. Só a Razão nos permite ver para além do Sentimento que nos tolda o discernimento. Nos ensina a deixar de amar quem nos faz mal. E nos ensina a amar quem nos faz bem (que é diferente de querer bem – entre o querer e o fazer vai uma grande diferença).

Se não fosse a Razão a ponderar o meu Sentimento, eu seria um desastre amoroso. Todos os dias, ao sair à rua, vejo raparigas que mexem comigo de maneira avassaladora. Se me deixasse guiar somente pelo Coração, apaixonava-me de novo a cada cinco minutos! Wheeeee!...

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