domingo, maio 30, 2004

TANGO NA COMUNA

São onze e meia da noite de Sábado, dia 29 de Maio, quando chegamos ao Café Teatro da Comuna. O local ainda está vazio. Na mesa de som, no palco, operam-se os derradeiros preparativos para a milonga de Tango Argentino que vai ter lugar. E eu lá estou, a convite de uma boa amiga. Convite que, confesso, me vi relutante em aceitar – não sou grande dançarino de Tango Argentino (sei apenas o básico, mas falta-me muita prática) e custa-me passar uma noite inteira a ouvir o tango sem o poder dançar comme il faut. Porém, confesso que fiz bem em aceitar. Apesar de só dançar 5 tangos, 4 kizombas, 1 cha-cha-cha e ½ slow foxtrot, o que, numa noite inteira, é horrivelmente pouco para mim. Mas esta noite vale essencialmente por outras coisas. Nomeadamente, pelos novos contactos estabelecidos.

De entre as conhecidas da minha amiga presentes na milonga, uma há que me chama de imediato a atenção. Por duas boas razões: a da direita e a da esquerda. Menina jovem, bonita e muito bem feita, mostra-se uma exímia dançarina de tango. Que pena que me faltem as unhas para a conduzir num tango bem esgalhado! Mas não é isso que me impede de a convidar para dançar um electrizante cha-cha-cha ao som de “Smooth”, do Santana. Ela não sabe dançar, mas deixa-se conduzir muitíssimo bem e é assim que, magistralmente, estabeleço contacto com ela.

Quem, por seu lado, parece ter boas unhas para a conduzir no tango é o DJ Grunho. Um conhecido destas andanças, ele põe música em vários bailes por essa Lisboa afora. Tal como a sua alcunha indica, o DJ Grunho é um tipo meio neandertalóide: baixo, largo, sem pescoço e com cara de bronco. Intelectualmente, é um pouco limitado. E um bocado melga. Mas a característica mais notável nele é a sua absoluta inexpressividade. Caramba, o gajo mete num saco os reis da falta de expressividade que são o Chuck Norris e o Steven Seagal! Mas nem tudo é negativo na sua pessoa e num ponto eu tenho que lhe tirar o chapéu (que não se diga que o Jacaré é injusto): o homem realmente sabe dançar o tango. Nesse ponto, ele mete-me num chinelo. Sem dúvida.

E é ele quem, dando mostras de grande confiança (e até alguma intimidade) com a bela e jovem milonguera, a conduz com perícia em alguns tangos bem esgalhados. Segundo ela, ele anda a ensinar-lhe o Tango. Acredito. E, de caminho também lhe deve andar a mandar a tanga. Quanto a mim, limito-me a arranhar dois míseros tangos com a menina, que, muito simpática, me garante terem sido “lindos.” Não foram, mas eu estou disposto a virar este ponto negativo a meu favor. Assim, no final do baile, aproximo-me dela e, com enorme à-vontade, digo-lhe que a considero muito simpática, mas que o meu tango, infelizmente, ainda deixa muito a desejar. “Mas hás-de ir comigo a um baile de Danças de Salão e eu mostro-te o que é dançar!” Ela ri-se com gosto e diz que gostaria muito, mas que, nesse caso, seria ela quem ia ficar em desvantagem. “Calha a vez a todos!” digo eu, a sorrir. E ela ri-se, garantindo, contudo, que gostaria muito de ir.

Só não lhe saco o número de telemóvel na altura porque o Grunho está mesmo ao nosso lado e algo me diz que ele não haveria de gostar de me ver imiscuído no “seu” território. Ao invés, jogo uma cartada contemporizadora e digo-lhe, apontando para ele, que “Este gajo é que costuma estar nos bailes de Danças de Salão do Mercado da Ribeira. Sei que vai haver um no próximo mês; combina com ele e apareçam lá!” Ele limita-se a sorrir de lado, mas ela está positivamente entusiasmada! E, antes de dar por terminada a minha noite, ainda danço uma kizomba bem quente com ela, que confessa sinceramente ter sido bem melhor que os tangos.

Não acredito que ela tenha algo com o Grunho. Ainda. Mas, para lá caminha. Pouco importa. A primeira impressão que lhe deixei foi altamente positiva. Ela há-de lembrar-se de mim e do meu charme. O Grunho que se ponha a pau comigo. Senão, dança. Fica sem par, mas dança.

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