domingo, maio 30, 2004

OS CABELOS DE SANSÃO

Outro dos contactos estabelecidos da noite é uma cara já minha conhecida dos bailes de Danças de Salão do Ginásio Clube Português. Estamos sentados à mesma mesa e ela conversa com a jovem milonguera quando, subitamente, me dirige a palavra: “E então, o Tango Argentino é a tua nova paixão?” Inicialmente apanhado de surpresa, respondo-lhe que a minha paixão são as Danças de Salão, ao que ela responde que “Eu sei, gosto muito de te ver dançar nos bailes do Ginásio Clube.” “A mim?...” pergunto, surpreendido. “Sim! Danças muito bem! Tens energia e, visualmente, demarcas-te um bocado, com o teu cabelo ondulado. Vejo-te dançar e fico a desejar: ‘Também quero dançar assim, quando for grande!’” diz ela a sorrir.

Estou pasmado! Obviamente, com todo este à-vontade, ela já não é nenhuma jovem menina. É uma mulher madura, com os seus quarenta e poucos anos. Mas bem conservada, uma morenaça toda enxuta e que, a avaliar pela sua aparência actual, deve ter sido uma boa brasa quando jovem.

A certa altura, ela incita um colega a escolher uma das senhoras sentadas àquela mesa para dançar. Ele hesita. Com quatro ou cinco mulheres por onde escolher livremente (e todas em pulgas para dançar!), o trouxa para ali fica a olhar estupidamente, a abrir e fechar a boca como um peixe. Ela, vendo o seu embaraço, goza: “Se quiseres, também podes escolhê-lo a ele,” e aponta para mim. “Sim, pelos meus lindos olhos,” corroboro eu. “Ou antes pelos caracóis,” replica ela.

Mau! Duas referências ao cabelo na mesma noite? Isto só pode significar que ela tem fetiche pelos meus belos caracóis! E já não é a primeira que se mostra rendida à minha cabeleira ondulada! Contudo, nunca me tinha acontecido alguém preferir os caracóis aos meus lindos olhos! Quanto a mim, nunca lhes achei grande piada e sempre cortei o cabelo rente. A única razão que me levou a deixar crescer o cabelo é porque estou a ficar com umas entradas do caraças e esta é, provavelmente, a última oportunidade que tenho nesta vida de ter uma trunfa metaleira antes de ficar careca.

Não sei que raio de atracção é essa das miúdas pelos caracóis. Mas também não procuro compreender. Limito-me a aproveitar a situação. Porque, eventualmente, hei-de ficar careca e depois acabou-se o que era doce. Adeus caracóis. E olá polimento para a careca.

Mas podia ser pior. É melhor careca que impotente.

0 Comentário(s):

Enviar um comentário

<< A Goela