quinta-feira, maio 20, 2004

DANÇAS DE SALÃO: A EXIBIÇÃO

A exibição de Danças de Salão corre muito bem. No final, recebo um monte de elogios e felicitações da parte de todas as minhas amigas presentes no espectáculo, incluindo a minha mãe e a minha irmã (mais o seu precioso rebento e meu mui querido sobrinho). A minha ex também lá está, procurando subtilmente (mas não tão subtilmente que escape aos meus olhos treinados de Jacaré velho) a minha proximidade. Obtém distanciamento. Glacial. Detesto dar desprezo a quem quer que seja, mas a minha sanidade emocional requer distância dela. Ela faz mal à saúde. Porque não sabe o que quer e tão depressa diz que sim como, logo a seguir, que não. Aprendi esta dura lição com ela, à conta de muitas cabeçadas. Cabeçadas que não pretendo repetir.

Antes do espectáculo começar, tem lugar um episódio interessante. O Mestre de Danças Históricas Vicente Trindade tenta convencer-me a desfazer o rabo-de-cavalo e a dançar de cabelo solto. “Na época das Danças Românticas usava-se o cabelo longo e encaracolado, portanto não lhe vai ficar mal,” afiança ele. Mas eu não estou muito convencido; o meu cabelo é forte p’a caraças, tem vontade própria e deu-me um trabalhão a prender para ficar lindinho para a exibição – portanto, nem pensar agora em soltá-lo!

“Solte-o, homem!” continua o Mestre Vicente, “Isso do rabo-de-cavalo só faz um homem parecer maric...” E, muito atrapalhado, põe ambas as mãos sobre a boca, impedindo-se de terminar a frase, pois, nesse preciso momento, passa por ele o meu professor de Danças de Salão, também de rabo-de-cavalo! Risota geral! E eu sinto-me aliviado – enquanto o meu professor mantiver o cabelo preso, eu não me sinto constrangido a soltar o meu. Contudo, ele acede em soltar o seu cabelo, movido quiçá pela sua costela graxista e vontade de bajular o Mestre. Mas eu mantenho-me firme; e só altero a minha posição segundo uma ordem directa. E então, ao ver a minha renitência, o meu professor volta atrás na sua palavra: “Eu solto, se tu também soltares.”

Espertalhão. Não quer é ficar com a responsabilidade da decisão. Mas eu estou de pedra e cal. “Então, também não solto. Vamos mesmo assim,” diz ele. E o Mestre não mais se pronuncia sobre o assunto.

Parece maricas? Pouco importa. Sou um homem perfeitamente seguro da sua sexualidade. Não preciso de me guiar por regras de conduta aparente para convencer os outros ou a mim mesmo seja do que for.

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