sexta-feira, outubro 13, 2006

VIDA DE PROFESSOR... NOT!

Quanto mais me embrenho no mundo do trabalho, mais me apercebo da inacreditável falta de profissionalismo que grassa por esse país afora. Nesta última semana, passei por duas situações que ilustram bem a minha afirmação e que me permito partilhar com o paciente leitor.

No final da semana passada, fui contactado por uma associação (que irá permanecer anónima) para dar aulas de Inglês no 1.º Ciclo do Ensino Básico. Os meus conhecimentos de Inglês são equivalentes ao grau Proficiency de Cambridge (é o mais alto, baby!), mas o meu certificado, infelizmente, não é reconhecido pelo Ministério da Educação, o que me incapacita para o cargo de professor. Porém, a tal associação está mesmo à rasca com falta de professores e aceita-me com a condição que eu rectifique a situação o mais rapidamente possível, ou seja, realizando o exame correspondente no British Council, que me conferirá a qualificação necessária. “E começas a dar aulas na próxima segunda-feira.” Até perco o fôlego. “Segunda-feira?! Mas... hoje é sexta! Eu nunca dei aulas de Inglês! Nem sei por onde começar...” Not a problem. “Nós damos-te formação. Podemos segurar as coisas por dois ou três dias, até tu estares preparado.” Ena! Dão-me esse tempo todo para me preparar? Estou muito mais descansado. É que já começava a sentir-me como se me fossem atirar nu aos leões. Mas afinal não. Afinal tenho um palito para me defender. Fixe. Assim sendo, sou posto em contacto com a pessoa responsável pela formação, com a qual acerto o horário das aulas, e que me marca uma reunião para segunda-feira com os outros professores. Em Santa Iria de Azóia, concelho de Loures. E é assim que eu descubro onde vou trabalhar.

No dia aprazado, assim que chego à reunião (após mais de duas horas em transportes públicos), passam-me o meu dossier de professor para as mãos com a seguinte informação: “Tu vais ficar na Escola n.º 5. Sabes onde é? Tens aula às 16:30h.” Digo-lhes que deve haver um engano e explico-lhes a minha situação. Estão surpreendidos: “Porque não avisaste logo que ainda precisas de receber formação?” “Foi a primeira coisa que fiz,” replico eu. “Agora, se essa informação não chegou até aqui, é outro problema.” Pedem-me um momento. E, após um curto telefonema: “Tens razão. Desculpa lá esta confusão. Isto tem andado um caos. Hoje começam as aulas e temos tido professores a ligar-nos hoje a dizer para não contarmos com eles. Aqueles que ligam, claro...”

Nessa mesma noite, telefonam-me para averiguar da minha disponibilidade para outro horário. Recuso. E explico: “Eu gasto mais de três horas em deslocações de ida e volta para Santa Iria. Não tenho disponibilidade para lá ir todos os dias da semana para dar apenas uma hora de aula. No horário acordado inicialmente, só vou três vezes por semana, para dar sempre duas horas. Assim, rentabilizo o meu tempo.” Do outro lado da linha, um choradinho: “Sabes, é que este horário é que nos dava meeesmo jeito...” Sou inflexível: “Para mim, esse horário está fora de questão.”

Dois dias depois, na quarta-feira passada, tinha agendado um encontro com a responsável pela formação. Uma hora antes do combinado, contacto-a. Ela parece confusa: “Tinham-me dito que já não estavas interessado...” Digo que deve haver um engano e explico que não me interessa é o horário que me querem impingir. Ela pede-me um momento. E, pouco depois: “Desculpa, eu não sabia que o horário tinha sido alterado. Infelizmente, o horário antigo deixou de existir. E, assim sendo...” “... Isto fica sem efeito,” completo eu. “Até uma nova oportunidade,” remata ela.

Caso arrumado. E eu respiro de alívio. Confesso que já me estava a irritar a (des)organização desta associação. Nem eles se entendem entre si! Imagino o que será trabalhar nestes moldes... Enfim, tudo está bem quando acaba bem (para mim). A minha vontade de ir trabalhar para Loures era mínima e duvido que o ordenado – que não foi sequer mencionado! – compensasse. Não me admira nada que os outros professores tenham decidido abandonar em massa o navio...

1 Comentário(s):

A segunda-feira, 11 dezembro, 2006, Blogger mARco comentou:

ah! mas estás-te a esquecer da gratificação de dar aulas...

como professor podias influenciar positivamente a vida das crianças...

bem como ensinar-lhes algumas asneiras em inglês...

 

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