sábado, julho 15, 2006

II SALÃO INTERNACIONAL ERÓTICO DE LISBOA

Visito o Salão Internacional Erótico de Lisboa (em exibição no Pavilhão 1 da FIL até amanhã). Mas venho contrariado. Não fosse a insistência do Barrelas e não teria metido cá os pés este ano. No ano passado também cá estive, movido pelo sexo e pela novidade. Afinal, era a primeira vez que o Salão Erótico visitava terras lusas! Mas, este ano, perdida a novidade, resta-me apenas o sexo. E sexo pelo sexo não me move. Sou preguiçoso. Se não tiver um móbil emocional, o sexo só pelo sexo cansa-me. Aborrece-me. Porém, sabendo que, se eu me cortasse, o mais provável era o Barrelas deixar de ir – “Mas vou lá fazer o quê sozinho?! Aquilo é fixe é se formos em grupo, p’rá galhofa!” –, lá decidi aceder. Só para lhe dar essa alegria. (Às vezes, sou mesmo coração mole.) No entanto, em jeito de protesto, cheguei atrasado. Duas horas. Prolonguei (propositadamente) um café com a bela Matie muito para lá do tolerável e deixei o pobre Barrelas à seca todo esse tempo. Não me orgulho do que fiz. Mas fi-lo. (Às vezes, sou mesmo sacana.) Todavia, ele recebe a minha justificação com o sorriso mais cândido do mundo: “‘Tá na boa; foi por uma boa causa.” Eu suspiro – é por estas e por outras que eu não podia dar o corte a este gajo. Ele é bom tipo. Não merece.

Mas vamos ao que interessa. Ao entrar no pavilhão, não consigo evitar sentir que fui defraudado. De facto, à primeira vista, o célebre Salão Erótico não causa grande impressão. Não passa de um conjunto disperso de stands que mal ocupa metade do enorme pavilhão (e este ano parece ainda mais pobre que o ano passado). Quem conhece a Feira Internacional de Artesanato, por exemplo, capaz de atestar vários pavilhões até se tornar impossível um gajo mexer-se lá dentro nas alturas de maior afluência, não pode deixar de se perguntar se o sexo realmente vende assim tanto quanto se afirma. Porque o Salão Erótico resume-se à presença de uma ou outra produtora e/ou distribuidora de filmes porno, um ou outro strip club, sex shops em barda (isto, sim, parece vender muito) e, finalmente, toda uma panóplia de outros serviços que gravitam à volta deste universo, como a associação Abraço, a Liga Portuguesa Contra a SIDA, um tatuador, um massagista e ainda as Publicações Europa-América (onde se pode adquirir – com desconto de feira – literatura especializada, com destaque para o recentemente publicado livro da pornstar Jenna Jameson!). Em suma, o Salão Erótico limita-se a oferecer o clássico: espectáculos de strip e table dance, sexo ao vivo, luta na lama (que de lama só tem o nome), exibições alternativas (de sexo gay man-on-man, sado-maso, essas coisas), audições para actores (nem queiram saber as vergonhas que certos gajos estão dispostos a passar em público), sessões de autógrafos com as estrelas e pouco mais. Quem cá vem para isto, não vem enganado. Mas quem, como eu, vem à espera de encontrar algo de inovador e inesperado, imaginativo e minimamente interessante, volta frustrado. Como é possível, pergunto eu, que um campo tão rico e cheio de potencialidades como o Sexo seja tão pobremente explorado? Estou a ver que ainda vou ter que ser eu a inovar...

A festa propriamente dita, quem a faz são as strippers e as pornstars. É mesmo só por elas que um gajo vai ao Salão. Para as ver lascivas e nuas, meneando provocadoramente as curvas em cima de um par de botas de salto pontiagudo bem alto, a trepar pelo varão acima (o varão de strip, meus amigos! Embora também haja disso, para quem não se importe de baixar as calcinhas em público), ou a lamberem-se umas às outras e a enfiar grandes dildos coloridos. É verdade que um gajo tem de lutar contra um mar de pervertidos rebarbados de máquina fotográfica em punho para, tal como eles (embora motivado por um sentimento puramente estético, bem entendido), conseguir imortalizar determinada peça coreográfica de elevado nível técnico na memória do cartão SD de 1 Gigabyte comprado de propósito para o evento (boa, Barrelas!); e é verdade que, com apenas uma fracção desse esforço, um gajo obtém fotos eróticas de muito maior qualidade na Internet; mas também é verdade que é qualquer coisa de electrizante estar na presença de verdadeiras profissionais na arte do Sexo & Sensualidade, vê-las actuar ao vivo e poder fazer-se fotografar abraçado a elas – a propósito, ainda guardo com devoção a foto que tirei com a sensual Gabi (strip clubs Passerelle e Photus) no ano passado. Caramba, que mulher tão bela (quanto badalhoca)!


Não consigo evitar pensar naquela gentalha mesquinha (e, certamente, invejosa) que afirma com raiva ser o circuito pornográfico degradante para o género feminino. Degradante! Pois nunca na minha vida vi o género feminino ser tão adorado, idolatrado, desejado e venerado como no Salão Erótico! Basta olhar a chusma de seguidores babosos e de olhos vidrados, ansiosos por satisfazer os mais absurdos caprichos de qualquer uma daquelas virtuosas senhoras por uma réstia da sua atenção. É isto o aviltamento do género?... Talvez o problema resida nas causas que as tornam adoradas. Mas haverá lá causa mais nobre do que ser fonte de prazer para o próximo? Muitos homens – se não todos – bem podem agradecer por aliviar a tomatada à conta do trabalho de tão abnegadas (e esforçadas) raparigas. É muito gajo feliz e isso é de aplaudir.

Eu admiro muito estas nobres mulheres. Contudo, não gasto (muito) tempo a admirar os seus corpos (guardo isso para quando quiser bater punhetas em casa). Mais que habituada a hipnotizar a assistência até ao embrutecimento com a nua opulência do seu corpo coleante está qualquer stripper ou pornstar. É o seu trabalho. Por isso, quando uma destas meninas se desnuda à minha frente, eu fixo os seus olhos. E garanto-lhe, caro leitor, que isso me faz distinguir do resto da carneirada embasbacada. Por muito inatingíveis que aparentem ser estas Deusas do Sexo, lá no íntimo, são sempre e apenas mulheres (com tudo aquilo que o género tem de bom e de mau), e mesmo a stripper ou a pornstar gosta de se sentir desejada por algo mais que a sua carne. Se os homens se deixam seduzir pelo físico, as mulheres deixam-se seduzir pelo sentimento. E os olhos são as janelas para o sentimento. No fundo, é como diziam, e bem, os Clawfinger: “If you want my body, than just make love to my mind.

Ao abandonar a FIL, sei que o melhor do Salão Erótico é isto: a constatação – e confirmação – de que girls will always be girls. Isso e as centenas de fotos que levo para casa.

0 Comentário(s):

Enviar um comentário

<< A Goela