domingo, julho 02, 2006

MEU PAR FAVORITO

Estou em Coimbra, de visita à minha querida prima Douradinha. Vamos à discoteca Via Latina e já passa das duas da manhã quando nos encontramos com a Ruiva (que já não é ruiva), vinda de propósito da Figueira da Foz, onde dá aulas de dança, para se juntar a nós na noitada. À entrada, o porteiro mira atentamente a Ruiva, vestida num estilo Hip-Hop Primavera/Verão 2006. “Hoje é noite africana,” avisa ele. Que é para não haver confusões. Ela sabe. Mas o gajo não parece muito convencido disso e olha para nós com ar de quem tem a certeza que estes três copinhos de leite vão enganados. Porém, ele já cumpriu mais que o seu dever, portanto, manda de lá os cartões de consumo e deixa-nos passar. No interior, a noite parece ainda não ter começado e apenas dois ou três pares se esfregam aqui e ali na pista de dança. Mas eu tenho duas meninas à minha conta e não posso deixar os meus créditos por mãos alheias. Portanto, deito mãos ao trabalho e danço alternadamente com ambas. No entanto, em breve recebo auxílio para esta tarefa. A concorrência numa discoteca africana é feroz e os pretos não têm qualquer pudor em catar as miúdas todas para dançar (até a sua, leitor!) antes que um tipo tenha tempo de perguntar se “a menina dança?”

Aprendi bem essa lição da primeira vez que estive numa discoteca africana (na memorável noite de 11 de Outubro de 2003). Fui ao En’ Clave, a convite da minha amiga Sarita e um grupo de amigos (e amigas) dela. Na altura, eu mal sabia dançar kizomba, não conhecia aquela gente e, para cúmulo, não tinha os dentes de Jacaré afiados como tenho hoje. Assim, passei metade da noite abancado. Era ver os pretos a sacar as miúdas todas mesmo nas minhas barbas. E, entretanto, eu criava raízes. Contudo, em vez de desanimar, aproveitei o ensejo para observar a concorrência a dançar. E aprender. Em pouco tempo, estava já a sacar as miúdas aos pretos e a dançar kizomba como eles! A Sarita e a sua irmã Susanita ficaram pasmadas com a incrível evolução da minha kizomba em apenas uma noite. E, para ser sincero, também eu fiquei. Isto só prova que um gajo nunca deve desanimar em situações desfavoráveis. Porque até as situações mais negras têm vantagens. Um homem inteligente só tem que as encontrar e tirar delas o máximo partido.

No presente caso, contudo, a concorrência é bem-vinda. Impossibilitado de dançar com a Ruiva e a Douradinha ao mesmo tempo (ou de me dividir em dois), até prefiro que, enquanto estou ocupado com uma das meninas, a outra dance com outros gajos, para não apanhar seca. Não obstante, a Douradinha não parece muito interessada em fazê-lo. “Há ali um gajo que só anda à roda, sempre para o mesmo lado,” diz ela, exasperada. “Estes tipos só querem é roça-roça, quase não se mexem do mesmo sítio.” Eu protesto: “Eu também roço-roço!” “Mas tu danças pelo salão todo, é muito mais divertido,” replica ela. A Ruiva concorda: “O modo de dançar deles faz-me lembrar as nossas kizombas no Andanças, mas aquelas do último dia, às tantas da madrugada, quando já mal nos aguentamos de pé, por causa do cansaço da semana toda, e queremos à viva força dançar só mais uma, mas estamos praticamente a dançar a dormir em pé!” “Ah, as nossas kizombas au ralenti!,” rio-me eu. E ela continua: “Por isso é que o centro da pista, onde tu danças,” e aponta para mim, “fica sempre vazio quando sais da pista – eles não o preenchem.” “Ah, mas isso é por respeitinho ao Jacaré,” contesto eu. “Em terra de jacarés, o Jacaré Voador é Rei.”

Não é que tenha a presunção de ser o melhor dançarino do mundo. Sei que sou bom dançarino (e tenho obrigação disso, pois já o faço há mais de 8 anos), mas sei também que mais importante que a técnica ou o roça-roça é o sentimento que se põe na dança. Quando danço, faço por oferecer um bom momento à mulher com quem estou. Quero, acima de tudo, que ela se divirta. E faço questão que saiba que, nesse momento, toda a minha atenção é dela. É daqui, sem dúvida, que advém o meu sucesso na pista de dança (e não só). Que depois me faz merecer elogios como este outro da bela Ruiva: “É mágico dançar contigo! Por isso é que és o meu par favorito!” E ela lá deve saber do que fala, já que é professora de dança. E, acima de tudo, é mulher. Ah, pois é.

1 Comentário(s):

A quinta-feira, 28 setembro, 2006, Anonymous Anónimo comentou:

Todas as noites ctg são magicas meu kerido! Não só por seres o melhor bailarino do mundo, mas tb, e não menos importante, por seres um grandeeeeeeeee Amigo! Gosto mt de ti!* Bjs da Ruiva

 

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