quarta-feira, março 31, 2004

O AMIGO DO INIMIGO

Recebo uma montanha de hate mail. É normal. São já habituais as acusações de porco-chauvinismo da parte de inúmeras senhoras pretensamente ultrajadas que, à falta de alguém que lhes preencha certo vazio interior, decidem gastar o seu tempo dedicando a mim as suas atenções. Contudo, desta vez, o caso é diferente. Desta vez, são os gajos que decidem desancar-me. Em massa, acusam-me de ter mudado abrupta e inexplicavelmente de assunto na entrada passada. Ameaçam que deixam de ler “A Goela”, caso eu insista em escrever sobre outro assunto que não... mulheres! Perguntam-me se perdi a pica. Se sou de pavio curto. E levantam dúvidas sobre as minhas inclinações sexuais: “Terrorismo?! Isso é coisa de paneleiro! Fala-nos mas é de gajas!”

Eu podia chatear-me. Pois então um homem não tem o direito de falar daquilo que bem lhe apetece? Sem que o venham ameaçar e vilipendiar no seu próprio território? Mas não. Não me chateio. Até os entendo. No universo estranho, falso e hostil que é este das relações com o género feminino, as lucubrações que expresso sobre o assunto são fachos de sabedoria, segurança e iluminação que os meus congéneres não podem (nem, pelos vistos, querem!) dispensar.

Compreendo-os. Há muitos anos atrás, era eu um jovem neófito nas relações com o género oposto, teria igualmente apreciado o acompanhamento espiritual de um guia sazonado, versado nos caminhos que, com curiosidade, mas às cegas, eu começava a trilhar. Contudo, não estava completamente sozinho. Contava com a amizade e experiência de um bom amigo, diplomado com distinção na Arte do Engate e, consequentemente, o maior engatatão que jamais conheci em toda a minha vida. Foi ele quem me ensinou a relacionar com enorme à-vontade com o género feminino. Infelizmente, não me ensinou a desenvolver e cultivar a auto-confiança ou a maturidade. Ou como me manter fiel ao Código de Honra que a minha visão das relações inter-pessoais e do mundo torna essencial. Isso aprendi-o eu às minhas custas, depois de muita cabeçada e muito trambolhão. E, apesar de, ocasionalmente, ainda dar algumas cabeçadas e trambolhões, considero-me hoje um veterano nesta lide. Concordantemente, a extensa experiência que me é atribuída em relação ao género feminino é, cada vez mais, procurada e apreciada. Em certos casos, até mesmo venerada.

Percebo porquê. Nunca tive muitas namoradas, é facto, mas tenho muitas amigas e, para os gajos, isso vai dar ao mesmo, porque não conseguem conceber que um tipo possa ter uma simples e boa amizade com uma rapariga sem algo mais pelo meio (normalmente, a sua pila). Obviamente, quanto mais discordo desse facto, pior é. Dizem-me, piscando o olho e dando-me cotoveladinhas: “Claaaro, ‘amiiigas’! A gente sabe como é que é – ‘amiiiiigas’!” E ilustram as suas insinuações com aquele gesto característico que a gente faz quando quer dar a entender que a natureza da amizade que um homem nutre por uma mulher passa sempre e necessariamente pela ponta do seu piço.

Não me chateia nada que assim pensem. Pelo contrário. Confesso ser com muito gosto que partilho a experiência de largos anos recolhida com os meus ávidos leitores. E com gosto maior recebo os seus aplausos e as suas mensagens de reconhecimento. Portanto, continuarei a publicar as minhas filosofias semanalmente, para quem as quiser ler. Mas não me tomem por trouxa! Não julguem que partilho a minha experiência porque sou apenas uma boa e abnegada alma. Saibam, meus amigos, que toda e qualquer informação que lhes possa transmitir lhes vale de pouco (senão mesmo de nada) enquanto não perceberem que só atinge verdadeiro sucesso nas relações com as mulheres, quem as compreende. E, para as compreender, é necessário ser amigo delas. Amigo a sério. Enquanto os homens por esse mundo afora continuarem a pensar com a pila e a comportar-se como os animais que são, podem até comê-las, mas jamais serão respeitados. Ou desejados.

... Ou amados. E morrerão sós.

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