terça-feira, março 16, 2004

A REJEIÇÃO É F*****

Espanto os meus amigos com a calma que revelo depois de terminada uma relação de mais de quatro anos. Em boa verdade, sinto tal paz e harmonia comigo mesmo, que eu próprio estou espantado! Contudo, esta reacção é justificada: a experiência adquirida no papel de terminado finalmente dá os seus frutos.

O segredo para sobreviver incólume a uma rejeição está todo na própria conduta durante a relação. Há que ser apaixonado, meigo, carinhoso e todas essas tretas que ela tanto gosta. Mas isso vem naturalmente quando um gajo ama. O que não vem naturalmente são outros valores: a sinceridade, a abertura ao diálogo, a compreensão, o sentido de justiça, a honestidade, a fidelidade, a amizade. E são esses os mais importantes a manter. Porque, quando a separação rebenta, a única coisa a que um gajo se pode agarrar é a uma consciência limpa. E, se possível, mais limpa que a dela. Porque, se um tipo tem a certeza que sempre foi correcto para com ela ao longo de toda a relação, pode serenamente deitar as culpas do seu insucesso para cima da candidata a ex: essa cabra ingrata é que se revelou incapaz de dar valor ao que um gajo tem para oferecer.

Depois, é procurar distância dela (tanto espacial como espiritualmente) e refazer a própria vida. Para isso, é bom que, durante a relação, o meu amigo se tenha dado ao trabalho de manter certos núcleos de interesse e amizade privados e de acesso interdito à parceira. Mas, atenção! Isto não significa, de modo algum, que se entregue à infidelidade para com a sua cara-metade – ou gosta da rapariga ou não e, se prefere andar com outras, ao menos tenha tomates para o assumir e vagar o lugar, que há mais quem queira papar a miúda e, com alguma sorte até, fazê-la feliz. Seja como for, e se a enganou durante a relação, bem merece que ela lhe ofereça um par de patins – quando não um par de cornos bem grandes!

O que eu tão-somente quero dizer é que é saudável ter uma vida para além da relação. Para si e mesmo para a própria relação, porque evita a saturação. Contrariamente, se resumir a sua vida à vida conjugal ou deixar a sua mais-que-tudo penetrar em toda e qualquer área da sua vida, prepare-se para sofrer angústias inomináveis quando ela lhe der com os pés e o meu amigo, moribundo e com um vazio sangrento no peito, procurar o apoio de amizades ou a distracção de actividades intocadas pela sua influência – a marca dela há-de estar em todo o lado, relembrando-o constantemente daquela que você procura esquecer e impedindo o restabelecimento do seu pobre coração despedaçado! Portanto, lembre-se: ame-a de todo o coração, mas mantenha o seu espaço privado. Porque é nele que vai procurar refúgio quando a sua relação terminar e o seu mundo desabar em ruínas.

Obviamente, toda esta conversa só faz sentido para o gajo idóneo, que tem uma consciência e se preocupa com os sentimentos das pessoas à sua volta. Para aquele que a não tem, o caminho é outro e muito mais fácil. Porque ele se está a cagar para a relação e para a namorada. A única coisa que lhe interessa é o seu... umbigo – o centro de todo o Universo. E até agradece que seja ela a terminar a relação, porque lhe evita o trabalho a ele. E o deixa livre. P’a papar todas as outras gajas que há por esse mundo afora. É este gajo, aliás, quem anda a comê-las a todas! Se elas deixam? Elas gostam! Afinal, o tipo domina! É ele que é o alpha male! O gajo bonzinho, com todos os seus princípios, é tão correcto que nunca come ninguém! É otário. É fraco. E a sua fraqueza advém precisamente do facto de valorizar os sentimentos dos outros. Isso torna-o incapaz de encarar uma rapariga como um bocado de carne. É por essa razão que ele está condenado a uma vida de rejeição. E, para ele, escrevo estas linhas. Para saber que não está sozinho.

Na selva, sim. E entregue à bicharada. Mas não sozinho.

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