quinta-feira, março 25, 2004

A SOLUÇÃO ORIGINAL

Hoje não me apetece falar de raparigas. Apetece-me falar de um assunto mais leve. Vou falar de terrorismo, que é o que está na ordem do dia.

Basta ligar a televisão. Somos constante e impiedosamente bombardeados com as mais recentes notícias sobre o assunto. Temos acesso ao ódio, à violência, à dor, ao sofrimento, à indignação, à raiva, ao sangue. Tudo ao mesmo tempo. Em directo. Para mim, terrorismo é isto: a cultura do medo. Um medo ansioso e abstracto. Contra um inimigo estranho e incompreensível. De que só as barbas conhecemos. Para as massas ignaras, contudo, é tudo o que basta. É preciso é dar um rosto ao inimigo, para o podermos odiar. Já o dizia George Orwell, no seu excelente “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” (o verdadeiro Big Brother; leiam!).

No Canal 1, José Rodrigues dos Santos informa que Mário Soares, antigo Presidente da República deste nosso cantinho à beira-mar plantado, sugere o diálogo com a Al-Qaeda como forma de, promovendo o entendimento entre os envolvidos, evitar o terrorismo. O caríssimo José classifica a proposta como “uma solução original.”

Uma solução original?... Não me queiram fazer crer que ainda não se tinham lembrado dessa alternativa! “Ena! Podemos... falar com eles?! Que ideia tão... pioneira! Nunca me teria passado pela cabeça! Bem lembrado, Mário!” Posso ser ingénuo, mas não tanto. Se o diálogo, ferramenta essencial para o entendimento entre as pessoas, é considerado “uma solução original” para a resolução do problema em causa, significa que a nossa sociedade ocidental, tão moderna e esclarecida, considera que há determinadas pessoas com as quais é escusado, se não mesmo despropositado, procurar essa via de compreensão. Ou seja, só à lei da bala é que se comunica com essa gente. Bela posição, não haja dúvida. Assim sendo, não me admira que hajam facções que recorram ao terrorismo como forma de se fazer ouvir. Nem me admira que a situação esteja tão negra como no-la pintam. E nem sequer vou achar estranho quando piorar.

Numa escala diferente, a problemática do terrorismo assemelha-se à da criança mal comportada, que faz diabruras só p’a chatear. A criança apenas deseja que lhe seja dada atenção. Infelizmente, como não sabe comunicar positivamente, fá-lo de maneiras negativas. A culpa não é necessariamente dela, mas sim da formação que teve, que foi ineficaz no sentido de lhe ensinar maneiras positivas de comunicar os seus sentimentos negativos. E a solução, caros amigos, nunca passa pela estalada, mas sim pelo diálogo e pela compreensão. E doses industriais de paciência.

Tão inteligentes que somos e ainda não percebemos que “é a falar que a gente se entende.” E estas palavras nem sequer são minhas; pertencem ao senso comum! Algo que, supostamente, toda a gente possui.

É por coisas destas que eu acredito que a raça humana está destinada à extinção. O homem tem medo do próprio homem. Vamos acabar por nos devorar uns aos outros. Até o último de nós morrer de indigestão.

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